Por Joe William(*)
A vitória de Dilma Rousseff de goleada num primeiro turno em cima José Serra nas eleições de 2010 parecia bastante positiva para Ricardo Teixeira. Era a sucessora de seu “companheiro” Lula. Logo, manteria no Palácio da Alvorada, residência oficial para receber os íntimos do poder, mesmo que precisasse do intermédio do ex-presidente, um porto seguro nos momentos difíceis.
Mas não foi o que aconteceu.
Pelo contrário.
A presidenta que, por exemplo, jamais aceitou se reunir com o Barão da Bola, em momento algum demonstrou a mínima simpatia por Teixeira. E fez questão de escancarar isso. No caríssimo evento de sorteio das eliminatórias para a Copa, em julho do ano passado, ela se fez questão de ficar distante do cartolão. Quando sentados à assistir a cerimônia, Dilma manteve Pelé sentado entre dois (foto). No momento de todos subirem ao palco, Teixeira mais uma vez foi deixado pra trás. E permaceu lá embaixo, como um convidado qualquer.
Sem força com Dilma e também na Fifa, depois de ter rompido com Joseph Blatter, que de aliado passou à desafeto, Ricardo Teixeira iria ficar cada vez mais frágil na cena política.
Mas, um mês antes do fatídico evento no Rio, a Revista Piauí havia publicado a marcante entrevista concedida por Teixeira, que se expôs de tal forma como nunca fizera antes. Provavelmente por, como sempre, se sentir todo poderoso, só que ainda mais que antes, já naquele momento, além de “dono” do futebol brasileiro, era também "dono" da Copa de 2014.
Entre outras inúmeras ratas, afirmou que "cagava de montão" para as infinitas denúncias contra sua pessoa. E só se preocuparia quando algo sobre ele saísse no Jornal Nacional, da emissora líder, já que, fez questão de dizer, a emissora mais desafeta à ele, a ESPN Brasil, "dava traço" de audiência.
Mas o ponto chave da entrevista foi quando vociferou... “em 2014 posso fazer a maldade que for. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada! Sabe por quê? Porque eu saio em 2015. E aí acabou!".
Sentindo-se tão confortável em seu “trono”, Teixeira errou a mão no diálogo. Talvez não fosse esse erro de cálculo, estivesse ainda, firme, no poder. A impressão que se têm é que a presidente Dilma Rousseff não gostou nenhum pouco daquelas declarações.
De lá pra cá o clamor popular por sua saída da CBF e do COL só ganharam força. Inúmeras denúncias não paravam de pipocar por todos os lados.
Até o Jornal Nacional, da sua sempre tão amável Globo (quem diria) entrou na roda, noticiando, até que um dia, a investigação sobre o obscuro amistoso Brasil x Portugal, em 2009, quando a empresa responsável pela realização do jogo, Ailanto Marketing, do atual presidente do Barcelona e velho comparsa de Teixeira, Sandro Rossell, teria desviado parte dos nove milhões de reais financiados pelo governo do Distrito Federal.
Com a derrocada cada vez mais iminente, Teixeira usou de suas velhas artimanhas. Primeiro nomeou seu então desafeto Ronaldo, o fenomenal, como homem forte no COL. O “escudo midiático” não teve o efeito esperado.
Quando a lona do circo era combustível de fogo que só fazia crescer, curiosamente, passou a sofrer constantes problemas de saúde. Sem refúgio, Teixeira continuou exposto. E cada vez mais isolado, principalmente devido à doença de Lula.
Até que, agora, há pouco mais de dois anos da Copa do Mundo, o que seria seu “ápice” e trampolim para uma tão sonhada candidatura à sucessão de Blatter no comando da Fifa em 2015, Ricardo Terra Teixeira, dias depois de se mandar para EUA alegando licença médica, renuncia ao comando da CBF e do COL, abdicando de 23 anos de reinado absoluto e incontestável no futebol nacional.
Uma clara e evidente vitória do governo Dilma Rousseff. E também [por que não?] do povo. O dia 12 de março de 2012 ficará marcado como o fim de uma obscura era do futebol brasileiro.
Com discurso de dar continuidade à gestão atual, o novo poderoso chefão, José Maria Marin, não traz muitas esperanças de dias melhores. Só a alternância no poder já se faz positiva, mas só o tempo dirá se teremos primazias “visíveis”.
O fim da era Ricardo Texeira somada às benesses que a Copa do Mundo proporcionará é o grande momento para os clubes se unirem novamente em busca de uma "europeização" da gestão do futebol. E também em aversão às federações estaduais que já se articulam em busca do poder.
É a grande, talvez única, chance para isso.
E não pode ser desperdiçada!
(*Joe William é articulista do PAPO DE ARQUIBANCADA)