Os carcereiros dos nossos sentimentos Dante Filho (*)

Os carcereiros dos nossos sentimentos

Não gostaria de estar na pele de Dilma nem de Lula. Ambos devem estar vivendo os piores momentos de suas vidas. Todo o processo político que vem embolando suas respectivas existências desde a época do mensalão parece que enfrentará por estes tempos o ápice nevrálgico.
 
Dilma tem uma crise econômica de grande monta para domar. Um monstrengo que, desgraçadamente, se soma com a perda de sua popularidade, credibilidade e governabilidade. Ela corre o risco de ver suas contas rejeitadas no TCU por causa das pedaladas fiscais, algo que abrirá uma janela de oportunidade inédita aos seus opositores. Com isso, a palavra impeachment ganhará mais força. 
 
Toda energia negativa que está se acumulando em torno de si é insuportável. São crises sucessivas desde o momento em que se elegeu. Ela escolheu um péssimo momento para fazer dieta. 
 
A ansiedade que deve estar vivendo só se debela com saciedade. Controlar a fome é o mesmo que negar a necessidade de sobreviver com a força da energia vital. Daí, o uso da perfeita metáfora em torno de sua fragilidade crescente, sua debilidade política alarmante e seu isolamento evidente. Dilma encontrou-se com a sua nova personagem por meio da busca incessante da esqualidez.
 
Lula, por sua vez, percebe com mais clareza de que a chance de ser apontado como o centro decisório dos maiores esquemas de corrupção já conhecidos no Brasil ultrapassa a linha divisória de ser uma hipótese improvável para se transformar numa realidade palpável. As prisões dos até então inatingíveis de Marcelo Odebrech e Otávio Azevedo (Andrade Gutierrez) criam o fato novo e insólito para o petismo.
 
Parece que a ficha caiu: toda a operação Lava Jato convergirá para Lula. Ele agora “desconfia” que poderá cair nos braços do Juiz Sérgio Moro, com aquelas famosas canetadas das sextas-feiras. Não deve estar feliz.
 
O mundo é cruel. Dilma está enroladíssima. Lula parece que se dirige ao cadafalso. O PT se comporta como um desesperado nos seus estertores. Pra piorar o quadro, Nicolás Maduro detona fogo amigo ajudando as  oposições, impedindo senadores brasileiros de visitar presos políticos na Venezuela, colocando Dilma de cócoras no quesito “afinidades ideológicas”.  
 
No meio disso, a chamada “pauta conservadora” de Eduardo Cunha avança, a economia esboroa e o otimismo geral se esvai. Pior: idéias salvacionistas que circundam o ajuste fiscal e a reforma política indicam que o País vive um momento em que as mudanças podem até acontecer, só que para piorar, além de murchar qualquer perspectiva de alteração do quadro em médio e longo prazos. 
 
O grande drama de todo esse processo é que a sociedade – conceito amplo demais para se colocar a amplitude da ânsia que vive cada cidadão no momento, mas vá lá – está aprisionada voluntariamente no jogo de uma governante incompetente, de um líder populista corrupto e de partidos inescrupulosos. 
 
Diante disso, as mazelas burocráticas e os costumes paquidérmicos, paradoxalmente, se fortalecem, criando uma maçaroca cultural que coloca as pessoas sensatas no seguinte dilema: protestar é inútil; aplaudir atos corajosos do judiciário e da Polícia Federal é temerário; lutar dentro do sistema político parece ser atitude ingênua; apoiar a volta dos militares é maluquice; mandar às favas qualquer ativismo ou senso crítico parece ser algo racional embora inútil; enxergar a saída nos aeroportos representa, em algum ponto, um gesto inteligente a ser considerado. 
 
Enfim: nossos sentimentos são difusos e os nossos carcereiros estão confusos. Esse cenário é temeroso sob vários aspectos. O primeiro problema é que somos obrigados a depositar nossa fé e esperança nas mãos de gente que não presta. O segundo, é que a transparência é escassa, não sabemos o tamanho do problema (as últimas informações dão conta de que o Governo terá que tapar um buraco de R$ 100 bilhões, mas só conseguirá R$ 15 bilhões pra isso, ou seja, o ajuste não vai resolver). 
 
Terceiro: as massas (chamemos de sociedade ou cidadãos ou eleitores) entrarão em fase de empobrecimento gradativo e ficarão cada vez mais estupidificadas com a falta de respostas e das ações do Estado. Daí, as pessoas se tornam presas fáceis do populismo, das mistificações e das famosas teorias das conspirações. Não será fácil viver na pele dos brasileiros.
 
(*Dante Teixeira de Godoy Filho é jornalista militante em Campo Grande MS - dantefilho@terra.com.br)
 


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Postado por: Dante Filho (*), 22 Junho 2015 às 19:20 - em: Falando Nisso


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