Heitor Freire (*)
Um senhor Políbio
Nesta faina de escrevinhador à qual me dedico desde 2009 – quando descobri, aos 69 anos, que sabia escrever –, de lá para cá foram mais de 600 artigos publicados semanalmente, e em breve serão convertidos em livros. Desde então, fui descobrindo, aprendendo, estudando, acumulando conhecimento, dados históricos, personagens, filósofos, etc. que me enriqueceram de forma muito significativa.
Nesse ofício, me deparei recentemente com Políbio, um filósofo da Grécia antiga. Nunca, até então, tinha ouvido falar dele. Primeiro, é um nome que soa estranho.
Políbio viveu num tempo de grandes transformações políticas (c.198-117 a.C.), no momento em que o destino de gregos e romanos se juntou de modo a transformar suas histórias definitivamente. Ele escreveu 40 livros, número impressionante para aquela época, dos quais apenas os cinco primeiros nos chegaram intactos.
Políbio acreditava que a representação precisa dos fatos era um traço fundamental no trabalho do historiador – o que se fosse observado hoje em dia, sem dúvida, contribuiria para um registro correto da história, mas infelizmente é pouco cumprido.
Há três elementos que ele considerava pré-requisitos para a execução de uma tarefa tão delicada: (1) o estudo e a análise crítica das fontes, (2) a autópsia ou o conhecimento pessoal das regiões tratadas e (3) a experiência política.
Políbio preenchia os pré-requisitos acima enumerados: homem de ação, com experiência política e militar, estava quase sempre presente. Ou seja, era um perfeito cumpridor de suas propostas, o que falava fazia, tendo assim uma ação consequente com sua pregação, tinha o sentimento e noção do dever: “O historiador não deve tentar emocionar seus leitores com tais quadros exagerados”; pelo contrário, insiste, deve “instruir e convencer permanentemente os estudiosos com a veracidade dos fatos e das palavras” (Políbio, Histórias, 12, 24).
O que me encantou na história dele é exatamente a fidelidade aos fatos e seu comportamento sério e honesto, que na realidade, deveria ser a forma de agir de todos nós. É tão óbvio, mas muito raro.
Além disso, Políbio não incorporava relatos de terceiros aos seus sem a investigação apropriada, e dificilmente se entregava ao argumento da autoridade. Trabalhava com fidelidade e seriedade. Sua história teria, obrigatoriamente, um propósito pragmático.
A “história pragmática” visava fornecer lições políticas e militares. Envolvido com os assuntos militares, Políbio demonstrou interesse especial na descrição das campanhas, com abertura para os impactos sociais da guerra.
Contra Timeu (historiador grego, 352-256 a.C), por exemplo, Políbio dirigiu palavras duras sobre a invenção de sentenças retiradas puramente de sua imaginação. Políbio achava que deviam “levantar sérias dúvidas a respeito do caráter de Timeu”, já que o considerava parte do grupo dos homens “cegos mesmo com os olhos abertos”.
Tendo influenciado Montesquieu fortemente, sua importância não se limitou ao século XVIII. Ainda hoje, quando pensamos em escrever história, particularmente a história republicana romana e a de sua relação com o mundo helenístico, ou ainda, em termos mais poéticos, a grande aventura imperial conduzida por Roma nos séculos III e II a. C., Políbio se mostra fonte indispensável e, para muitos, de rigor metodológico superior.
Para escrever este artigo me baseei principalmente num texto de autoria de Henrique Modanez de Sant’Anna, professor adjunto de história antiga, da UnB: “Políbio e os princípios de sua investigação histórica: algumas considerações”, publicado na Revista Mundo Antigo, nº 2, de dezembro/2012.
Fica o exemplo.
(*Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)
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Postado por: Heitor Freire (*), 25 Fevereiro 2023 às 08:00 - em: Falando Nisso