Do Gaudêncio Torquato em suas Porandubas Políticas:
"Durante a campanha pelas Diretas Já, em 1983/84, o jornal Folha de S.Paulo transformou o assunto em sua bandeira, até com uma fitinha verde-amarela no alto da primeira página. Noticiário e editoriais davam como garantida a vitória da emenda que devolvia ao país as eleições diretas para presidente da República, depois de 20 anos de ditadura - a emenda Dante de Oliveira.
O jornal cantava a vitória e abria fotos do povo nas praças. A contagem a favor só crescia. Seu concorrente o Estado de S. Paulo era mais sóbrio e cauteloso e tinha lá seus motivos. Um deles, um informante especial em Brasília. Ao ser questionado sobre a contagem da Folha, que dava mais de cem votos a favor da emenda, o informante deu uma boa risada ao telefone e completou assim a conversa :
– Meu filho, fique tranquilo, eles não sabem contar.
Era Tancredo Neves."
José Valdetário Benevides, o assaltante Valdetário Carneiro temido no Nordeste que foi tema de trabalhos acadêmicos, documentários, do programa "Linha Direta" da Globo e inspirou o livro "Valdetário Carneiro, a Essência da Bala", escrito pelos jornalistas Rafael Barbosa, Themis Lima e Paulo Nascimento, é o protagonista do seguinte "causo" contado por Gaudêncio Torquato em suas Porandubas Políticas:
"O lendário Valdetário Carneiro contribuiu para os causos de Caraúbas/RN.
Ia ele em sua pick up na zona rural de Apodi. Próximo à cidade, um senhor meio alquebrado pelos anos acenou pedindo carona. Valdetário prontamente o atendeu, abrindo a porta. Já aboletado e no conforto do ar condicionado, começou a puxar conversa:
– O senhor vai pro Apodí ?
– Vou sim -, respondeu Valdetário, vou tratar de negócios no banco.
O carona resolveu dar uma de conselheiro:
– O senhor tenha cuidado. Se vai tirar dinheiro no banco e andando nesse carrão, aqui por essas bandas, tenha cuidado pois há gente perigosa por aí. Tem um tal de Valdetário Carneiro, homem de muita fama que pode ser um grande risco, principalmente pra quem é de fora.
Valdetário riu da situação e até agradeceu:
– Obrigado, eu vou ficar atento.
Em seguida devolveu a pergunta:
– E o senhor não tem medo de estar sozinho nessa beira de estrada? E se de repente lhe aparece o tal do Valdetário Carneiro?
– Ele que venha - completou o carona com valentia de quem se sente em confortável distância do perigo. E acrescentou: '– Um homem nasceu pro outro.'
Chegados ao destino, o carona já ia descendo quando resolveu fazer mais uma pergunta.
– Obrigado por tudo, senhor. Vá com Deus. Mas como é mesmo o seu nome?
Com toda naturalidade Valdetário respondeu:
– Eu sou Valdetário Carneiro. E o senhor como se chama ?
Branco como algodão, suando pelos poros, com as pernas trêmulas e a voz embargada, o carona mal conseguiu balbuciar:
– Eu sou o finado Manoel."
Do Gaudêncio Torquato em suas Porandubas Políticas:
"Dinarte Mariz (UDN) era governador do Rio Grande do Norte. Em uma de suas costumeiras visitas à Caicó, visitou a feira da cidade, acompanhado da sempre presente Dona Nani, secretária de absoluta confiança. Dá de cara com um amigo de infância e logo pergunta :
– 'Como vai, Zé Pequeno?'
O amigo, meio tristonho e cerimonioso, responde:
– 'Governador, o negócio não tá fácil; são oito filhos mais a mulher... tá difícil alimentar essa tropa vivendo de biscate. Mas vou levando até Deus permitir.'
O velho Dinarte o interrompe de pronto :
– 'Zé, que é isso, homem, deixe essa história de governador de lado. Sou seu amigo de infância, sou o Didi!'
Vira-se para Dona Nani e ordena:
– 'Anote o nome do Zé Pequeno e o nomeie para o cargo de professor do Estado.'
Na segunda-feira, logo no início do expediente, Dona Nani entra na sala de Dinarte e vai logo informando:
– 'Governador, temos um problema, o Zé Pequeno, seu amigo, é analfabeto; como podemos nomear...'
Antes que concluísse a fala, o governador atalha:
– 'Virge Maria, Dona Nani! O Rio Grande do Norte não pode ter um professor analfabeto. Aposente o homem imediatamente.'
E assim foi feito!"
As imagens acima retratam Campo Grande no início da década de 1950 e fazem parte de uma coleção de postais leiloada no ano passado em São Paulo, enviadas pelo professor Hugo Segawa, da USP, ao arquiteto e professor da UFMS, Ângelo Arruda. À esquerda, a igreja de Santo Antônio em frente à Rua 26 de Agosto (a primeira rua da cidade) e à direita um "busão" da época passando em frente ao antigo Hotel Americano, na esquina das ruas 14 de Julho e Marachel Rondon (antiga I-juca Pirama). Veja mais aqui no perfil do Ângelo no Facebook.