Dante Filho (*)
O que os políticos podem fazer
Sentimos a crise braba em todas as suas esferas: federal, estadual e municipal. O mundo esboroa. O País retroage, nosso Estado está parando e o município vive seu caos particular. A sociedade está inquieta. Deseja ardentemente o impeachment de Dilma e a prisão de Lula. Aguarda com ansiedade a queda de Eduardo Cunha e a ida de Renan Calheiros para o centro do furacão, além da punição de dúzias de maganos (aqui e alhures) que todos os dias habitam as páginas políticas ou policiais.
Em Mato Grosso do Sul a opinião majoritária indica (analisando variadas pesquisas) que há um compasso de espera em torno dos resultados do Governo Azambuja, fora da agenda arroz-com-feijão. A população parece ter compreendido que o PSDB chegou ao poder num momento complicado e, pacientemente, vem dando seus descontos, protelando um parecer consistente para o próximo ano. Noutras palavras, está valendo aquela brincadeira de que a gestão de Reinaldo tem sabor de suco de braquiária, embora fique difícil definir o que venha a ser isso, já que não se sabe direito o gosto dessa pastagem.
Em Campo Grande, não é preciso ser um observador atento para avaliar o que está acontecendo. As pessoas estão sentindo na pele a confusão que se armou depois que Alcides Bernal foi eleito: os buracos nas ruas, as greves pontuais, o abismo financeiro, sem contar a guerra política, com forte protagonismo do Poder Judiciário, ministérios públicos, Polícia Federal e Gaeco. O passado e o presente se confundem numa festa que parece não ter fim.
O quadro é atordoante. Os fatos que ocorrem na superfície e no submundo geram insegurança, ao mesmo tempo em que fortalece uma vontade vingativa de amplos espectros da sociedade ao saber que personagens aos quais se depositou “confiança eleitoral” mergulharam de cabeça na mais abjeta corrupção, criando esse elemento novo na paisagem brasileira: a dos super-ricos do capital alheio.
Com isso, consolida-se a cultura da desconfiança da classe política, tida e havida pela maioria como responsável direta pelo quadro de infelicidade coletiva em que vivemos. E a tendência é de piora nos próximos tempos. É raro encontrar um cidadão que nutra qualquer sentimento de respeito por aqueles que habitam as esferas de poder. Do jeito que as coisas estão evoluindo, é provável que vamos assistir ao dia em que deputados, vereadores, senadores, prefeitos, governadores etc., sejam obrigados a viver submersos, ocupando um espaço de completa ocultação de suas respectivas identidades.
Sociólogos, cientistas políticos e palpiteiros profissionais são convocados com certa sofreguidão para explicar, diagnosticar e apontar saídas para essa bagunça geral e sua fenomenologia. Percebe-se que a dura realidade esgotou a criatividade marqueteira. Muitos se refugiam no auto-engano, outros encaram sem nenhuma desfaçatez a “crítica da política e dos políticos” como se não pertencessem aos esquemas que dão forma e substância ao modelo representativo falido em que vivemos.
Até onde a vista alcança uma boa estratégia de sobrevivência para este momento sufocante é o de falar a verdade e agir de acordo com a palavra dada. É difícil bufar ética e probidade mantendo uma camarilha de bandidos ao lado. Olhem o entorno de Dilma e de tantos outros que estão aí proclamando inocência e santidade, acreditando que a opinião pública sofre de idiotia crônica. Se a classe política quiser passar esse momento longe do risco de ser jogada na lata de lixo da história deve ajudar a fortalecer as instituições e aceitar os erros cometidos, sacrificando inclusive aqueles que se consideram inatingíveis.
Não se faz omeletes sem quebrar ovos. Não existe possibilidade de um País atingir o desenvolvimento e fortalecer sua democracia sem uma pedagogia cruel que demonstre claramente que toda nudez será castigada e todos os canalhas amargarão pelos menos alguns dias em cana dura.
(*Dante Teixeira de Godoy Filho é jornalista militante em Campo Grande MS - dantefilho@terra.com.br)
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Postado por: Dante Filho (*), 19 Outubro 2015 às 14:45 - em: Falando Nisso