Carlos Marun (*)
Ópera bufa
O Presidente Lula desde o 2º Turno da eleição vem se referindo ao Impeachment como um “golpe”. Agiu assim inclusive em reuniões realizadas com outros Chefes de Estado na Argentina e no Uruguai. Isto provocou imensa contrariedade no Presidente Michel Temer que respondeu em tom elevado mas firme.
No dia 13/02, na solenidade de aniversário do PT, após afirmar que agora vai “governar do seu jeito”, voltou a se referir desta forma ao afastamento de Dilma Roussef do poder, no que foi seguido pelo Diretório Nacional do seu Partido, que reafirmou isto em Resolução do seu Diretório Nacional. Sim, o mesmo PT que apoiou o impeachment de Collor e apresentou dezenas de pedidos de afastamento de FHC.
Pois bem, o impeachment de Dilma Roussef foi, como devem ser os impeachment’s, um processo Júridico/Político pedido pelas ruas, apoiado inclusive pelo hoje Vice-Presidente Geraldo Alckmin, surgido a partir da identificação pelo Tribunal de Contas da União(o hoje ministro José Múcio votou favoravelmente a esta tese) do crime de responsabilidade, autorizado pela Câmara e aprovado pelo Senado(vários hoje ministros e ministra de Lula votaram favoravelmente a ele) e respaldado pelo Judiciário, através de decisões colegiadas e de Levandorsky, que presidiu o Processo.
Na verdade, o próprio PT não resistiu com vigor, decepcionado com a incompetência administrativa e política de Dilma e revoltado com o fato de ela não ter devolvido a Lula a condição de ser o candidato do Partido à Presidência em 2014.
Ao taxá-lo como um golpe, Lula comete o mesmo erro cometido por Bolsonaro: querer agradar somente a parte mais radical dos “seus”. É certo que na sua última fala sobre o assunto estava na festa de aniversário do seu partido, mas mesmo assim ele infelizmente está demonstrando não estar, pelo menos até agora, à altura do momento histórico que o país vive, onde faz-se absolutamente necessária uma mínima reconciliação.
O momento é diverso de 2002, quando Lula venceu a eleição em função de bandeiras históricas que o seu partido defendia. Desta vez a vitória muito mais estreita se deu em um país rachado praticamente ao meio que precisa ser pacificado.
A reconciliação a que me refiro deve começar a partir de alguns consensos e penso que o primeiro deles é o respeito ao Estado Democrático de Direito, tão ameaçado pela verborragia de Bolsonaro e pelas ações do 08 de Janeiro.
Aí está o principal problema desta retórica tosca que está sendo utilizada por Lula. Não há como alguém se dizer Democrata e, ao mesmo tempo, negar a Legalidade de um processo previsto e levado a efeito em absoluta conformidade com a Constituição. Chamar o impeachment de “Golpe” é renegar o que está posto na nossa Carta Magna. Isto sim é coisa de golpistas e não de genuínos democratas. Ao agir assim o Presidente Lula se distancia da possibilidade de utilizar o respeito à Constituição como o primeiro consenso a ser estabelecido na busca de uma pacificação nacional.
Lula foi vítima de uma real tentativa de Golpe de Estado em 8 de Janeiro. Deveria ter aprendido o que é isto! Espero que cessem definitivamente estás falas que se constituem em atos desta ópera bufa que apresenta a ideia de que o processo absolutamente legal e constitucional vivido pelo Brasil com o afastamento de Dilma Roussef da Presidência tenha sido um “Golpe”.
Salvo se estivermos falando de um “Golpe de Sorte”!
(*Carlos Eduardo Xavier Marun é advogado, engenheiro, ex-deputado federal por MS e ex-ministro da Secretaria de Governo)
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Postado por: Carlos Marun (*), 18 Abril 2023 às 11:45 - em: Falando Nisso