Pedro Pedrossian Neto (*)
Os tabus do desenvolvimento
Na década de 1940, o Brasil era, na expressão já consagrada nos livros de história, uma grande “fazenda de café”: as exportações deste produto representavam 80% das vendas externas, a população ainda era predominantemente rural e a indústria – que naquela ocasião apenas dava os primeiros passos –, nem sequer podia sonhar com os “milagres” econômicos que viriam a acontecer nas décadas seguintes, os quais transformariam o País em uma das maiores economias mundiais, atrás apenas dos Estados Unidos, China, Japão, Alemanha e França.
O ano é 2012, o País se chama Mato Grosso do Sul. Um Estado jovem, promissor, sonha em crescer e gerar renda para seus cidadãos, mas em sua consciência ainda se sente acorrentado à ideia de que a indústria e os serviços de alta tecnologia não podem aqui se desenvolver, pois isto seria contrário a nossa “vocação natural” de produtor-exportador de produtos primários.
O paralelismo com o Brasil primário-exportador de 1940 é evidente, mas seria mesmo possível ao MS alcançar o desenvolvimento pelo mesmo caminho trilhado pelo País em sua revolução industrial? Ao fazer esta pergunta, não quero com isso em absoluto negar a contribuição substancial que o agronegócio trouxe e traz para o progresso do nosso Estado, mas apenas enfatizar que a diversificação econômica e a agregação de valor seria muito bem vinda ao MS – e que a despeito do grande esforço, ainda não temos uma política industrial adequada às nossas necessidades.
Ora, como é possível que o MS, dispondo de bilhões de toneladas de minério de ferro de alta qualidade no Maciço de Urucum, ainda não possua um dos maiores parques siderúrgicos do Brasil? Nesse setor, por exemplo, contamos com apenas com algumas pioneiras indústrias produtoras de ferro-gusa e um projeto importante em Três Lagoas, mas a maioria dos diversos elos ajusantes da cadeia produtiva ainda estão na promessa.
Sendo apenas exportador do minério, a agregação de valor fica toda em outros Estados brasileiros ou no exterior, em particular na China. Nesse último caso, para os cofres estaduais, nada poderia ser pior: como as exportações são imunes tributariamente, não há um só centavo de arrecadação de ICMS – não obstante a necessidade de lidar com o impacto ambiental significativo da atividade de lavra. É claro que a indústria mínero-extrativa é bem vinda, mas é necessário agregar valor a ela para que nossos recursos estratégicos sejam melhor aproveitados.
Há outro recurso natural estratégico para o qual ainda não abrimos os olhos: o gás natural importado da Bolívia. Como se sabe, com o pré-sal e a enorme quantidade de gás natural associado ao petróleo, haverá uma quantidade exorbitante de gás disponível ao Brasil – e a importação do gás boliviano deixará de ser necessária economicamente. Ocorre, entretanto, que o Brasil possui um contrato de compras mínimas com a Bolívia – o que no jargão do setor é chamado “take or pay” – e então o País terá que continuar comprando (e, infelizmente, queimando) este excesso de combustível.
Ora, ao invés de usar o gás natural para combustível industrial ou veicular, por que não utilizá-lo como matéria-prima de uma indústria gás-química? Há uma profusão de insumos petroquímicos de utilização geral na indústria que poderiam ser produzidos, como o eteno e o propeno (primeira geração), polietileno, estireno e polipropileno (segunda geração), e mesmo a cadeia plástica toda, com artefatos de plástico, etc. Antevendo a enorme disponibilidade de recursos energéticos, o Rio de Janeiro, por exemplo, lançou em parceria com o governo federal o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro – COMPERJ, um parque industrial de nada menos do que R$ 25 bilhões.
Com algum esforço, planejamento e ousadia, o Mato Grosso do Sul também poderia ter o seu complexo gás-químico, e para isso o governo poderia elaborar o projeto e a partir de então engajar parceiros federais, como o BNDES e a Petrobrás, e privados nacionais e internacionais que nele se interessarem. Na situação atual, o provável destino do gás boliviano será abastecer termoelétricas para geração de energia elétrica, mas será mesmo este o melhor resultado para o MS?
Diversos outros exemplos poderiam ser dados, mas fiquemos por aqui com estes dois principais. Dito isso, voltamos a nossa pergunta original: é possível uma revolução industrial ao Mato Grosso do Sul que coloque o nosso Estado entre os mais dinâmicos do País, gerando emprego, renda e desenvolvimento? E respondo, com toda certeza: é possível fazer, desde que tenhamos vontade e visão de futuro, desde que rompamos, principalmente, com o medo de inovar e progredir, que superemos os tabus que nos prendem ao passado. O desenvolvimento é um estado de espírito, uma vontade em fazer que transcende obstáculos – e o primeiro deles é a nossa própria consciência.
(*Pedro Pedrossian Neto, 31, é professor e mestre de economia na PUC-SP e empresário)
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Postado por: Pedro Pedrossian Neto (*), 11 Dezembro 2012 às 16:01 - em: Falando Nisso