Questões familiares Dante Filho (*)

Questões familiares

Parcela da classe política já sabe – por experiência vivida e relatada - que o grande problema dos escândalos atuais, principalmente quando alguém importante vai preso (e são muitos os encarcerados no momento), não se constitui propriamente nas estratégias das defesas judiciais nem na delação premiada, e, sim, nas reações inesperadas das famílias diante dos fatos e seus desdobramentos na mídia. 
 
A vida familiar do acusado vira um inferno. Se o sujeito vai para a cadeia, o caos se instaura: esposa, filhos, pais, netos, irmãos etc., são tomados por constrangimento social inaudito, transformando-se em mais uma força de pressão para que, afinal, tudo seja revelado e se transfira as verdadeiras responsabilidades ao núcleo principal da  organização. O centro familiar fica de certa forma também aprisionado num manto de vergonha e opróbrio. 
 
Veja-se o caso do senador Delcídio Amaral, ora trancafiado sem perspectiva de obter uma liberdade provisória que possa pelo menos lhe dar a chance de atravessar o período de festas em casa, junto dos seus. Sua esposa Maika Amaral assumiu a proa do processo, pressionando o senador para que ele conte tudo que sabe, doa a quem doer, pois o drama envolve principalmente as filhas do casal, a sogra e demais membros da família. Não é fácil viver esse inferno, principalmente para quem habita as graças da chamada “boa sociedade”, na qual se admite tudo, menos dançar na gafieira.
 
Veja o caso do filho de Nestor Cerveró, Bernardo, que não suportou ver o pai enlouquecendo numa cela de prisão, com a saúde deteriorando-se dia a dia. Correu riscos imensos e gravou um convescote que poderá mudar a história da república. Vive agora escondido e com medo.
 
Veja o caso de Alberto Youssef, que reagiu de maneira virulenta quando suas filhas e ex-mulher foram ameaçadas pelas investigações da PF e do Ministério Público, levando-o à revelação de mais detalhes de suas ações no submundo do crime para protegê-las. 
 
Veja como reagiu Lula quando envolveram seu filho Luis Cláudio em falcatruas das MPs do setor automotivo: passou a correr contra o tempo operando saídas que podem levar inclusive à queda de Dilma. 
 
Acompanhem a pressão que os familiares do pecuarista José Carlos Bumlai está fazendo para que o patriarca feche na justiça, o mais rápido possível, a delação premiada, inclusive para garantir nacos de patrimônio, visto que o nome e o legado familiares já foram para o brejo. 
 
Quem mergulha em cada caso dos envolvidos nos atuais escândalos, estando o sujeito preso, sob investigação ou mesmo implicado lateralmente, sabe que o ambiente dentro de casa é de paranóia e apreensão. 
 
Para grande parte dessas famílias, trata-se de situação nova. O Brasil naturalizou a corrupção. Para esposas, filhos etc., ganhar dinheiro nesse “mercado paralelo” era apenas algo que “todos faziam”, não havendo inclusive “uma moral republicana” que pudesse balizar criticamente a vida faustosa que todos levavam. 
 
O sentimento de impunidade há muito cristalizou-se culturalmente no País. “Isso não vai dar em nada”, sempre foi a frase defensiva de quem nunca esperou que poderosos fossem presos. As famílias nunca sonharam viver um ambiente em que se misturam crimes de várias modalidades (inclusive pedofilia) num quadro de promiscuidade tão ampla e generalizada. No fundo, são essas pessoas, no microcosmo, que estão protagonizando mudanças verdadeiras que o País está vivendo. 
 
(*Dante Teixeira de Godoy Filho é jornalista militante em Campo Grande MS - dantefilho@terra.com.br)
 


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Postado por: Dante Filho (*), 14 Dezembro 2015 às 14:20 - em: Falando Nisso


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