Yves Drosghic (*)
Um outro mundo é possível?
A pandemia do COVID-19 vai marcar o mundo de uma forma decisiva. Muitas pessoas dirão: eu sobrevivi à pandemia! Sem sombra de dúvidas, que há várias gerações, algo dessa magnitude não era visto nem sentido.
A falta de estrutura hospitalar já está acontecendo e o desabastecimento também poderá ocorrer se não houver medidas emergenciais dos governos. Aqui não quero entrar em disputas tacanhas de "ideologias", que, no fundo, servem mais para acirrar ânimos e fortalecer a continuidade dos que estão no poder há anos, e outros que há pouco entraram e a usam para justificar o injustificável.
Não, amigas e amigos. Quero me ater ao novo mundo que enfrentaremos após o pico desse momento tenebroso em que não podemos ter contato sequer com parentes, e no pior dos casos, tampouco o direito de enterrá-los. Mas, afinal, a pergunta que fica: qual ser humano eu sistema econômico teremos após a tempestade passar?
Me arrisco a tentar fazer alguns prognósticos. No campo humano, duas coisas deverão ocorrer. A primeira é a maior integração entre as pessoas, que com o isolamento social, finalmente refletem a necessidade do bom convívio com vizinhos, parentes, amigos e colegas. O mundo capitalista nos ensina a ser implacável na luta pelo topo, mas será que valerá a pena depois de tudo isso? Creio que o ser humano passará a ser mais coletivista, solidário e ter mais empatia pela dor do próximo. A alteridade voltará a se fortalecer.
Já a segunda é a necessidade de trabalhar ao máximo, para o lucro máximo, em vez de guardar um tempo para contemplar a vida, a natureza, o amor e a paz. O que estamos vivendo forçosamente neste momento, de um mundo menos poluído e mais calmo, poderá ser algo imprescindível para todos nós!
No campo econômico, o capitalismo já estava em decadência. Porém, ele terá capacidade de se regenerar? O mundo não poderá mais fechar os olhos para a legião de desassistidos que existem. As hordas de imigrantes que buscaram melhorar de vida indo para Europa e EUA, e que eram apenas rechaçadas com a xenofobia, agora tomam um novo sentido para os capitalistas.
Se por um lado, o próprio sistema vai ter que abrir mão de lucros acumulados por anos para reconstruir a base da economia (capital produtivo, investimentos, financiamentos, mercado consumidor), por outro, é inquestionável que o discurso de “menos Estado” caiu totalmente por terra! Assim, penso que o capitalismo de Estado irá ressurgir com força, e não vai tardar em dívidas externas serem perdoadas, alongadas, ou até mesmo um grande programa de renda mínima mundial. O objetivo do capitalismo para sobreviver será o "ser humano".
Só o G20, que hoje concentra o poder político mundial, já liberou 5 trilhões de dólares para ajudar na reconstrução da economia. Parece muito, mas é muito pouco! Outras medidas socializantes deverão ser tomadas, a bem da própria economia de mercado.
O que é certo, é que finalmente o mundo vai entender uma lição preciosa que a globalização e a busca incessante por lucro nos fez esquecer: atrás de qualquer número frio, existem pessoas, seres humanos feitos da mesma carne e osso dos homens mais ricos do mundo. Um outro mundo é possível? A ver!
(*Yves Drosghic é advogado em Campo Grande - OAB-MS 15.007)
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Postado por: Yves Drosghic (*), 03 Abril 2020 às 10:00 - em: Falando Nisso