Silenciou hoje uma das vozes mais marcantes da história do rádio brasileiro, que também fez sucesso na TV. Morreu aos 78 anos o cronista policial Gil Gomes, na capital paulista, depois de passar mal e ser levado na noite anterior para o pronto-socorro do Hospital São Paulo. Ele enfrentava há alguns anos o Mal de Parkinson e faleceu em decorrência de um câncer.
Nascido na Moóca, bairro de imigrantes italianos, o paulistano Cândido Gil Gomes Júnior imitava locutores esportivos para superar a gagueira na adolescência e aos 18 anos começou a trabalhar nos esportes no rádio, quando não pensava em cobrir crimes. "Polícia sempre me cheirara a coisa de mundo cão", disse em entrevista à Folha de S.Paulo em 2008.
O ingresso no "mundo cão" ocorreu em 1968, na Rádio Marconi, onde fazia reportagens de temas variados e fez sucesso ao cobrir, ao vivo, um caso de agressão sexual ocorrido no prédio onde trabalhava. A partir daí daí criou seu estilo que fez história na crônica policial brasileira.
Nos anos de 1970 e 1980, foi líder absoluto de audiência no horário das manhãs no rádio onde saudava os ouvintes com seu bordão: "Gil Gomes lhes diz: bom dia!" Sua equipe levantantava detalhes sobre vítimas e criminosos e ele narrava a história dessas pessoas desde a infância em suas cidades de origem, seus sonhos de vencer em São Paulo, e as tragédias em que se envolviam na grande metrópole, transformando a notícia em um folhetim diário de estilo único na crônica policial.
Nos anos 90, Gil Gomes passou a ser conhecido em todo o Brasil pela TV ao integrar o "Aqui Agora", programa de notícias populares lançado pelo SBT. Manteve na telinha a entonação de suspense que criou no rádio. Sua imagem, até então desconhecida do público do rádio que só ouvia sua voz, virou caricata com um circulando as mãos ao narrar as histórias e usando camisas com estampas coloridas, deixando a crônica policial na TV mais descontraída. Por causa desse novo estilo, com fim do "Aqui e Agora", em 1999 chegou a participar do programa humorístico Escola do Barulho, na Record, e foi imitado por humoristas de várias emissoras.
Gil Gomes teve de deixar o trabalho por problemas relacionados ao Mal de Parkinson, diagnosticado em 2005. Em 2016, chegou a voltar à TV, como comentarista do programa Boa Noite Bom Dia, que ia ao ar de madrugada na RedeTV! e na Gazeta. Na época, chegou a declarar em entrevista: "A impressão que eu tenho é de que estou renascendo. Vou dar de tudo para que dê certo. Agora tenho certeza de que vou trabalhar até morrer".