Marco Asa (*)
Quando a 'indignação lava jato' vai chegar aos municípios?
Então tá! Estamos todos indignados com os "desmandos"daqueles que supostamente desviaram bilhões da Petrobras. Todos apóiam (com razão) a Operação Lava Jato. Todos querem um "Brasil limpo". Mas, hoje, assisti uma notícia de que o programa de creches lançado pelo governo federal está parado, já que a maioria das empreiteiras largou as obras no meio DEPOIS DE RECEBER O DINHEIRO. Sim, porque o dinheiro foi liberado pelo governo federal. Aí, as obras estão paradas, os prefeitos culpam as empreiteiras e fica tudo por isso mesmo.
Cadê a indignação "lava jato"? Moro em Cuiabá, Mato Grosso, e, por aqui, os casos de desmando com o dinheiro público, em função das obras da Copa do Mundo de 2014 beija o cinismo puro. O VLT, transporte leve sobre trilhos que ia ligar o aeroporto de Varzea Grande (na Grande Cuiabá) ao centro e aos bairros populosos, para transportar os torcedores da Copa, são apenas buracos nas avenidas principais da cidade, um monte de trens enferrujando e a desculpa de que precisam de mais R$ 1 bilhão. ISSO DEPOIS DE TEREM RECEBIDO MAIS DE R$ 1 BILHÃO. Cadê a indignação "Lava Jato" neste caso?
Em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, a dança das cadeiras na Prefeitura têm prejudicado a população no seu dia a dia, com incerteza nos serviços como coleta de lixo, por exemplo? Estão vendo algum protesto nas ruas contra isso?
Além disso, assembleias legislativas e câmaras municipais de todos o Brasil continuam "comendo" boa parte dos orçamentos dos governos dos Estados e das prefeituras para manter estruturas caras e ineficientes. Cada deputado e cada vereador tem direito a um número enorme de assessores que, muitas vezes, nem cabem em seus gabinetes e, por isso não vão trabalhar. Aí, ouvimos a desculpa de sempre: "preciso que meus assessores fiquem nas bases, ouvindo os anseios do povo". Povo? Que povo?
As Câmaras e Assembleias são mantidas com repasses do orçamento de municípios e estados. Ou seja, parte dos seus impostos, vai para a manutenção desses sistemas ineficientes de poder. Quando se fala em rombo de orçamento, não podemos apenas responsabilizar o Executivo. O Congresso Nacional "come"bilhões do orçamento federal para manter verdadeiros feudos, cercados de luxo e totalmente ineficientes. E não se houve qualquer rumor de redução de custos, de auxílios-moradia, de troca de frota, de combustível à vontade... nada!
E cadê a investigação sobre isso? No Brasil, há desvio pra tudo. E, por incrível que pareça, até a lei de responsabilidade fiscal é utilizada para manobras. Ora vejam: a empreiteira pega uma obra pública. O dinheiro saiu. Ela alega falência. A obra para. E a Prefeitura alega que precisa de pareceres jurídicos para contratar outra empreiteira, com nova licitação que dura anos e, tudo o que foi construído se perde com o tempo. O único prejudica é o tal do povo.
Por que os mesmos indignados, de todos os partidos, não montam uma comissão nacional de investigação de obras. Aí, faz-se uma análise apartidária sobre coisas estranhas como as cisternas no Nordeste, cuja verba já saiu e não foram instaladas. Sobre os bilhões gastos com a despoluição dos rios Tietê e Pinheiros, em São Paulo, que continuam fedidos como sempre. Sobre os trilhos da Ferrovia Norte-Sul, comprados na China e que não suportam peso (!?!?), sobre a cobrança de pedágio em rodovias federal com apenas 20% das duplicações prontas (!?!?!?), sobre monopólio da coleta de lixo em todo o Brasil. Enfim! Motivos para se indignar não faltam. E, sinceramente, o Brasil não vai ser "consertado"ao final da Lava Jato. O problema é mais embaixo. E a indignação deve começar nas câmaras municipais e prefeituras, cujos desmandos interferem no nosso dia a dia.
(Marco Antônio dos Santos Araujo, o Asa, é jornalista, publicitário e escritor de Campo Grande MT agora morando em Cuiabá MT. E-mail portalautoasa@gmail.com)
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Postado por: Marco Asa (*), 25 Setembro 2015 às 17:30 - em: Falando Nisso