Xô, temor servil! Maria Angela Mirault (*)

Xô, temor servil!

Ei, você! A-c-o-r-d-e! Soaram as trombetas, tocou o despertador, cara-pálida; o torpor da ressaca acabou; o que tinha de ser roubado já foi; Barbosão jogou a toalha, os mensaleiros subiram na mesa; o mundo está em chamas e sem fronteiras; a boiada já foi pro brejo.  
 
Pelamor-de-deus, acorde, tire o amor da chuteira, já. Acorde, pois, o Brasil está na UTI, sobrevivendo à custa de aparelhos, sem escolas, sem saúde e muito sem educação. É hora do lusco-fusco, de entressafra, de mula-sem-cabeça, do Armageddon, quando todo o cuidado é pouco. Lobos em peles de cordeiros já nos farejam e estão em nossa caça, com suas vozes melosas e arrastadas, bolsos recheados com merrecas de reais, dotados do mesmo velho vício de nos anunciar suas maravilhas, de nos comprar  e de  se vender, porque - é bom demais, para eles, manterem-se no poder - a gente é facinha e baratinha demais. Em todas as eleições, prostituímos as urnas e, depois, é  muita decepção. Não vale a pena, já vimos esse filme, até na sessão da tarde.
 
Logo-logo milhares de criaturas - a nossa semelhanças - zumbizando, sairão de seus covis e, com suas fotos sorridentes e muito fotoshoping estarão inundando nossas ruas, nos outdoors, santinhos e promessas vãs, querendo confundir-nos, dizendo que fez o que não fez e que não fez o que fez. É hora de lançarmos mão da sabedoria milenar de separar o joio do trigo, pois muita gente decente e ficha limpa estará, civicamente, colocando suas vidas e suas caras a tapas e oferecendo uma nova via mais digna.
 
A largada já foi dada. Estamos prestes a mais uma refrega com vistas às eleições majoritárias, em todo nosso país. As cartas já estão marcadas, os candidatos escolhidos ou impostos pelas centenas de milhares de siglas partidárias, referendadas pelo TRE. Não tem mais essa de esquerda, centro, ou direita; está tudo misturado - a maior torre de babel - numa verdadeira orgia cívica. Quem é quem; quem está com quem; quem é oposição, quem é situação? Cai fora disso; não existe mais ideologia de partido. Esse papo já era.
 
Porém... Porém, esta será a primeira eleição alavancada pelas - cada vez mais - surpreendentes inovações tecnológicas na circulação e propagação da informação. Vivemos a era tão propalada por George Orwell, em sua obra 1984, escrita em 1938; a era do big brother – não o da Globo - real, do nosso dia-a-dia, do tempo e do lugar em que todos nos mantemos online. Copiou? Estas eleições serão totalmente diferentes das anteriores, é bom saber. Os verbos comprar e roubar não poderão ser conjugados com tanta eficiência e facilidade, como antes; vai que alguém registra? As classes A, B, C, D, E, F... Z foram dotados de celulares comprados-nas-casas-bahia e todo celular pode baixar um whatsApp qualquer e se comunicar, gratuitamente; o instagran leva qualquer registro imediato paras redes sociais em tempo real; o face é o maior mural de egos do mundo, blogs se atualizam a cada minuto. George Orwell profetizava a existência de uma tela em cada lugar, pelas quais, todos se vigiavam mutuamente em nome do partido, a mando do grande-irmão; em uma Eurásia dominada e mantida com a prática diária obrigatória do minuto do ódio incentivando a delação.   
 
Relações e emoções eram proibidas, punidas, e tudo, absolutamente, tudo era passível de ser visto, denunciado, enquanto uma novilíngua alterava significados considerados importantes pelo partido. Mas, bastou um ressurgente, em terra de cegos, para fazer valer toda a obra e desvario da narrativa de Orwell.
 
Contudo, neste momento cívico, decisivo para nossa história, para história do homem na face da terra, para a história do mundo e, quiçá, sobrevivência da espécie humana é de vital importância não nos acovardarmos. Seja onde quer que estejamos, façamos valer a nossa presença nesse mundo, aqui e agora. Todos somos capazes de influenciar alguém, desde que estejamos motivados. Já pensou na importância da nossa ação dia 5 de outubro? Já se imaginou agente de transformação? É preciso, antes de tudo, que a gente se creia capaz de melhorar o mundo, a realidade tão cruel em que estamos, normoticamente, sobrevivendo. Nós podemos combater tudo que nos aflige: a violência - no trânsito, nas ruas, em nossas casas, nas escolas e portas dos hospitais – a impunidade, a corrupção. Somos responsáveis pelo que nos acontece e nossa presença – e importância - em um mundo em chamas é valiosíssima pra ser abdicada, neste momento tão especial. De um em um, todos nós podemos aderir e lutar pela verdade, pela clareza, pelo despertar da festa; difundir uma campanha que nos faça assumir nossas culpas e nossas responsabilidades cidadãs com relação ao futuro da nação.  
 
Posicionemo-nos, flagrante e ostensivamente, contra o voto nulo e o voto em branco, busquemos os indecisos. Já pensou 4 anos de um governante eleito com a maioria dos votos válidos? Exemplificando: de um universo de 100, 80 anule, válidos sobram 20. Ou seja, o candidato com 11, ganha o seu mandato à custa dos votos dos famigerados indecisos, dos alienados, dos omissos e dos vendidos!
 
Será o nosso voto consciente, inalienável, sim - esse é moeda de troca de valor, mas, sem preço – que nos trará a riqueza de um país melhor para nossos filhos e netos. Façamos com a nossa maciça presença nas urnas, fazer valer a nossa voz em um único e uníssono clamor capaz de balançar a terra, fazer a lua tremer e o Sol se iluminar em 4ª. Grandeza, com nossa pujança e amor à Pátria brasileira. Com garra, assumamos o nosso lugar na vida, no mundo e no futuro do país. Não podemos nos dar ao luxo de estarmos indecisos, agora.
 
Sobretudo, não reelejamos ninguém que nãos nos tenha bem representado em seus mandatos, estes, já tiveram a sua chance e fracassaram, mas, foram parar lá porque lá os colocamos, com nosso voto, com nossa omissão, com nossa indecisão. Façamos política, visto que políticos todos o somos. Façamos política em nossas discussões e pontos de vista em casa, no trabalho, na rua, nas associações, nas igrejas, no ponto de ônibus, na escola, na repartição. Mudemos esse país, chega de brincadeira, da palhaçada da pátria-de-chuteiras. Xô temor servil, ou ficar a pátria livre, ou, morrer pelo Brasil.
 
(*Maria Angela Coelho Mirault, residente em Campo Grande MS, é professora e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP mariaangela.mirault@gmail.com)


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Postado por: Maria Angela Mirault (*), 20 Julho 2014 às 12:20 - em: Falando Nisso


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