Heitor Freire (*)
O homem propõe e Deus dispõe
“O homem imagina muitos planos, mas o que permanece é o projeto do Senhor”(Pr 19,21),
O homem, em função dos grandes feitos que realizou ao longo da história, adquiriu uma certa arrogância por se considerar autor de todo o progresso conquistado com sua própria inteligência. Mas se esquece que, na realidade, ele é apenas um coautor utilizado por Deus para dar sequência ao Seu projeto divino.
Por meio da razão e da imaginação podemos criar um plano de trabalho a ser realizado num devido tempo. Devemos plantar e aguardar a colheita para usufruirmos o melhor resultado do nosso trabalho. É o que acontece normalmente. Muitos são os ensinamentos das mais diferentes correntes de pensamento, da própria religião e diversas filosofias que ensinam a utilização da mente para se obter um resultado desejado.
Exemplos existem a mancheias para embasar esses ensinamentos, o que fortalece a convicção da realização e da conquista de nossas metas.
Mas quando os planos de Deus divergem dos planos do homem e a ação da vontade do Senhor se manifesta de forma definitiva, abre-se um vácuo, um vazio de grande frustração. Daí a necessidade de sempre orarmos e buscarmos a orientação divina, a fim de recebermos a inspiração que nos possibilitará a realização dos nossos objetivos – ou, em caso contrário, a aceitação da vontade divina.
A Bíblia, no Antigo Testamento, tem uma classificação dividindo por partes todo seu ensinamento. Assim, temos os Livros Sapienciais. Nestes, destaca-se O Livro de Jó. A Bíblia narra que Jó era considerado o homem mais justo sobre a face da Terra.
Em O Livro de Jó, 1, 6-13, dá-se um diálogo entre Javé (Deus do Antigo Testamento) e Satanás. E este propõe que Jó fosse colocado à prova, a fim de se verificar se Jó era realmente um homem justo. Javé concorda, e então Satã provoca uma mudança radical na vida de Jó. De homem rico, de família numerosa e muitas propriedades, de uma hora para a outra, Jó se vê despojado de sua família e de todos os seus bens. Diante do infortúnio, Jó dizia: “O Senhor me deu, o Senhor me tirou, louvado seja o seu Santo Nome” (Jó, 1,21).
O Livro de Jó narra também um longo diálogo que ele manteve com três amigos, Elifaz de Temã, Baldad de Suás e Sofar de Naamat. O diálogo tem início com Jó se lamentando. No entanto, durante o diálogo, Jó vai aceitando o sofrimento e ao final ele fala com Javé. Jó se retrata e se arrepende por ter se lamentado, e então ele passa a recuperar todos os seus bens e a constituir uma nova família, abençoado por Javé. O exemplo de Jó é muito significativo para se entender que o homem propõe e Deus dispõe.
O fato de ter projetos para a vida, ou muitos planos no coração do homem, é natural. Não é errado se organizar e traçar rumos para o futuro, seja a curto ou longo prazo.
Na verdade, é recomendável ser precavido e ter objetivos na vida. Entretanto, o homem não consegue, por si só, garantir a concretização dos seus planos. Por isso, a fraqueza e a falibilidade humana proporcionaram ocasião para Tiago, discípulo de Cristo, escrever o seguinte: “Ouçam agora, vocês que dizem: ‘Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro’. Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa” (Tg, 4.13,14). Assim, o homem depende de alguém mais poderoso que ele para levar seus projetos adiante.
O rei Salomão, depois de fazer certo mistério sobre o desfecho dos planos do homem, revelou que, no fim das contas, “o que prevalece é o propósito do Senhor”. Com isso, ele mostra que o ser humano é limitado e revela que Deus não se sujeita aos homens, reservando para si a liberdade de escolher os rumos da nossa vida sem que ninguém o possa impedir ou dissuadir (Jó 42,1-6).
Ou, como diz a famosa oração: “Senhor, dai-me força para agir sobre as coisas que posso mudar, resignação para aceitar as que não posso mudar, e sabedoria para distinguir umas das outras.”
Assim, usar o discernimento, a faculdade que Deus nos concedeu de decidirmos o caminho a tomar, com consciência e fé, cumprindo o mandamento que Jesus nos ensinou, poderemos cada um traçar o seu próprio destino. Sem conformismo, mas com ação e perseverança. Como diz um ditado: “É melhor se apressar sem pressa”.
(*Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)
Deixe seu comentário
Postado por: Heitor Freire (*), 18 Junho 2022 às 14:30 - em: Falando Nisso