Fábio Brandão (*)
O Hipster da Federal
Vejam que notícia interessante. Em 2014 o policial que escoltou Cunha em sua prisão e que ficou conhecido nas redes como "Hipster da Federal", postava em sua página no Facebook que era a favor do impeachment da presidente Dilma. Curioso é que estas postagens foram feitas antes mesmo de sua reeleição, quando ainda nem haviam sido cometidas as tais "pedaladas fiscais". E não para por aí, o sujeito é persistente. Depois da reeleição, fez postagens dizendo que não acreditava no resultado e que as urnas foram fraudadas, aderindo a teoria da conspiração de que o verdadeiro vencedor foi o então candidato do PSDB Aécio Neves. Tal fato não seria grave caso este rapaz não fosse um policial federal, e mais, um policial atuante em investigações de corrupção envolvendo partidos políticos, inclusive o partido da ex-presidente Dilma Rousseff. Mais grave ainda é a Polícia Federal encobertar o posicionamento público de seus agentes sobre assuntos relacionados a política. Isso afeta significativamente a imagem da Instituição e passa a mensagem de que há PARCIALIDADE nas investigações. Essa proteção consubstancia-se em pequenos atos, como por exemplo quando Cunha foi levado ao IML para fazer exames de corpo delito.
Nesta ocasião, um dia depois de sua prisão, portanto um dia após ter sido descoberta as postagens do famoso "Hipster", os policiais que escoltaram Cunha apareceram todos mascarados, para que ninguém os identificasse e descobrisse seus passados. É certo que não existe ninguém completamente imparcial, todos somos parciais, simplesmente porque somos seres humanos, mas é preciso existir ÉTICA na parcialidade, e atitudes como essas demonstram que além de possuirmos uma Policia Federal majoritariamente de direita, o elemento ética me parece não estar inserido na conduta de muitos membros da instituição. Podemos definir este episódio como sintomático de uma Polícia Federal ideológica, que escolhe o lado que vai investigar.
E o caso Hipster da Federal não é isolado, muito pelo contrário, na eleição de 2014 muitos delegados da Polícia Federal posicionaram-se abertamente em suas páginas nas redes sociais sobre quem estavam apoiando na eleição Presidencial. Eram corriqueiras as postagens dos delegados em apoio ao candidato derrotado no segundo turno e de ataques a Presidente Dilma Rousseff. Irônico isso, pois nos governos do PT a Polícia Federal foi muito mais bem tratada do que nos governos anteriores. O que tínhamos antes do PT era uma Polícia Federal sucateada, que jamais teria estrutura operacional para proceder aos níveis de investigação que realizam hoje.
Nos governos petistas o número de investigações aumentaram significativamente, e isso pode ser comprovado através de números. Entre 2003 e maio e 2014, a PF realizou 2.226 operações, em comparação com 48 realizadas durante os oito anos do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Além do trabalho da PF, o governo petista garantiu autonomia ao Ministério Público e fortaleceu os órgãos de fiscalização, como a Controladoria-Geral da União, criada em 2003 e o Conselho de Controle das Atividades Financeiras (COAF), que tem o papel de monitorar movimentações atípicas que possam caracterizar lavagem de dinheiro ou corrupção e enriquecimento ilícito de agentes públicos. Portanto o número de operações não se deve ao fato da corrupção ter aumentado, mas sim ao fato de que as investigações aumentaram. Como tínhamos uma PF inativa, o que havia antes era uma falsa percepção de que não havia corrupção. Com o aumento do número de operações, escancarou-se para a sociedade as entranhas do mundo do crime de colarinho branco.
A autonomia conferida pelos governos do PT a Polícia Federal e ao Ministério Público foi reconhecida inclusive pelo Procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da operação Lava Jato, que numa palestra proferida em São Paulo, afirmou que o PT, nos quatro mandatos na Presidência – Lula e Dilma – fortaleceu e deu autonomia à Polícia Federal e ao Ministério Público. Segue trecho de sua fala: “Um ponto positivo que os governos que estão sendo investigados, os governos do PT, têm a seu favor é que boa parte da independência atual do Ministério Público, da capacidade administrativa, técnica e operacional da Polícia Federal decorre de uma não intervenção do poder político”. E foi justamente essa AUTONOMIA garantida pelos governos do PT que acabou criando uma Polícia Federal absolutamente alinhada ideologicamente com o pensamento político da direita, e que se deixa levar por este viés na hora das investigações. É só observarmos o número de operações contra membros ou pessoas ligadas ao PT e o número de operações contra membros de outros partidos. A diferença é gritante. E isso não ocorre apenas na Polícia Federal, ocorre também nas carreiras do Ministério Público e Magistratura. Considerando que a corrupção no Brasil é generalizada e atinge toda a classe política, não podemos crer que o PT seja o único responsável por tudo.
Brasil afora existem muitos Policiais Federais, Delegados e Promotores de Justiça que foram candidatos a vereador ou prefeito neste último pleito. Alguns são deputados no exercício de mandatos, como por exemplo o Promotor Fernando Capez, Deputado Estadual (PSDB-SP), envolvido na Máfia da Merenda de São Paulo. A exemplo de Capez, um fato é comum a grande parte deles, qual seja, foram candidatos ou já exercem mandatos pelo PSDB. Coincidência ? Não sei, não acredito muito em coincidência. Talvez isso explique muito bem o fato de nenhum tucano ter sido preso na Ação Penal 470 (mensalão), e até agora na Lava Jato. Ainda existe um agravante de que o mensalão do PSDB foi anterior ao do PT e os crimes estão prescrevendo sem julgamento. Com dois anos de Lava Jato, os tucanos foram citados inúmeras vezes em delações e nada, até agora nenhum foi sequer conduzido coercitivamente. Será que encontramos a explicação para isso?
E não podemos esquecer do caso do Banqueiro Daniel Dantas, ligado ao PSDB, preso pela famigerada operação Satiagraha, uma das operações da PF mais obscuras da história deste país. Daniel Dantas posteriormente foi solto via intervenção de Gilmar Mendes, Ministro do Suprema Corte ligado ao PSDB, e as provas obtidas foram todas anuladas pelo STF, ficando o banqueiro criminoso solto. Quem foi condenado e expulso da Polícia Federal foi o Delegado Protógenes Queiroz, por ter captado provas ilícitas e autorizado vazamentos de informações sigilosas. Curioso é que o Juiz Sérgio Moro usa das mesmas práticas arbitrárias e não responde a sequer um processo disciplinar.
Enfim, num país onde as autoridades são sérias, policiais, delegados, promotores e juízes como esses não investigariam e nem julgariam mais ninguém, pelo contrário, seriam sim TODOS julgados e muito provavelmente condenados. O PT em 14 anos no poder optou por não aparelhar a PF, uma escolha REPUBLICANA do qual está pagando caro. A autonomia conferida pelo PT voltou-se contra si mesmo. Cada vez que vejo um policial federal, um delegado, um promotor ou um juiz extrapolando suas funções e agindo politicamente, fico entristecido pela instrumentalização política que nossa justiça vem sofrendo. Uma Polícia Federal e um Ministério Público que coordenam suas ações motivados por viés ideológico, não são capazes de fazer justiça. A punição de um só grupo político, quando na verdade existe um novelo de corrupção a ser desvelado em relação a diversos grupos ainda intocáveis, acaba por não combater a corrupção, mas sim garantir o seu monopólio.
Por "coincidência", em nossa capital a população elegeu um Policial Federal como vereador mais votado. Elegeu também um delegado. Adivinhem por qual partido ambos se elegeram. É isso mesmo, BINGO ! Pelo PSDB. É sabido que os aprovados nos concursos da Polícia Federal, Ministério Público e Magistratura são majoritariamente oriundos da classe média alta, classe esta que nunca reconheceu os méritos do governo Lula, portanto parafraseando o ex-presidente Luiz Inácio LULA da Silva, talvez quando os estudantes pobres oriundos do FIES e do PROUNI começarem a chegar nas carreiras da Polícia Federal e do Ministério Público, até da magistratura, este estado de coisas que permeia estas instituições comece a mudar. Até lá, casos emblemáticos e SINTOMÁTICOS como o caso do "Hipster da Fedeal", continuarão a ocorrer, ferindo a ÉTICA e a IMPARCIALIDADE que deveriam prevalecer naqueles que exercem funções importantíssimas dentro de instituições que ajudam a combater a corrupção.
(*Fábio Martins Neri Brandão é advogado em Campo Grande)
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Postado por: Fábio Brandão (*), 25 Outubro 2016 às 10:15 - em: Falando Nisso