Amarildo Cruz (*)
Sal, o grande vilão do coração
O sal de cozinha faz parte do cardápio das pessoas há décadas. Difícil encontrar alguém que não goste de temperar a comida com esse produto. Porém, esse “sabor tão especial” esconde na verdade uma série de problemas que podem se desenvolver com o passar dos anos, entre eles a hipertensão arterial, pedras nos rins e insuficiência renal, aumento das chances das doenças autoimunes, agravamento da osteoporose, além de afetar o paladar e acelerar o envelhecimento.
É importante destacar que, se usado com moderação, ele não faz mal. Isso porque o sal é rico em sódio, ou seja, uma substância essencial para manter o equilíbrio de líquidos no corpo e ajudar na transmissão de impulsos nervosos e no relaxamento muscular. O problema está no consumo em excesso. Ao consumir além do recomendado ele reterá líquido e, consequentemente, aumentará o volume de sangue nas artérias. O desequilíbrio na concentração de plasma sanguíneo faz com que o coração acelere os batimentos, o que provoca a hipertensão.
No Brasil, o consumo por pessoa chega a 12 gramas diários. Estudos realizados pela Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) apontam que um adulto deve consumir no máximo a quantidade de 2 gramas mineral por dia, o que representa aproximadamente uma colher de chá.
Conforme a entidade, se o consumo de sal no Brasil, seguisse os padrões recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), haveria uma diminuição de 15% nos óbitos por Acidente Vascular Cerebral e redução de 10% dos óbitos por infarto. Além disso, 1,5 milhão de pessoas ficariam livres de medicação para hipertensão e a expectativa de vida de indivíduos hipertensos aumentaria mais quatro anos.
Apesar do alerta em vários países, até o momento nenhuma nação do Mundo tratou a redução do sódio com marco regulatório. O Canadá foi pioneiro em propor a redução de forma voluntária. Em Portugal, saleiros não ficam à disposição nas mesas de estabelecimentos comerciais, e quando solicitados aos garçons, estes, por sua vez, relutam em fornecê-los, dizendo aos seus clientes que o produto não faz bem à saúde.
No Brasil, estão trabalhando, de forma articulada, Governo, setor produtivo e sociedade civil organizada, com o objetivo de desenvolver ações que contribuam para redução. O Ministério da Saúde e a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abi) firmaram o quarto acordo, desde 2011, para a redução da quantidade de sódio em alimentos industrializados no país.
Segundo estimativas do governo, aproximadamente 11,3 mil toneladas de sódio deixaram de ser adicionadas aos alimentos produzidos pela indústria nacional em dois anos. A meta é que este número chegue a 28,5 mil toneladas. Além disso, esses resultados vão atuar diretamente em outra taxa importante: reduzir a mortalidade prematura, ou seja, de quem tem menos de 70 anos, por doenças crônicas não transmissíveis, em 2% ao ano.
Estados como Espírito Santo já regulamentaram lei restringindo o consumo de sal em estabelecimentos comerciais. Em Mato Grosso do Sul, tramita na Assembleia Legislativa projeto de lei, de minha autoria, proibindo a disposição e exposição de "saleiros" em mesas e balcões de bares, restaurantes, lanchonetes e similares.
Pela proposta, o sal só poderá ser disposto nos estabelecimentos, se solicitado pelo cliente. Como o consumo de sal em excesso é cultural, muitas pessoas discordam da proposta, porém a medida ganha força e o apoio da classe médica e de outros profissionais da área de saúde, que diariamente atendem pessoas com problemas relacionados ao consumo excessivo de sódio.
Apresentei a proposta porque entendo que é dever do Estado zelar pela saúde e qualidade de vida da sua população. Rejeição semelhante aconteceu quando começaram discutir os projetos para diminuição do consumo de cigarros. No início muitas pessoas foram contrárias às propostas, todavia com o passar dos anos as leis ganharam força.
Acredito que o projeto seja aprovado na Assembleia Legislativa até dezembro deste ano. Ele prevê que o estabelecimento infrator poderá ser multado em 20 UFERMS e, em caso de reincidência, a multa será de 40 UFERMS. Estamos, ainda, programando uma audiência pública na Assembleia Legislativa para democratizar o debate. Uma alimentação balanceada pode garantir uma vida mais longa. A mudança vale a pena e o seu coração agradece.
(*Amarildo Valdo da Cruz é advogado e pós-graduado em Gestão Pública, fiscal tributário estadual e deputado estadual pelo PT-MS)
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Postado por: Amarildo Cruz (*), 05 Novembro 2015 às 14:00 - em: Falando Nisso