O que Delcídio e Silvério dos Reis têm em comum? Fábio Martins Neri Brandão (*)

O que Delcídio e Silvério dos Reis têm em comum?

Uma coisa está me intrigando. Por que o Senador Delcídio do Amaral passou em um piscar de olhos de correligionário do PT a pior inimigo do PT ? Depois de avaliar o atual cenário político, as investigações da Lava Jato e o conteúdo das delações premiadas, cheguei a uma conclusão. Nos AUTOS DA DEVASSA, processo judicial movido pela Coroa Portuguesa contra os inconfidentes mineiros, Silvério dos Reis, depois de ser preso e torturado, delatou Tiradentes e ofereceu sua cabeça a Coroa, e após foi recompensado não só com o perdão, mas também com favores do Reino, como ter recebido em Lisboa, o foro de fidalgo da Casa Real e o hábito da Ordem de Cristo. Além disso, suas dívidas com a Coroa Portuguesa teriam sido perdoadas, e ele teria recebido ouro, uma mansão e o cargo público de tesoureiro da bula de Minas Gerais, Goiás e Rio de Janeiro, tudo isso por ter delatado à Coroa a existência de atos de crime de Lesa Majestade.
 
Já nos AUTOS DA OPERAÇÃO LAVA JATO, processo judicial movido pela "República de Curitiba", com Relatoria no STF de processos envolvendo pessoas com prerrogativa de foro, Delcídio vislumbra, tal qual Silvério dos Reis, os benefícios que podem lhes serem ofertados mediante a sua colaboração. Ocorre, que para desfrutar destes benefícios previstos em lei, bastaria a Delcídio tão somente dizer e indicar provas acerca de tudo aquilo que sabe em relação as investigações da Lava Jato. No entanto, quem leu as inúmeras páginas de sua delação, percebeu que ele disse TUDO e mais um pouco, disse até o que não era necessário dizer, disse até o que não lhe foi perguntado, e como diz o ditado, "quem fala demais dá bom dia a cavalo".
 
Nos corredores de Brasília, fala-se que o PSDB, por meio de intermediários (lobistas), negocia nos bastidores com Delcídio, ex-líder do governo, o seu recuo no colegiado das afirmações feitas por ele em delação premiada contra Aécio e, se possível, aproveitar para que ele faça acusações públicas contra a presidente Dilma Rousseff às vésperas da votação do afastamento dela pelo Senado. A partir daí, as coisas começam a clarear. É nítido que Delcídio não vislumbra apenas os benefícios da Lei nº 12.850/13 (Lei que dispõe sobre a colaboração premiada), o que de fato o move a falar tanto, são promessas espúrias negociadas no submundo de Brasília, das quais não sabemos seu inteiro teor, mas deduzimos que deva ser algo extremamente sedutor, assim como foi a recompensa de Silvério dos Reis, fruto da primeira delação premiada do Brasil. 
 
Delcídio que já foi do PSDB e nunca foi unanimidade dentro do PT, onde sempre foi considerado por muitos uma pessoa não confiável, mostra agora que será capaz de TUDO para livrar a sua pele e ainda tirar alguma vantagem disso, daí a razão para o seu distanciamento das bases petistas e da sua súbita aproximação de setores da oposição, passando de vilão a herói da noite para o dia. Confesso que para chegar a esta conclusão pensei em várias hipóteses e avaliei inúmeras circunstâncias, mas uma coisa é irrefutável, a HISTÓRIA. Na dúvida, recorra a história, ela é sempre implacável. Delcídio do Amaral tem tudo para ser o Silvério dos Reis dos tempos modernos e está disposto a entregar a cabeça de Dilma aos seus algozes. Já dizia Karl Marx: "A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa".
 
(*Fábio Martins Neri Brandão é advogado em Campo Grande)
 


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Postado por: Fábio Martins Neri Brandão (*), 29 Abril 2016 às 15:00 - em: Falando Nisso


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