O tal depois... Heitor Freire (*)

O tal depois...

Nos afazeres do cotidiano moderno, com tantas exigências, cobranças, urgências, prioridades, quase sempre nos vemos com contingências inadiáveis, que acabamos, algumas vezes, procrastinando. E assim, vamos adquirindo um vício, o tal “depois”, que nos tiraniza e domina, quando passivamente aceitamos o seu domínio.
 
Depois eu vejo, depois eu faço, depois do almoço, depois do Carnaval, depois das férias, depois do trabalho. Enfim, são infinitas as modalidades desse vício que nos envolve de forma muito silenciosa. E do qual demoramos para nos dar conta.
Quando se consegue livrar de suas garras, ocorre uma verdadeira libertação, pois as nossas ações passam a ser consequentes e verdadeiras.
 
O vício de adiar as ações não é força de expressão, ele torna-se um mau hábito que nos escraviza sem percebermos. Frequentemente me vejo em suas garras. E luto para me libertar disso. Não é fácil. Mas é necessário.
 
O “depois” é a ferramenta preferida do ego. Ele empurra com a barriga e adia tudo.
Esse vício faz parte da nossa natureza, pois criamos desculpas para adiar tarefas complexas, intricadas ou desinteressantes. Faz toda diferença pensar nas razões mais significativas do dia-a-dia. E ele age como verdadeira auto sabotagem.
 
Deixar para depois acaba nos estressando e nos obriga a correr para fazer o que deveríamos ter feito antes. É, na verdade, uma bola de neve, porque no momento nos deixa aparentemente felizes, soltos, mas quando o dever nos chama, acaba impactando no nosso bem-estar.
 
E a coisa não é de hoje. Epicteto (50-138 d.C.) foi um filósofo grego estoico que viveu a maior parte de sua vida em Roma, como escravo. Dentre seus muitos ensinamentos, deixou esta mensagem que mostra claramente que deixar para depois é uma atitude que já estava no comportamento das pessoas desde aquela época.
 
“Agora é a hora de levar a sério seus ideais. Por quanto tempo você pode adiar quem você realmente quer ser? Seu eu mais nobre não pode esperar mais. Coloque seus princípios em prática — agora. Pare com as desculpas e a procrastinação. Esta é sua vida! Você não é mais uma criança… A partir deste momento, prometa parar de se decepcionar. Separe-se da multidão. Decida ser extraordinário e faça o que você precisa fazer — agora.” 
 
Como quase tudo em termos de comportamento, emoções e outros temas referentes à saúde mental, a procrastinação pode ser resultado de uma combinação entre elementos biológicos (genéticos, psiquiátricos, neurofisiológicos) e aqueles aprendidos pelo ambiente em que vivemos. 
 
A principal característica do indivíduo procrastinador é postergar uma ou mais tarefas, especialmente aquelas que exigem maior comprometimento, como decisões complexas e atividades que não geram prazer ou não trazem benefício imediato. 
 
Em geral, esse é um comportamento irracional, pois evita ao máximo a responsabilidade, a pressão e o peso emocional que algumas situações, trabalhos e compromissos provocam, especialmente quando estão relacionados ao medo, à insegurança, à ansiedade, à falta de confiança e às incertezas sobre o que precisa ser feito, e à preguiça mesmo. 
 
Como um hábito adquirido ao longo da vida, em geral a procrastinação é considerada uma atitude normal, mas pode se tornar um vício quando passa a ser frequente. 
Afinal, muitos dos conselhos apresentados se concentram nas habilidades de que um bom procrastinador mais carece: disciplina, foco e organização.
 
Todos nós somos um pouco procrastinadores, mas quando isso se torna um vício e começamos a adiar muitas coisas, acabamos não fazendo nada. Esse vício atrapalha a vida de todos que são vítimas do seu uso. Reconhecer o hábito procrastinador já é um grande passo para a mudança.
 
Então, vamos lutar para nos livrar desse vício tão escravizante.
 
(*Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)


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Postado por: Heitor Freire (*), 04 Março 2023 às 08:00 - em: Falando Nisso


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