Se foi o "Correio do Estado" o primeiro veículo de comunicação a levantar a possibilidade de uma composição entre Delcídio do Amaral e Zeca do PT para formarem a chapa pura na disputa pela prefeitura campo-grandense, é natural que se atribua tal idéia à imaginação criativa do empresário Antônio João Hugo Rodrigues, dono do jornal e dirigente local do PSD. Dele ou não, a idéia é fruto de quem enxerga longe e trabalha com as variantes de um cenário ainda pedregoso para quem raciocina e age no curto e médio prazos. Há quem imagine também ter sido um artifício de Zeca para testar o senador. Mas dentro do PT, embora quase imperceptíveis, algumas e tímidas vozes se prestam a defender essa fórmula, enquanto a grande maioria prefere não alimentá-la e a desqualificam, mesmo considerando-a poderosa.
Penso, com meus botões, e considerado unicamente o fator eleitoral, que o prestígio de Delcídio junto à opinião pública é tão sólido e confortável que ele poderia dar-se ao requinte de renunciar ao Senado, disputar a Prefeitura de Campo Grande e, vencendo, nela permanecer um ano e meio até renunciar ao cargo para concorrer ao Governo do Estado. Posso estar equivocado, mas ouso acreditar que mesmo com essas duas renúncias ele não perderia a competitividade, nem o prestígio. O incômodo com as duas renúncias sobraria para as cobranças de sua própria consciência, não a dos eleitores. E isso precisa ser respeitado.
Nesse contexto só não soou bem a manifestação do presidente do Diretório Regional do PT, Marcus Garcia Gomes. Em nota apressada e palavrosa, que muitos confundiram - inclusive o próprio Delcídio - como "esclarecimento do PT", o dirigente se expressou na primeira pessoa do singular para desmentir, desautorizar e desqualificar o que chamou de especulação, utilizando para isso uma linguagem que seria apropriada se o desmentido estivesse subscrito pelo colegiado diretivo do partido. Acertou ao reafirmar o direcionamento que deve ser dado para assegurar e conservar Delcídio como candidato ao governo em 2014.
Porém, um dirigente que se preze jamais deixaria de ao menos admitir o forte e explosivo apelo político-eleitoral da chapa especulada. E não deixaria de festejar o reconhecimento tácito da amplitude dos nomes do senador e do ex-governador, notadamente daquele que, com domicílio e base eleitoral afetiva em Corumbá, conseguiu alongar tanto sua influência que se vê como solução para uma disputa de primeira grandeza na capital do Estado, a 420 km da sua terra natal.
Por fim, suponho - e sujeito a erro - que o senador só se deixaria suscetível a, no mínimo, sopesar as possibilidades, se constatar que fora do PT ou sem apoio deste sua candidatura ao Governo ficaria sem o encorpamento partidário, algo que, seguramente, não terá no PMDB. Que as cassandras de mau agouro se entendam com as aves de alvíssaras nos bicos enquanto 2012 não chega.
(*Edson Moraes, corumbaense radicado em Campo Grande-MS e filiado ao PT, é jornalista)