Dante Filho (*)
Prévias no PSDB
A realização de prévias internas no PSDB tem um histórico pendular. Às vezes causa euforia, às vezes assombro. Nas eleições municipais deste ano, o partido está decidindo realizar prévias para a escolha de candidaturas à prefeito. Em São Paulo – berço do tucanato – os dirigentes sinalizam optar por esse sistema. Em Goiás, o mesmo acontecerá em pelo menos nove municípios. Enfim, é um jeito de resolver disputas internas, onde não há consenso em torno de um nome capaz de unificar as várias correntes partidárias.
Na obra clássica “Os Partidos Políticos”, de Maurice Duverger, tem-se uma idéia da complexidade que representa a escolha de candidatos pelos partidos que possuem grande densidade eleitoral (tanto o de massas como o de quadros). Em cada País, ou mesmo em Estados e regiões, há um sistema fundado em tradições históricas que resulta satisfatoriamente na indicação de nomes que buscarão o voto dos eleitores durante o pleito.
No sistema parlamentarista há regras internas e legislações específicas para a escolha de candidatos. No sistema presidencialista, idem. O eleitor comum não consegue imaginar as etapas e as dificuldades que existem em cada uma delas para fazer uma filtragem que coloque um candidato em condições de enfrentar uma campanha, para vencer ou perder.
Duverger diz que a organização daquilo que chama de “cozinha eleitoral” - onde se produz o caldo que será servido aos eleitores - tem variáveis imensas, as quais sempre há predominância daqueles que de controlam as ferramentas burocráticas dos partidos, principalmente os recursos financeiros para as campanhas.
Talvez a única coisa que não se altera em qualquer processo eleitoral, a despeito da diversidade partidária e ideológica de cada um, reside no fato de que basta que um partido chegue ao poder para que, de imediato, abandone todos seus discursos e promessas passando a gerir os governos conforme seus interesses exclusivos. Ou seja, os partidos abrem-se nas campanhas e depois fecham-se em si mesmos no exercício do poder.
No presidencialismo brasileiro, que é sistema eleitoral brasileiro em todas as suas esferas (estadual e municipal), estudos e pesquisas demonstram que haveria imensas vantagens se adotássemos a técnica das convenções primárias, como ocorre nos Estados Unidos. Ali acontece uma espécie de pré-escrutínio que indica o candidato presidencial (em alguns Estados aproveita-se para designar candidatos a postos administrativos e judiciais), fortalecendo esquemas de representação que garantem as bases de uma sociedade inclusiva e extensamente democrática.
Claro, o sistema não é perfeito, existem problemas aos borbotões, principalmente porque se trata de eleição com forte peso econômico. O mundo não é para anjinhos que imaginam que uma civilização se edifica apenas com o pessoal do bem.
Por isso, volta e meia dirigentes ou militantes partidários em dificuldades (como é o nosso caso no momento) colocam na roda a idéia de realização das prévias para a escolha de candidatos e de formalização de alianças. Imagina-se que democratizando as decisões entre a militância seja possível chegar a um candidato que tenha garantido desde o primeiro momento da campanha uma base sólida de apoio programático e institucional.
No livro de Duverger, fica claro que isso é uma situação meio ilusória. Filiados e dirigentes secundários ficam sujeitos às mesmas manobras e pressões que ocorrem quando a indicação se dá pelas cúpulas partidárias. Além disso, há o risco de as divergências surgidas nas prévias potencializem as dissidências no decorrer da campanha, favorecendo os adversários. Tudo é risco.
Mesmo assim, é possível que esse modelo contribua para alterar vícios da chamada “velha política”, permitindo que, aos poucos, partidos como o PSDB se libertem dos esquemas do neo-coronelismo que tende se consolidar se nada for feito no decorrer de processos eleitorais futuros.
Lançar abertamente nomes na praça que ambicionam ocupar cargos majoritários para serem, primeiro, escrutinados pelos militantes, depois pelos eleitores, é melhor do que meia dúzia de iluminados indicar o poste da vez, independentemente das pesquisas e das próprias qualificações que porventura ele possa ter.
Um partido não pode agir como rebanho de cordeiros. A sociedade parece cansada com os esquematismos atuais. Há uma clara demanda oculta por uma reforma política séria e responsável. O atual Congresso Nacional emperra iniciativas neste sentido pelas razões já sabidas. Os partidos se transformaram em unidades de negócios e negociatas. Os detentores dessas máquinas de fazer dinheiro não aceitam mudar. Talvez com atitudes afirmativas, cobrando mais democracia e transparência dos dirigentes essa realidade mude. Não é fácil, mas é possível.
(*Dante Teixeira de Godoy Filho é jornalista militante em Campo Grande MS - dantefilho@terra.com.br)
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Postado por: Dante Filho (*), 11 Janeiro 2016 às 13:30 - em: Falando Nisso