Dante Filho (*)
Professor de deus
Dificilmente respondo a xingamentos de leitores. O sujeito que se oculta em falsos endereços de e-mail ou utiliza fakes para fazer ataques sombrios em resposta a um artigo ou comentário que volta e meia faço na imprensa só pode ser lelé da cuca.
A luta é desigual. Escrevo livre e abertamente sobre o que penso. Não me escondo nem me enredo em subterfúgios retóricos para enfeitar o pavão. O leitor ofendido joga sujo e agride a partir do submundo. Logo de cara penso que ele tem medo, é um sujeito inseguro e autoritário.
Aquele que escreve réplicas abertas, ao contrário, merece respeito, mas geralmente procura enxergar coisas além do que você escreveu.
É mania da tradição judaico cristã dar valor cosmogônico ao texto escrito. O cara lê um artigo e parte do princípio de que aquilo é a “verdade”. Ele não consegue entender que se trata de mera opinião pessoal. Certamente, se o estilo é muito impositivo e os argumentos estão bem amarrados num conjunto de valores o comentário ganha contornos ferinos.
Já escrevi críticas ácidas contra políticos e governos. De imediato, o sujeito vitimado me toma como inimigo de armas. Depois, imagina que estou a serviço de alguém. Mais tarde, reunido com seu bando, começa a delirar: acha que tem milhões de dólares na jogada, ou ainda que estou na folha de pagamento da CIA ou do Mossad.
No auge do processo, promove a famosa caça às cabeças, vituperando vinganças e prometendo retaliação. Tudo é possível nesse mundo louco, mas a única coisa que podemos fazer é achar graça e seguir em frente.
O grande problema do jornalismo crítico é esse: qualquer texto que mexe com ferida narcísica de alguém jamais é encarado como uma oportunidade de testar seus fundilhos. Quantas vezes recebi críticas ferozes e inteligentemente argumentadas as quais fui obrigado a me render e pedir as mais solenes desculpas.
Por isso, todo xingamento e ofensa pessoal – por mais tosco que seja – merecem reflexões e me ensinam algumas coisas. Não me faço de rogado: qual o limite da brutalidade humana, sobretudo quando a agressão parte de pessoas que frequentam igreja, professam religião e só abrem a boca para falar da bondade infinita de deus?
Quando penso nisso, percebo que a vida significa quase nada quando se trata de paixões e sentimentos primevos. Todos somos feitos do mesmo barro e, no momento certo, seremos poeira dispersa no cosmo. Rico, pobre, vassalo ou poderoso, a única coisa que ficará (talvez) seja o nosso legado, inscrito na memória individual ou coletiva.
Políticos não gostam de ser criticados porque sabem que as palavras publicadas sobre eles ficarão rondando nos arquivos do tempo. Para o bem e para o mal. Se eles fizerem esforço para deixar uma história pessoal de mais virtudes do que de vícios, seus herdeiros espirituais serão também seus seguidores. Caso contrário, serão simplesmente jogados na lata de lixo da história.
E a culpa não será desse escriba que apenas observa os fatos e os deixam registrados. É prerrogativa do jornalismo narrar, registrar, analisar e opinar sobre fatos do poder. O resto é secos e molhados.
(*Dante Teixeira de Godoy Filho é jornalista militante em Campo Grande MS - dantefilho@terra.com.br)
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Postado por: Dante Filho (*), 06 Fevereiro 2016 às 14:30 - em: Falando Nisso