Um varão de Plutarco Heitor Freire (*)

Um varão de Plutarco

Plutarco (ca. 46 – ca.120) foi um filósofo e prosador grego que, segundo informa a tradição, escreveu cerca de 200 livros. Deles, o mais conhecido é Vidas paralelas, em que compilou biografias de gregos e romanos ilustres.
 
Desta obra é que se originou o termo varão de Plutarco, que se refere ao homem probo, dedicado à pátria, como são os gregos e romanos retratados por Plutarco.
 
No dia 29 de agosto, faleceu um cidadão dos mais insignes do nosso estado, Francisco Leal de Queiróz. Natural de Paranaíba, ele foi advogado, maçom, poeta, escritor, político à moda antiga, prefeito de Três Lagoas, deputado estadual por três mandatos, secretário de Interior e Justiça do primeiro governo Pedrossian, no antigo Mato Grosso em 1965. Ele soube, como poucos, aliar sua argúcia intuitiva a uma inteligência privilegiada, além de ser muito culto e possuir uma habilidade natural de ouvir as pessoas, saber dialogar com respeito e ter uma capacidade oratória de convencimento que angariou amigos por onde passou ao longo de sua trajetória de vida de 95 anos.
 
Ainda na adolescência, quando cursou o ginásio no Instituto Americano de Lins (SP), o Leal, como era conhecido, despertou para a política por influência de uma colega, irmã do saudoso Ulysses Guimarães, que o convidou a participar de um comício quando Ulysses postulava o seu primeiro mandato como deputado. Na ocasião, Ulysses ficou impressionado com a capacidade oratória de Leal e vaticinou para ele uma brilhante carreira política.
 
Assim, Francisco Leal de Queiróz foi estudar direito no Rio de Janeiro. Antes de terminar o curso, precisou morar por um breve um período em sua cidade natal, onde foi nomeado promotor de Justiça, mesmo sem ter se formado advogado. Coisas da política antiga. Tempos depois, voltou para o Rio e concluiu seus estudos.
 
Leal foi suplente de senador, representante do nosso estado em Brasília, secretário de Justiça e depois de Segurança Pública e procurador do Ministério Público Especial junto ao Tribunal de Contas de MS.
 
Ele também teve intensa atuação no meio cultural de nosso estado. Foi membro da Academia de Letras de Mato Grosso, do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, da Academia de Letras de Mato Grosso do Sul – da qual foi presidente –, e também do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, onde, ultimamente, integrava o quadro de associados eméritos.
 
Conheci o dr. Leal quando ingressei no quadro de associados do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, do qual fui vice-presidente por 12 anos. Quando fui admitido, em 2002, o Instituto era localizado na sede da Academia de Letras. Naquela época, Leal mandou construir – pagando do próprio bolso –, uma dependência no fundo da Academia para sediar o IHGMS. Leal era muito amigo do nosso então presidente, o professor Hildebrando Campestrini.
 
Tive o privilégio de experimentar uma longa e profícua convivência com ele. Aprendi muito em nossas intermináveis conversas; o Leal me contava histórias incríveis de situações e momentos políticos dos quais participou, muitos deles como protagonista.
 
Ele influenciou positivamente incontáveis gerações de políticos e profissionais do direito.
 
Meu amigo Francisco Leal de Queiróz deixa um legado de seriedade, responsabilidade e honestidade no trato com a coisa pública – um exemplo que se perpetuará nas mentes e corações de todos que tiveram o privilégio de conviver com ele. Tenho certeza de que ele já faz parte do seleto grupo de seres iluminados na vida espiritual.
 
Leal é, pois, um verdadeiro varão de Plutarco.
 
(*Heitor Rodrigues Freire – Titular da cadeira 37 do IHGMS)
 


Deixe seu comentário


Postado por: Heitor Freire (*), 03 Setembro 2022 às 09:15 - em: Falando Nisso


MAIS LIDAS