O plano Cruzado, a Constituinte e as eleições de 1986 em MS Wagner Cordeiro Chagas (*)

O plano Cruzado, a Constituinte e as eleições de 1986 em MS

Chegamos ao terceiro artigo da série sobre a história das eleições estaduais em Mato Grosso do Sul. Neste texto apresentamos como ocorreram as eleições de 1986. Naquele ano, após pouco mais de duas décadas sob o julgo dos generais presidentes, o Brasil era administrado por um civil: José Sarney. Paradoxalmente, José Sarney foi ligado ao regime militar até o ano de 1984, quando rompeu com o presidente general João Figueiredo e ajudou a fundar a Frente Liberal, que, naquela mesma data, aliou-se ao PMDB e apoiou o candidato das oposições às eleições indiretas de 1985, o ex-governador de Minas Gerais Tancredo Neves. José Sarney foi escolhido candidato a vice. Ambos foram eleitos e ajudaram a encerrar o período militar no País. No entanto, com a morte de Tancredo antes da posse, coube ao vice assumir o comando da nação.
 
José Sarney assumiu em meio a desconfianças de boa parte dos brasileiros, pois era muito recente sua saída dos quadros de apoio ao governo militar. No entanto, ele cumpriu o programa da Aliança Democrática e garantiu o processo de redemocratização nacional, com o retorno das eleições diretas para prefeituras dos municípios classificados como área de segurança nacional, a legalização dos partidos comunistas (PCB e PCdoB), a garantia do direito ao voto para os analfabetos, e a convocação de uma Assembleia Constituinte para elaborar a nova Carta Magna.
 
Dois dos maiores problemas, herança do regime autoritário implantado em 1964, eram a inflação descontrolada e o aprofundamento da desigualdade social. Para isso o governo Sarney adotou medidas de impacto na economia, como os planos de congelamento de preços, dos quais se destacou o Cruzado em 1986. O congelamento levou a um retorno do consumo, pois os trabalhadores tiveram, por alguns meses a oportunidade de não ver seus salários corroídos dia-a-dia pela elevação dos preços. Isso gerou uma enorme euforia e a popularidade do presidente cresceu.
 
Foi nesse contexto, que no ocorreu a campanha eleitoral para governador, deputados federais, estaduais e senadores, em 1986. Em Mato Grosso do Sul foi a segunda eleição para governador, tendo como candidatos: o engenheiro civil e então senador Marcelo Miranda Soares (PMDB), o pecuarista e ex-prefeito de Campo Grande Lúdio Martins Coelho (PTB) e o professor universitário Luiz Landes Pereira (PT).
 
Favorecido pelos bons resultados da gestão peemedebista de Wilson Barbosa Martins e Ramez Tebet, e, principalmente pelo Plano Cruzado, o vencedor foi Marcelo Miranda, que havia governado o estado entre 1979 e 1980, por nomeação. Vale ressaltar que no Brasil, o PMDB naquele dia 15 de novembro elegeu os governadores de 22 dos 23 estados existentes (apenas o Sergipe elegeu um governador do PFL, partido que era aliado ao PMDB). Após garantir o resultado favorável nas urnas, o governo José Sarney aplicou um verdadeiro golpe no povo brasileiro, ao descongelar os preços, permitindo a elevação dos mesmos a 100%.
 
Para deputado estadual foram eleitos, pelo PMDB: André Puccinelli, Pedro Dobbes, João Leite Schmidt, Akira Otsubo, Jonathan Barbosa, Cláudio Valério, Carlos Fróes, Ricardo Bacha, Valdenir Machado, Benedito Leal, Ozeias Pereira, Onevan de Matos e Waldemir Moka. Pelo PFL: Londres Machado, Roberto Razuk, Marilú Guimarães, Ary Rigo, Cícero de Souza, Daladier Agi e Zenóbio dos Santos. O PTB elegeu Armando Anache, Nelson Trad e Walter Carneiro. O PDS foi representado por Marilene Coimbra. Como se pode observar, aquele pleito marcou algo inédito na história do Legislativo estadual: a eleição das 2 primeiras deputadas.
 
Para a Câmara dos Deputados, o PMDB elegeu Plínio Barbosa Martins, Ivo Cerzósimo, Rubén Figueiró e Valter Pereira. Do PFL: Ghandi Jamil, Levy Dias e Saulo Queiroz. O PDS elegeu José Elias Moreira.
 
Ao Senado Federal concorreram 10 candidatos, do PMDB, PTB e PT. Naquela época ainda vigorava a sublegenda para o cargo de senador. Assim o PMDB lançou 3 chapas com 2 nomes cada: Wilson Barbosa Martins, Rachid Saldanha Derzi, Roberto Orro, Totó Câmara, Adeir Maia e Marco Lúcio. O PTB tinha como nomes Pedro Pedrossian e Paulo Coelho Machado, contudo, o último não foi registrado na sublegenda de Pedro Pedrossian. A consequência disso foi que Pedrossian, apesar de ter obtido sozinho, mais votos do que o candidato Rachid Derzi, não foi eleito, pois seus votos não somaram com os da sublegenda. Com isso, os eleitos foram Wilson e Rachid.
 
Os deputados federais e senadores eleitos por Mato Grosso do Sul teriam pela frente a experiência de participar de um dos momentos mais importantes da história do Brasil, a elaboração da Constituição Federal de 1988.
 
(*Wagner Cordeiro Chagas é mestre em História pela UFGD e professor em Fátima do Sul, pesquisa sobre história política de MS desde 2007 e é autor do livro “As eleições de 1982 em MS” - 2016)


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Postado por: Wagner Cordeiro Chagas (*), 30 Agosto 2018 às 10:15 - em: Falando Nisso


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