Márcia Scherer (*)
Por que Olarte?
Por ter participado da campanha de Bernal em 2012, sempre me fazem essa pergunta: mas por que Bernal escolheu logo o Olarte? A resposta para esse questionamento não é simples, rápida, não é um porque sim.
Há uma explicação cheia de nuances, detalhes, com um enredo beirando a um capítulo de romance (policial). Uma trama, arquitetada nos mínimos detalhes. Seria um golpe?
Não participei diretamente do período dessa escolha, quando cheguei à campanha, Olarte já era o humilde servo de Deus (ironia), escolhido e sob as ordens do comandante, como ele mesmo gostava de dizer enquanto balançava-se sobre os pés, num ato de imitação.
O que me contaram é que o nome de Olarte surgiu após sucessivos nãos que Bernal recebeu de seus pretensos escolhidos. Do presidente de partido, que no dia D traiu (já ouvimos isso antes) e foi bandear-se para o adversário, ao comedido comerciante, passando pelo empresário, advogado, entre outros.
Olarte surgiu como dica de alguém - não sei quem é o infeliz a quem devemos xingar - a falta de opção de um nome que compusesse a chapa pura que se transformou a candidatura de Bernal.
Pastor evangélico, empresário, contabilista, formado em gestão pública, vereador de meio mandato, aparentemente era um bom nome, ou não? O fato é que a escolha de Olarte como vice foi devido à falta de opção, foi parte da trama para impedir a candidatura de Bernal.
O que sei, é que no dia em que foi convidado, Olarte pediu um tempo para pensar, apesar de que sua resposta deveria vir naquele mesmo dia. Tempos depois, chegou ao nosso conhecimento que para pensar Olarte deu uma volta lá pelo Parque dos Poderes. E depois desse passeio, no final do dia, deu o seu sim a Bernal.
Olarte não foi um candidato a vice fácil, especialmente para mim, que sou do tipo briguenta e mandona, como bem sabe o Bernal.
Orgulhoso, de fala empostada, cheio de assessores ao seu redor (inclusive o famigerado Ronan), gabava-se do seu suposto poder de agregação dos evangélicos, fato desmentido com o desenrolar da campanha e tinha algo que me desagradava profundamente, pessoalmente falando.
Sua presença gerou episódios que até têm certa graça, um em especial, que adoro contar: no meio da campanha, quando os adversários acusavam Bernal de problemas com suas ex e filhos, Olarte chegou à produtora para falar com o Julio Cabral – ele não falava comigo. Encheu o peito e disse: Cabral me coloque para fazer um discurso na TV, porque eu nunca fumei, nunca bebi, nunca trai minha mulher, nunca freqüentei uma zona... E eu que estava ali quietinha, escrevendo meus roteiros, quase sem respirar, não me aguentei, virei para ele e disse em alto e bom som: MAS QUE VIDA CHATA A SUA, HEIN PASTOR!
E depois não sei o porquê da antipatia mútua? Esse (falso) moralismo, essa pretensa santidade, essa empáfia disfarçada de humildade sempre me incomodaram e muito. Pra mim Olarte era, e provou que estava certa, um homem em quem não se pode confiar. No início do segundo turno, numa conversa com Bernal, pedi que ele substituísse o vice por uma mulher, cheguei a implorar, porque aquele só nos causava problemas, não tinha empatia, não agregava evangélicos e tinha alguns problemas em seu recente passado. Bernal disse que não o poderia fazer, pois seria uma traição com o rapaz.
Outras pessoas também pediram, mas havia outra grande questão: essa substituição sairia muito cara. Então, além da questão moral, havia a questão financeira. Assim Olarte ficou vice, foi eleito vice, traiu sendo vice e hoje, como todos sabem, está prefeito, parido por meio de um golpe.
É preciso deixar claro que a traição de Olarte não foi apenas com Bernal, foi com um projeto criado e pensado para Campo Grande, foi com a população que claramente escolheu o rompimento com o grupo político que administrava a cidade nos últimos anos. A proposta da “Força da Gente” era romper, quebrar, trocar, mudar tudo e todos que estavam na Prefeitura, foi isto o que elegeu Alcides Bernal e foi isto que Olarte traiu, pois sua primeira atitude após o golpe foi levar aquele grupo pelas mãos para dentro da Prefeitura.
Hoje, quem paga por essa traição é o povo que acreditou na mudança, mas que não sabia que para ela ser completa, era preciso mudar também o conteúdo do prédio da Ricardo Brandão. Era preciso trocar os mesmos que estão lá há anos, coniventes com GISAs, Homex, Lixões, Solurbs, Fantasmas e Máfias da vida, por outros, com novas propostas, dispostos a ouvir e servir a população.
Que Olarte sirva de lição, pois para ele se criar foi preciso que 23 o fizessem. E o fizeram um perfeito golpista.
(*Marcia Scherer é publicitária, trabalhou na campanha de Alcides Bernal em 2012, foi assessora de imprensa em sua gestão, é mãe, briguenta, fala o que pensa e ama Campo Grande)
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Postado por: Márcia Scherer (*), 21 Maio 2015 às 12:40 - em: Falando Nisso