Valfrido Silva (*)
O legado de seu Jorge, o Elias Zahran, ao jornalismo do MS
Na bela retrospectiva dos grandes feitos empresariais da vida de Jorge Elias Zahran – o seu Jorge, como bem dito por Cláudia Gaigher – no dia de sua morte, faltou seu mais importante legado: na área empresarial é dele também o mérito não apenas pela consolidação da TV Morena como empresa, mas, principalmente, do conceito do jornalismo feito nas emissoras da Rede Mato-grossense de Rádio e Televisão, indiscutivelmente o melhor do Estado.
Fundada em 1965, só na virada da década de 1980, com a chegada de Arceno Athas, é que a TV Morena conseguiria cortar seu cordão umbilical com a Copagaz – a maior empresa do Grupo Zahran. Com carta branca de Jorge Zahran, o executivo enviado pela Rede Globo deu uma roupagem profissional à então acanhada afiliada. Nessa época até a folha de pagamentos da emissora era feita na empresa-mãe. Como quem paga manda, Waldemar Just Horn, o poderoso executivo do gás e homem de confiança de Ueze Zahran era quem dava os pitacos no que entendiam como “jornalismo”.
Na medida em que foi fazendo a TV se pagar, num tempo em que os clientes precisavam marcar audiência com Gaspar Silva para conseguir um encaixe publicitário, Arceno começou a mudar também a cara do jornalismo que via mais marrom do que “moreno” propriamente dito. Para mexer nesse vespeiro, só com alguém de fora. Foi quando Ecilda Stefanello, gaúcha de Cruz Alta, recém-formada na PUC de Porto Alegre com passagem por Campo Grande, mas sonhando fazer cinema na Europa, foi conhecer a emissora. Idealista e entusiasmada, caiu na rede, suprindo a necessidade da mudança conceitual, mas, diplomática, recusando-se a mexer no modus operandi da coisa. A estratégia se completa com um atrevido escrevinhador interiorano.
Por indicação de Luiz Carlos Mattos, comecei produzindo o Jornal do Interior, embrião do MS Rural. Daí, para a chefia de redação, em Campo Grande. E do contato diário com Jorge Zahran, a missão de acabar com uma panelinha que usava o jornalismo para fazer negócios. Fui enrolando, enrolando; ele cobrando, cobrando, até que veio o ultimato. Era um começo da tarde, chovia torrencialmente e Jorjão plantado ali com a mão na maçaneta da sala do jornalismo: “você vai me preparar um relatório, hoje, apontando soluções; quero isso pronto amanhã cedo”.
Ordens são ordens. Mais do que nunca eu precisava ser verdadeiro. Varei a noite na redação do mais infeliz de meus textos, mas um tratado que mudaria a história do jornalismo da TV Morena. Não demorou 24hs, encomenda entregue. Conforme folheava o fatídico relatório, seu Jorge, pacientemente, balançava a cabeça em sinal de concordância. No dia seguinte, diretoria reunida, para constrangimento geral, após a leitura feita por Pedro Dobes, seguindo-se interminável bate-boca. Saí dali incumbido de colocar em prática tudo o que havia sugerido. Toma! Menos de um mês depois o então chefe de jornalismo, Isaias do Patrocínio, cria do patriarca Eduardo Zahran e, como tal, tido como intocável, põe a faca no pescoço de Jorjão: “ou ele ou eu”. Fomos os dois pra rua. Eu, com uma carta de elogios e agradecimentos de Jorge Zahran pelos relevantes serviços prestados.
Voltaria, ainda, à TV Morena, em mais três situações: logo em seguida, num conluio envolvendo o governador Pedro Pedrossian e seu secretário de Indústria e Comércio, ninguém mais ninguém menos que Jorge Zahran, para um curto período como interventor. Anos depois, convidado por Ueze Zahran, como diretor de Jornalismo da Rede, ambas as situações merecendo capítulo especial num dos livros que estou para lançar. E, só não dando uma guinada de 360 graus, ao encerrar minha trajetória no Grupo Zahran como coordenador de jornalismo na sucursal de Dourados porque antes, em 1973, tive curta passagem pela gloriosa PRI-7, a rádio Difusora, nos tempos, ainda, de Walmor Aguiar, na Barão do Rio Branco.
(*Valfrido Silva é jornalista e blogueiro em Dourados - MS)
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Postado por: Valfrido Silva (*), 30 Maio 2015 às 18:30 - em: Falando Nisso