Político rico não precisa roubar Dante Filho (*)

Político rico não precisa roubar

Outro dia, ouvi mais uma vez essa história picareta dita com ares de sabedoria: é melhor votar em político rico porque ele não precisa roubar. Em primeiro lugar, esse é um raciocínio idiota. Tanto faz o cara ser pobre ou milionário, a corrupção é uma questão de oportunidade criada por falhas institucionais.
 
Colocar essa questão no âmbito das origens de classe é verdadeira canalhice. O sistema de poder existente no Brasil leva qualquer cidadão diretamente à corrupção, caso ele ocupe função de relevância pública, principalmente quando ele pode administrar orçamentos, contratações etc., simplesmente porque os elementos essenciais da democracia não funcionam adequadamente em nosso País.
 
Pegue um santo e coloque-o para administrar um setor que lida com contratos milionários. Por melhor que seja seu salário, haverá um momento de inflexão. Ele será influenciado por lobistas a conhecer o “lado bom da vida”. Se as leis e as instituições forem frouxas, o cara se lambuza rapidinho. 
 
Ele pode ser do PT, PSDB, PMDB, enfim, ele pode ser de esquerda, de centro ou de direita, rico, pobre, classe média, havendo espaço institucional e os órgãos de controle forem lenientes, não adianta, os esquemas são montados com rapidez alarmante e as propinas tornam-se um vício. A honestidade é um valor moral muito tênue diante dos desejos conspícuos.
 
Muita gente fica surpreendida com o fato de personagens de nossa Pátria, mesmo depois de se locupletarem, continuarem roubando, para si e para os esquemas partidários a que pertencem, num verdadeiro desprezo pelas leis e órgãos tributários. Muitos ficam boquiabertos pelo fato de o sujeito ter acumulado fortuna para engordar suas próximas gerações e continuar fazendo estripulias. 
O nome disso, na sociologia histórica, chama-se patrimonialismo. O governante chega ao poder a acredita que o Estado serve ao desfrute para si, os familiares e os amigos. 
 
Se ele for empresário, o poder público é visto como unidade de negócios. O cara fica o tempo todo pensando como aproveitar oportunidades oferecidas pela administração para ganhar mais e mais. É quase que uma coisa natural: o patrimônio público estende-se psicologicamente ao interesse privado. 
 
Se ele for pobre, sindicalista, pequeno empresário, político profissional, quando chega ao poder (executivo, legislativo etc) ele precisa fazer o círculo vicioso girar, ora por meio de oferecimento de vantagens, ora fomentando o populismo rastaqüera, criando necessidades coletivas para faturar no particular. 
 
Ou seja, o sistema é podre, sempre foi e será. Se o sujeito é rico, dizem que ele não precisa roubar. Mentira. O Governo, nesse caso, torna-se uma janela de oportunidade de acumulação de capital. O truque é saber driblar os órgãos de controle (que também tornam-se corruptos) e colocar operadores eficazes para conseguir extrair o máximo de benefícios com os negócios oferecidos pelo Estado. 
 
Existe solução para isso. Integralmente, não. Mas a diferença entre aqueles países que se tornaram desenvolvidos e aqueles que permanecem patinando no atraso é uma só: o fortalecimento e qualidade evolutiva das instituições democráticas, deixando de ser meramente extrativistas (como é o caso do Brasil) para se tornar inclusivas, ou seja, abrindo os mecanismos de participação e oportunidades econômicas igualitárias para os cidadãos, tornando o Estado absolutamente transparente. 
 
Mais: o Estado deve premiar as capacitações (esse papo de que concurso público resolve é fajuto) e impedir que oligarquias se assenhorem dos negócios do Estado, decidindo os orçamentos públicos em rodinhas de tereré. Não há outra forma. A história dos últimos 500 anos mostra isso com clareza solar. Mas tem gente que ainda acredita em Papai Noel.
 
(*Dante Teixeira de Godoy Filho é jornalista militante em Campo Grande MS - dantefilho@terra.com.br)
 


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Postado por: Dante Filho (*), 09 Janeiro 2016 às 10:15 - em: Falando Nisso


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