Vaias conscientes: recado dado! Luana Ruiz Silva (*)

Vaias conscientes: recado dado!

Foi publicado na Folha de São Paulo de 03 de maio de 2013 artigo da ex-senadora Marina Silva intitulado “Vaia ensaiada”, no qual ela comenta o episódio ocorrido em Campo Grande quando a presidente Dilma foi vaiada por ruralistas em Mato Grosso do Sul que protestavam contra a demarcação de terra indígena no Estado.

A ex-senadora vai além, e conclui que o governo não demarcou nenhuma terra indígena em MS, apenas publicou, no início do ano, a identificação (etapa preliminar, distante da homologação) de uma área guarani-kaiowá.

Ex-senadora,  aplaudo e compartilho de sua irresignação diante movimentos, vaias e berros que pregam o injusto embate à concretização do direito territorial indígena consagrado pela Constituição Federal. Reconheço que o Estado não pode se omitir diante massacres e atrocidades contra os povos indígenas.

Sou ruralista, filha, neta, bisneta de produtores rurais, passei minha infância na fazenda correndo de pés descalços, me reconheço enquanto pecuarista, com muita honra e dignidade, e dependo do meu trabalho para garantir minha subsistência. Não tenho uma vida mansa, nem fácil, mas lhe admiro pois nada mansa e nada fácil acredito ter sido a vida no Breu Velho, no seringal Bagaço, no Acre.

Assim, prezada Marina Silva, nossas convicções, anseios, sonhos e realidades, minhas e suas, trazem arraigadas as trajetórias que traçamos em nossas vidas.

No entanto, a senhora, como legítima representante da sociedade que foi nos mandatos que assumiu, há de buscar informações concretas, conhecimento fático e sabedoria material para que possa, alheia aos juízos de valores íntimos e subjetivos, criticar com legitimidade a luta de cidadãos brasileiros honestos, honrados e dignos como são todos os sul-mato-grossenses e paranaenses que vaiaram a Presidente Dilma em Campo Grande no ultimo dia 29 de abril.

A senhora se equivocou, Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima, pois as vaias não são contra as demarcações de terras indígenas e muito menos contra os cidadãos brasileiros indígenas que merecem, e tem, o respeito da classe produtora deste país.

As vaias foram contra a criação, a invenção de supostas terras indígenas que surgem como num passo de mágica diante os abusos, as ilegalidades e as mentiras da FUNAI. As vaias foram, e continuarão sendo, em alto e bom som, contra o CONFISCO de propriedades privadas legalmente e legitimamente TITULADAS pelo Poder Público, COMPRADAS com o fruto do suor dos homens e mulheres do campo, que assim como os seringueiros nos seringais, deram a vida para construir um patrimônio, para proteger a família, para alimentar os filhos, para garantir-lhes boa moradia e educação, e para que pudessem vir a ser doutores, deputados, ministros e, quiçá, senadores da República.

Os produtores rurais que vaiam a política indigenista caótica que se estabeleceu no Brasil, vaiam também o abandono e o descaso com os irmãos indígenas, pois mesmo aqueles que tiveram “suas” terras demarcadas, passam fome e frio, estão doentes do corpo e da alma, enfrentam o descaso e a humilhação de não poderem ser donos das suas vontades, da casa que moram e do chão que pisam.

A senhora que no início de sua carreira política ingressou no Partido Revolucionário Comunista (PRC), organização marxista que se abrigava no Partido dos Trabalhadores, então sob o comando do deputado José Genoíno, se equivocou mais uma vez quando disse que o governo não demarcou nenhuma terra indígena em MS.

O Estado do Mato Grosso do Sul conta com seis áreas reservadas somando 20.254 hectares, quatorze áreas registradas somando 568.077 hectares, sete áreas homologadas somando 32.528 hectares, oito áreas declaradas somando 102.613 hectares, três áreas identificadas somando 62.371 hectares e sete áreas à identificar sendo que três dessas áreas somam 9.635 hectares e as demais ainda não tem área definida. Até aqui são 45 áreas com total de 795.478,0000 hectares.

Temos ainda setenta e duas supostas terras indígenas sem providência e mais trinta e seis supostas terras indígenas (tekoha) em seis bacias tekohaguasu imaginados pelo CAC do MPF), impactando vinte e sete municípios no sul do estado.

As terras no Mato Grosso do Sul não são terras indígenas, nem nunca foram. A povoação Guaranítica se deu em razão das migrações desses indígenas que vinham de Caaguazú (centro do mundo) no Paraguai em busca das “terras sem mal”, tendo a região sul do Mato Grosso do Sul como mero “corredor de passagem” como elucidou Curt Nimuendajú, e como muito bem verificou Genésio Pimentel Barbosa quando chefe do Serviço de Proteção ao Índio- SPI, na década de 20.

Os produtores rurais desta Nação não vão aceitar a falácia de serem ardilosamente apontados como os vilões da história. Não são. Nunca foram.

Então, quem quer que seja, independentemente dos sofrimentos e percalços que enfrentou, independentemente da altura dos degraus que teve de escalar, e do nível do topo que alcançou, está desautorizado pela ética e pela moral, a defender um discurso maniqueísta equivocado no qual o homem do campo é de todo mau e o indígena é de todo bom em razão das consequências do processo de colonização que permitiu que este chão lusitano se tornasse VERDE E AMARELO.

(*Luana Ruiz Silva é advogada, produtora rural e vice-presidente da Comissão de Assuntos Agrários da OAB-MS)



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Postado por: Luana Ruiz Silva (*), 04 Maio 2013 às 22:40 - em: Falando Nisso


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