Wagner Cordeiro Chagas (*)
O PT deve um pedido de desculpa ao Brasil
O ano de 2016 encerra-se e, sem dúvida alguma, uma marca dele será difícil de esquecer: o fim melancólico do governo do Partido dos Trabalhadores (PT) à frente da República brasileira. Em 2002 votei pela primeira vez para presidente, governador, deputados estadual e federal e senador. Meus conhecimentos a respeito de política e participação eram mínimos. No entanto, esse assunto sempre me interessava. Daí meu gosto por pesquisar História Política. Naquele pleito encantei-me pelo PT. Confesso que inicialmente pensava em votar no Ciro Gomes (PPS) para presidente.
Mas, as conversas com um vizinho, trabalhador rural, fizeram-me ver o ex-operário que disputava a presidência pela 4ª vez como um futuro presidente popular, dos pobres! Afinal, o PT é um partido nascido das bases, formado por operários, sindicalistas, estudantes, trabalhadores rurais sem-terra, professores, intelectuais de esquerda, líderes de alas progressistas da Igreja Católica, representantes de movimentos negro, indígena, feminista, LGBT, entre outros. Votei em Lula e para ser um pouco coerente com meus ideais também apertei o 13 para governador (Zeca), para deputado estadual (Ben-Hur), deputado federal (Biffi). No entanto, não segui a mesma linha para o Senado, pois escolhi Ramez (PMDB) e Pedrossian (PST).
O partido que se originou das greves de operários do ABC paulista entre 1978 e 1979, foi um dos responsáveis pela redemocratização do Brasil; que em 1992 conquistou a Prefeitura de São Paulo, ao eleger a retirante nordestina Luiza Erundina. Permitiu a uma negra e favelada do Rio de Janeiro representar seu povo na Câmara de Vereadores (Benedita da Silva). Possibilitou a uma militante do MST ser eleita prefeita em MS (Dorcelina Folador/Mundo Novo) (SECCO, 2011). Ao chegar à chefia do Estado brasileiro, por meio de alianças com setores conservadores da política nacional, precisou seguir uma cartilha bem diferente da que pregava.
Contudo, apesar de muitas críticas, vários projetos lograram êxito e grande parte população menos assistida do país pode se sentir, de certa forma, protagonista da história da nação, ao poder, por exemplo, ver o filho do trabalhador da classe média baixa ingressar numa universidade pública ou privada e cursar, com o mesmo grau de oportunidade, o que o filho de um “doutor” poderia fazer. Foi nesse contexto que me filiei ao PT, em 2007, tendo a ficha abonada por Pedro Kemp (um parlamentar fiel seguidor do velho PT idealista).
Entretanto, o partido errou, e muito, ao adotar métodos corruptos na lida com o poder. O PT que era visto como uma das agremiações políticas mais éticas da nação, de repente, a partir de 2005, por meio do escândalo do Mensalão, demonstrou à população uma face pouco conhecida de sua trajetória. Começava-se a perceber que ele possuía traços semelhantes aos dos partidos políticos tradicionais. Não bastasse isso, a legenda ao invés de se redimir, infelizmente, continuou seguindo os caminhos criminosos da política e se lambuzou nas propinas oriundas da Petrobras, reveladas por meio da operação Lava Jato. Decepcionado, desfiliei-me em 2015.
Em grave crise de confiança, creio que o PT precisa fazer uma autocrítica. É lógico que no partido - assim como nos outros - existem pessoas decentes, honestas, compromissadas com suas bandeiras, como a reforma agrária, direitos dos povos indígenas, diminuição das desigualdades sociais. O partido ao optar por outros caminhos, em concordância com um ex-petista de carteirinha, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), “colhe o que deixou de plantar”. Enfim, o PT precisa ser humilde e pedir desculpas ao país. Fazer, talvez, outra versão da famosa Carta ao Povo Brasileiro, de 2002, uma “Carta de Desculpas ao Povo Brasileiro”.
Feliz 2017!
(*Wagner Cordeiro Chagas é professor mestre de História e ex-militante do PT, em Fátima do Sul-MS)
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Postado por: Wagner Cordeiro Chagas (*), 28 Dezembro 2016 às 12:15 - em: Falando Nisso