Sérgio Longen (*)
Uma eleição de desafios
Os prefeitos que estão celebrando a vitória de ontem nas urnas devem diminuir o ritmo de comemoração nos próximos dias, à medida que se derem conta de como está o caixa e as contas das prefeituras que vão assumir. Não me refiro a um município em específico. A leitura que faço é de um modo geral nas prefeituras brasileiras, muitas já declararam que não têm como honrar por exemplo, o pagamento do 13º ao funcionalismo.
Ao fim dessa eleição, nas cidades onde tudo foi consumado em primeiro turno, o maior desafio dos novos prefeitos será colaborar e remar no mesmo sentido do crescimento do País. Não vale a pena se discutir políticas de desenvolvimento, ações na economia, reformas ministeriais, se, na base a coisa anda para outro lado. A base do tripé deve estar calçada em três pilares: gerar emprego, atrair investimentos e aquecer o comércio. Na teoria, isso parece bastante simples, porém, na prática, a realidade assusta e desanima.
O Brasil acaba de bater um recorde histórico em desemprego. São 11,8% de desempregados no trimestre encerrado em agosto desse ano, ou seja, o número de desocupados no País chegou a 12 milhões, segundo o IBGE. Quero lembrar que essas pessoas estão espalhadas pelos municípios que ganharam novos prefeitos ontem. Não se pode esconder isso, fazer ouvidos moucos ou estar vendado a essa realidade. Em contrapartida, não há outra solução senão rever as contas e os gastos públicos municipais, apertar os cintos e criar alternativas que gerem empregos.
A palavra que define tudo isso é uma só: Desafio. O desafio de atrair investimento aos municípios. Para isso, há de se conhecer a vocação da cidade, o que ela pode produzir, o que ela pode gerar. O resto é consequência, desde que bem planejada, claro. Os dividendos gerados com isso são a geração de novos postos, aquecimento do comércio, volta do consumo, circulação de riqueza entre muitas outras coisas. Vale lembrar que para isso, estrategicamente o prefeito acaba abrindo mão de algumas coisas inicialmente, como a renúncia a receitas.
Eu não gosto da palavra renúncia por que dá a impressão que isso nunca voltará ao município, o que não é verdade. Prefiro o termo adiamento de receita, já que ele abre mão agora, atrai investimentos e isso volta inevitavelmente de uma forma muito mais saudável ao caixa da prefeitura com essa receitinha que vimos acima. Repito que na teoria tudo é muito simples, na prática são ações de vontade exclusivamente políticas.
Todos os neófitos prefeitos chegam com energia renovada, até mesmo aqueles que foram reconduzidos ao cargo, e aí mora um perigo muito grande de meter os pés pelas mãos, como diria um amigo meu. Normalmente as ações iniciais, as primeiras medidas tomadas por um prefeito novo, se não bem planejadas, acabam desencadeando problemas que vão perseguir toda gestão. Por isso, há de se pensar bem no que é mais importante para o município.
Falar em saúde, educação e infraestrutura é da mais alta importância para o cidadão, mas, sejamos sinceros, não adianta prometer nenhuma mudança radical nessas áreas se a prefeitura estiver à beira da falência. Nesse aspecto, a única saída é uma boa gestão dos recursos que já existem e a geração de novas receitas. A indústria do Estado está ansiosa para ver ações inovadoras, ousadas e de impacto para poder também colaborar com essa página de crescimento. Agora, se a vontade política estiver no vermelho como o caixa dos municípios, vamos assistir ao mesmo filme, mais uma vez.
(*Sérgio Marcolino Longen é empresário, presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul - Fiems - e conselheiro da Confederação Nacional da Indústria - CNI)
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Postado por: Sérgio Longen (*), 03 Outubro 2016 às 13:00 - em: Falando Nisso