Ordem e Progresso Pedro Kemp (*)

Ordem e Progresso

As ruas estão vazias. As camisetas verde-amarelas da CBF voltaram para os armários. As panelas estão silenciosas. Tudo voltou a ser como antes no cenário político. As velhas raposas retornaram aos postos do poder. O país recuperou a tradicional política da ordem e do progresso.
 
A ordem foi restaurada por um ministério de homens brancos, ricos e de opiniões conservadoras. Homens tementes a Deus, defensores da moral e dos bons costumes, mas apenas defensores, uma vez que não servem de exemplos dos valores que pregam. Ordenaram às mulheres o retorno às atividades domésticas, aos negros a submissão aos espaços inferiores, aos LGBT’s a condição de marginais e transgressores dos padrões da moralidade, aos artistas o lugar de desocupados, condenando os “esquerdistas”, “bolivarianos” e “parceiros de Cuba” como corruptos e inimigos da família.
 
Para preservar a ordem, preparam a aprovação de algumas medidas que consideram fundamentais, como a redução da maioridade penal, que, segundo creem, contribuirá decisivamente para diminuir a violência no país; o projeto “escola sem partido”, para acabar com a doutrinação de esquerda das crianças nas escolas; a mudança do estatuto do desarmamento, a fim de armar a população contra os criminosos; o fim das demarcações das terras indígenas, afinal, para que querem tanta terra os índios se não produzem, não criam gado e não plantam soja e milho para exportar?
 
O caminho para o progresso também foi restabelecido e agora o país marcha a passos largos na direção de vencer a crise econômica e voltar a crescer. As palavras de ordem são reduzir os gastos e atrair investimentos. Como? Fazendo cortes nos programas sociais como o Bolsa Família, uma vez que esse programa tem muitos desvios e acomoda os pobres que não querem mais trabalhar; limitando gastos com saúde e educação, até porque o atendimento universal do SUS precisa ser revisto, gasta demais e não funciona, e o piso salarial dos professores está quebrando as prefeituras e governos estaduais; terceirizando as atividades fins nas empresas privadas e no serviço público e flexibilizando a legislação trabalhista, pois a CLT é atrasada e os encargos sociais são pesados e emperram a economia; permitindo a compra de terras por estrangeiros, pois vão trazer investimentos para o país; fazendo a reforma da Previdência, pondo fim ao rombo nas finanças públicas causado pelo pagamento dos vencimentos dos aposentados e pensionistas.
 
Há muitas outras propostas que a equipe ministerial planeja executar, mas antes precisa concluir o processo de impeachment da presidente afastada. Tudo visando o progresso... do capital financeiro e rentista, das empresas e indústrias, do agronegócio. Chega de ideologia, chega de preocupação social, de combate à fome e à miséria, de direitos humanos. Os pobres já estavam indo longe demais, viajando de avião para cima e para baixo, ingressando nas universidades e invadindo os shopping centers. Essa história de cotas para negros e pobres só está prejudicando a formação profissional dos mais preparados e capazes, que irão ajudar o Brasil a se tornar um país desenvolvido. Menos ideologia e mais progresso.
 
Quanto à Operação Lava Jato, esta já pode ir caminhando para o seu desfecho, visto que cumpriu bem o papel de criminalizar o PT, partido mais corrupto da história do Brasil, e prender suas principais lideranças. Não tem porque prosseguir, pois as denúncias que envolvem outros políticos e partidos são meros indícios e ilações de delatores que só querem se livrar da prisão. Onde já se viu envolver tantos políticos tradicionais, homens honestos e bem relacionados, inclusive com os membros insuspeitos da Suprema Corte?
 
Agora, sim. Abram alas para a passagem da tocha olímpica. Vamos celebrar com festa os jogos que unem as nações, afinal nosso país trouxe de volta a ordem e caminha novamente rumo ao progresso.
 
(*Pedro César Kemp Gonçalves é psicólogo, filósofo e deputado estadual pelo PT em MS)
 


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Postado por: Pedro Kemp (*), 25 Junho 2016 às 13:00 - em: Falando Nisso


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