O PSDB está sem rumo Dante Filho (*)

O PSDB está sem rumo

O PSDB parece atônito com as circunstâncias da crise que abalou o País depois das eleições de Dilma. Seria natural que, com o processo de esboroamento do PT, o PSDB assumisse o protagonismo do processo político, criando uma agenda nacional que indicasse caminhos para superar a bagunça econômica e o caos congressual que estamos vivendo. Não fez uma coisa nem outra. 
 
O PSDB fragmentou-se. Foi contaminado pela virose petista. Em vez de pensar como um partido político adotou o conceito de bando. Cada agrupamento interno analisou o cenário a seu gosto e amoldou-se conforme interesses exclusivos. Partiu-se para o cálculo pessoal, sem medo de ser feliz. A massa nas ruas gritava impeachment e as lideranças tucanas imaginavam, nos gabinetes, como tirar proveito da situação, cada um a sua maneira, momentaneamente e no futuro. 
 
O governador Geraldo Alckimin advogou a velha tese do sangramento lento, gradual e irrestrito da presidente. Claro, isso lhe era conveniente para seu projeto pessoal. Aécio, por sua vez, foi para as ruas na undécima hora porque sentiu que esse processo poderia desaguar com uma decisão de cassar os mandatos de Dilma e Temer, via TSE, e convocar novas eleições. Ele seria a bola da vez. 
 
Serra, com sua inteligência e abnegação, deu algumas reboladas e atuou nos bastidores, sonhando com a presidência de Temer e uma aliança estratégica com o PMDB. A cereja do bolo seria ele (Serra) no ministério da Fazenda, ungido czar da economia, se intrometendo em cada nicho do Governo e influindo em tudo e sobre todos durante suas madrugadas insones. 
 
O PSDB talvez não tivesse imaginado que esses caminhos seriam longos e que o tempo molda contornos inesperados. O ano passou na janela e só Carolina não viu. O fato irrecorrível é que o tucanato manteve intacta sua tradição: ficou sobre o muro enquanto assistia as peripécias de Eduardo Cunha no Congresso, sendo obrigado a engolir e a desdizer o que sempre disse no processo de votação de algumas das chamadas pautas bombas. Não deu certo.
 
Enquanto isso, a operação Lava-Jato seguia em frente, o carcereiro de Curitiba agia, Brasília era reiteradamente incendiada, mas o PSDB mantinha-se na famosa linha do racionalismo espectral, fazendo o combate parlamentar com punhos de renda, ficando meio perdido quando o Ministro Levy terminou seqüestrando uma agenda econômica que poderia chamar de sua, apesar de que, verdadeiramente, não era.
 
Fato: o PSDB não tinha uma proposta econômica amarrada que oferecia alternativa menos drástica do que Dilma (ainda) precisa fazer, mas que ninguém deixa. Por incrível que pareça coube ao PMDB fazer isso (pelo menor propor algo diferente), dando forma a um elenco de medidas nascida pelas mãos de teóricos tucanos, mas agora celebrada por 11 dos 10 principais economistas liberais do País.
 
O mais incrível de tudo foi no momento em que o ambiente político estava fervendo, o PSDB resolveu ser “cerebral” e guinar um pouco à direita, enquanto Lula ameaçava convocar o exército do Stedille. O bom-mocismo cansa, mas o tucanato exagera quando se trata de tomar decisões assertivas e contundentes em momentos cruciais como esses que estamos vivendo. Até nisso o PMDB, com todo seu fisiologismo e oportunismo, é melhor do que o tucanato. Neste aspecto, é indispensável constatar que o PSDB faz sempre o caminho inverso: se divide quando é necessário unir-se e se une quando tem que se dividir. 
 
Muitos teóricos do PSDB insistem numa tese que deve ser levada a sério: o partido ainda carrega o vício da arrogância paulista misturada com uma prática interna de neo-coronelismo. A militância só existe para obedecer chefetes. Estes não aceitam discordância. Quem discordar é inimigo. Sei por experiência própria. A vanguarda do atraso habita setores dominantes do partido.
 
O partido propugna-se moderno quando apregoa capitalismo com viés social, empreendedorismo e privatização para melhorar os modelos inclusivos, reformas políticas e adoção do parlamentarismo, fortalecimento das instituições etc, mas, longe dos olhos do público, pratica uma democracia interna restritiva à livre circulação das idéias e das críticas. Prefere o mutismo conveniente a permitir a expressão aberta sobre erros cometidos pelas cúpulas partidárias. Usa-se correntemente a famosa frase: o bom cabrito não pode berrar.
 
Dá pra mudar? Não sei. Mas um bom momento para o PSDB fazer uma inflexão sobre seu modelo infrapartidário será no próximo ano, quando acontecerão as eleições municipais. Espera-se que ventos frescos dos novos tempos influam nas decisões internas e que as candidaturas apresentadas à sociedade não sejam aquelas, em sua maioria, nascidas de acordos fechados em estufas que cultivam a velha tradição da cordialidade brasileira.
 
(*Dante Teixeira de Godoy Filho é jornalista militante em Campo Grande MS - dantefilho@terra.com.br)
 


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Postado por: Dante Filho (*), 23 Novembro 2015 às 15:45 - em: Falando Nisso


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