André Luiz Alves (*)
O poeta latino
Não estou interessado em nenhuma teoria, o que ele anda fazendo, o que ainda vai fazer. Interesso-me pelo que escreveu, por aquilo que me marcou. O que hoje faz aquele rapaz, latino americano, sem dinheiro no banco, é coisa de humano que se perdeu na rudeza da vida. Pouco me importa.
Gosto mesmo é de quando ele fazia esse mundo de meu Deus, fazendo ele mesmo o seu caminho, que não era só dele, mas de todos nós; jovens vestindo camisas coloridas, o dedo em V, num presente, hoje passado, no qual a mente o corpo era diferente. É provável que chegou o tempo negro que ele tanto temia, medo maior que o de avião, e trouxe junto aquele mal que a força sempre faz e então, cansado de não poder falar palavras, permitiu sem resistir, que a vida pisasse seu frágil coração.
O poeta, desses imortais, que carregamos guardadas na mente os versos que escreveu, desde os tempos em que havia galos, noites e quintais, houve um tempo em que era alegre como um rio, mas havia perigos na esquina, o qual não percebeu; as paralelas do destino, logo ali, na mão contrária, duas estradas nuas, e acabou fugindo do que é seu.
Um cara tão sentimental, dos tempos em que falavam os animais e que afirmava, numa convicção que não possuía: viver é melhor que sonhar. Ledo engano; poetas não vivem, sonham, residem num outro mundo, das ilusões, por que aqui, no mundo real, quanto mais se multiplica, diminui o amor.
Não pretendo sair do seu caminho, não quero que ande sozinho. O passado nunca mais? Precisamos todos rejuvenescer? Mas, como, se tudo que agora ouço é tchu, tchá, tchu, tchá!
Eu bem sei que ele sabe de que lado nasce o sol, e nisso me conforto, pois é onde bate os nossos corações; aflitos, ansiosos por notícias, pelo prazer de rever aquela figura mitológica, de longos cabelos e farto bigode, a voz nasalada que provoca prazer, que faz pensar e melhora nosso mundo, esse mundinho vulgar, sem espaços para os verdadeiros poetas.
Não vou sair do seu mundo, não pretendo que caminhe sozinho. Enquanto houver espaço, corpo, tempo e algum modo de dizer não; eu canto suas poéticas eternas canções, que depois delas, bem sei, não apareceu mais ninguém.
(*André Luiz Alves é empresário, formado em publicidade e propaganda pela Unisa de SP, ator do grupo de teatro Adote, escritor, autor dos livros "No Pantanal não existe pinguim" e "O santo de cicatriz". Nascido em Campo Grande-MS eM 16.02.1965, é casado com a Graziela Bartiê, pai da Andreza e do Bruno, botafoguense desde o ventre materno. acido13@gmail.com)
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Postado por: André Luiz Alves (*), 10 Dezembro 2012 às 11:26 - em: Falando Nisso