Dante Filho (*)
O fator Zeca
Zeca do PT é esperto. Somando tudo, misturando as variáveis, aplicando algumas equações de números absolutos, dando um noves fora, é possível concluir que o homem é um gênio quando se considera instinto e intuição política.
Quando ele deixou o governo, em 2007, sob uma saraivada de críticas e processos judiciais, imaginou-se que estava enterrado definitivamente, que não se reergueria, mergulhado que estava no rotundo ocaso, na direção do esquecimento definitivo.
O tempo curou as feridas e sua imagem pública aos poucos foi recuperada com a benção da submersão. Hoje Zeca está revigorado. Eleito vereador de Campo Grande,em 2012, nas últimas eleições foi agraciado nas urnas com a maior votação entre os candidatos a deputado federal.
Na Câmara de Vereadores da Capital foi hábil para não se afundar com Alcides Bernal. Criticou a cassação do ex-prefeito, mas não com aquela conhecida felonia de tribuno enlouquecido. Manteve o equilíbrio e deixou as coisas correrem.
Sua campanha à Câmara Federal deu-se mais no âmbito do eleitorado simpático ao PT. Sabe-se que no início de 2013 Zeca reuniu seu núcleo duro e analisou o quadro político local, percebendo um crescimento vertiginoso do sentimento anti-PT após as jornadas de junho, e concluiu que a candidatura de Delcídio dificilmente seria vitoriosa. Guardou esse palpite no bolso do paletó e seguiu em frente.
Quando o escândalo da Petrobras estourou e penetrou as camadas mais profundas de nossa sociedade viu que a vaca ia para o brejo. Teve o vislumbre de que Azambuja seria eleito e tratou de arrebanhar (para si) o eleitorado mais suscetível à ideologia rasteira do pobre contra o rico. Foi nesse momento que Zeca percebeu que se abria a grande janela de oportunidades para voltar ao topo.
Assim, sob os cacos do PT, o companheiro Zeca tenta refundar seu reinado. Primeiro, age para ter domínio da máquina partidária. Segundo, tenta criar pontes com o PMDB via eleição da mesa diretora da Assembléia Legislativa e cravar sua influência em terreno adverso. Terceiro, faz um jogo de dissuasão e fortalece a impressão de que o adversário do governismo é Puccinelli, quando, na verdade, calcula o momento exato para se oferecer como a única oposição solidificada ao tucanato sul-mato-grossense.
O petismo aderente e moderado começa a se descabelar. Percebe que Zeca está se preparando para reunir força demais para o jogo eleitoral de 2016 e, com isso, não vê saída que não seja a de se atirar nos braços do PSDB. A eleição da Assomasul foi reflexo desse processo. Haverá mais daqui pra frente. Dentro do PT pragmático a estratégia interna é enfraquecer Zeca. Não será fácil. O PT ideológico quer medir força.
O problema – para o petismo pragmático - é que o companheiro terá uma tribuna nacional para falar. O fato de ter se negado a receber publicamente o diploma no TREMS alegando pelas redes sociais que quer distância das elites políticas locais, de abrir o campo de denúncia contra o sub-secretário de Turismo Nelson Cintra (uma questão meramente paroquial, visto que Zeca tem inúmeros ex-colaboradores ocupando cargos de destaque no Governo) e de estar insistindo em assumir a hegemonia no PT local, tudo isso mostra que o companheiro não está no pedaço para brincar. Vai dar trabalho.
(*Dante Filho é jornalista em Campo Grande MS, dantefilho@terra.com.br)
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Postado por: Dante Filho (*), 19 Janeiro 2015 às 13:11 - em: Falando Nisso