PT, PMDB e PSDB - Cenário Maquiavélico Fernando Larangeira (*)

PT, PMDB e PSDB - Cenário Maquiavélico

Maquiavel é um dos personagens mais injustiçados da história. Fundador da ciência política, porque defendia que a análise de um quadro político deve ser feita com base em elementos históricos e não com base em especulações, seu nome é vinculado a comportamentos antiéticos, não por causa do seu estilo de vida, mas porque os seus escritos abalavam o poder da aristocracia italiana de sua época, a qual passou a realizar criticas tendenciosas a sua obra que teve como objetivo apenas retratar a realidade, descrever as coisas como são e não pregar um doutrina de comportamentos éticos.
 
Ele dizia que o poder é um fenômeno cíclico, apresentando, portanto, suas formar virtuosas e suas formas corrompidas, sendo o fator tempo uma das causas de alteração da essência do mesmo. Tal premissa, também defendida por Aristóteles, não deixou de estar presente na atualidade, o que confere subsídios para  entender o caos político e social sob o qual a realidade brasileira está mergulhada.
 
Antes de mais nada, vale lembrar que tanto o PT, quanto o PMDB, do qual decorreu o PSDB, são movimentos sociais que há muito tempo fazem parte do cenário político brasileiro. Seus principais líderes foram grandes opositores do regime ditatorial, que assolou o país à partir do ano de 1964. Houve várias lutas pela anistia dos presos políticos, pelas diretas já, pela liberdade de expressão, pela ética e pela moralidade administrativa. Esses partidos, portanto, já exercem há mais tempo o poder de fato, detendo o poder jurídico, apenas depois da constituição de 1988.
 
O auge do período militar foi a primavera desse grupo político, composto, hoje, tanto pelo PT, quanto pelo PMDB e pelo PSDB que, sem sobra de dúvida, agia de boa fé na perseguição do interesse público. Ocorre que as leis da política  apresentam uma exatidão quase matemática: qualquer grupo que pretende deter alguma espécie de poder, com o tempo, tende a se corromper.
 
Se o PT no passado brigava pela efetivação de distribuição de renda e pelos direitos dos trabalhadores, hoje, verifica-se que as instituições bancárias foram as que mais lucraram sob o seu governo, sem  prejuízo da preterição de verbas trabalhistas; se antes o PMDB fora quem regeu toda uma oposição ao regime militar, o PMDB de hoje é aquele que fica no poder apenas pelo poder, não sendo dotado de nenhuma bandeira ideológica. O mesmo acontece em relação ao PSDB, que sendo fruto de um grupo dissidente  do PMDB em razão do mesmo não ter uma bandeira política clara, hoje não consegue afinar o discurso  em relação ao futuro da presidente Dilma, havendo três linhas bem definidas: a primeira, que defende o impeachment; a segunda desejosa de novas eleições e a terceira, que quer ver a presidenta sangrar até o fim.
 
O mesmo acontece no cenário estadual. Um grupo de políticos que há muito tempo fez uma bela gestão em Campo Grande – MS e estendeu a sua dominação sobre o governo do Estado, hoje, está sofrendo as consequências das leis que regem a politica: qualquer grupo politico, com o tempo, tende a se corromper.
 
Há de se reconhecer que, sob um prisma mais geral, ambos os cenários políticos apresentaram pontos positivos, no passado e, no entanto, caíram no mesmo erro: os atores das cenas erraram quanto ao momento de saírem do palco. A peça já havia acabado há muito tempo e os mesmos acabaram por apresentar um péssimo espetáculo à população
 
Dessa maneira, o espetáculo deve continuar com outros personagens, entrando em cena no antigo palco da política. Essa mudança de atores, no entanto, revela um amadurecimento da democracia brasileira, seja pela efetivação do princípio republicano, seja pelo fato do desgaste da figura do “político”. Na história do país, é vista uma divisão clara entre a população e a classe política, primeiramente composta pela família real, depois pelas oligarquias e pelas ditaduras, seja a do Estado Novo ou a Militar. Assim, criou-se um certo antagonismo entre os políticos V.S. a população, o que não  tem o menor sentido, quando se fala em democracia, já que aqueles nada mais são do que um amostragem desta, seu próprio reflexo no espelho.
 
O desgaste da figura do “político”, portanto, demostra um avanço no processo da democracia, porque  o povo não verá outra alternativa que não seja ele mesmo tomar frente das questões estatais, fazendo com que o poder politico seja manejado, diretamente,  pelo seu titular: o próprio povo brasileiro.
 
(*Fernando Larangeira é advogado em Campo Grande, especialista em direito público e conselheiro da Associação dos Novos Advogados – ANA-MS)
 


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Postado por: Fernando Larangeira (*), 22 Agosto 2015 às 10:30 - em: Falando Nisso


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