Unir as pontas Heitor Freire (*)

Unir as pontas

Nossas atitudes ao longo do tempo acabam ensejando, muitas vezes, distanciamentos que se expandem e podem se tornar incrustados e de tal maneira concentrados que dificultam o retorno a uma relação cordial. 
 
A humanidade está de tal forma desumana e cruel que está precisando de uma volta às origens, para uma reconciliação, e isso só vai acontecer a partir do momento que a maioria se conscientizar da importância de cumprir  uma atitude elementar que Jesus ensinou: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”.
 
Esse conselho, a princípio tão simples e banal, tem sido repetido automaticamente, mas sem provocar uma ação consequente. Ficamos só na repetição verbal sem despertar o sentimento no coração.
 
Esse comportamento acabou gerando pontas que se distanciam e permanecem cada vez mais dispersas. Com isso, fica muito difícil unir as pontas da vida familiar, social, mental, filosófica, política, espiritual e consciencial. 
 
Os interesses estão prevalecendo cada vez mais em detrimento dos princípios. A coisa está tão poluída que poucos estão percebendo que existem princípios – as normas de conduta que regem os atos da vida individual e consciente que norteiam nossas ações –, e assim   as atitudes são conduzidas pelos interesses dominantes, variando de acordo com o que predomina no momento, ao sabor do vento.  
 
É preciso entender que as pontas que se distanciam para a esquerda, para a direita, para cima, para baixo, devem voltar ao centro, buscando o que ensinou o Baghavad Gita, há milênios, “o dourado, sagrado e abençoado caminho do meio”.
 
Se for despertada a consciência para essa ação, devemos tomar cuidado para que a união das pontas não se transforme num nó. E dessa maneira acabe se tornando um problema ainda maior.
 
Os nós existem na vida de todos. Eles devem ser desatados, e não cortados ou rompidos. Isso exige paciência e dedicação, mas o resultado compensa. Alexandre Magno, conhecido como Alexandre, o Grande, da Macedônia, um dos maiores generais de todos os tempos, no auge de seu poder, se viu levado à frente do Nó Górdio. Dizia-se que quem desatasse o nó, conquistaria a Ásia. Ele, após olhar de todas as formas, tomou a espada e cortou o nó. Conquistou a Ásia, mas morreu aos 33 anos, antes de efetivamente vivenciar todo o poder que conquistou. O nó, em nossas vidas tem de ser desatado; se for cortado voltará de novo, sob outra forma.
 
O filósofo alemão Friederich Hegel, em sua obra Fenomenologia do Espírito, abordou de forma extensa e profunda a questão fundamental  da própria existência, e postulou a busca da consciência como um fator fundamental de autoconhecimento. Ele escreveu: “ A consciência-de-si é em si e para si quando e porque é em si e para si para uma outra, quer dizer, só é como algo reconhecido”
 
Trata-se de uma obra complexa em que Hegel filosofa sobre a formação da consciência. O centro da argumentação é a relação entre o mecanismo de apreensão da realidade e a própria realidade. 
 
Hegel, ao conceber a relação de movimento entre consciência e concepção da realidade, influenciou toda uma geração que veio depois dele, de humanistas principalmente (que levam em conta diferentes realidades). A quem quiser se aprofundar no tema, sugiro que leia a obra completa. Aqui se pretende apenas uma referência a voo de pássaro.
 
Nestes tempos em que tanto se fala sobre bactérias, vírus, etc. não se percebeu ainda que um inimigo invisível ainda mais destruidor que atua, desde sempre, causando destruição em massa por onde passa:  o medo.
 
O medo paralisa a pessoa que se vê tolhida, insegura.  Ele é muitas vezes considerado necessário e útil, mas pode ter um efeito devastador, que decorre do desconhecimento da verdade básica, a presença de Deus, em tudo e em todos e de que nada acontece por acaso, tudo tem uma causa anterior e um efeito posterior consequente.
 
O medo acaba afastando ainda mais as pontas em direção aos  extremos. O trabalho de unir as pontas é demorado, extenso e complexo. Exige paciência e dedicação constante, mas vale a pena pelo resultado compensador no tempo e no espaço.
 
(*Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)


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Postado por: Heitor Freire (*), 08 Outubro 2022 às 07:50 - em: Falando Nisso


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