Dante Filho (*)
O avião do João
Vocês conhecem o João? Não o João Grandão, não; aquele outro: o baixinho simpático que ficou rico depois de ler “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”, do Dale Carnegie ?. Pois é, o cara ultimamente não sai da mídia. Dia sim, outro também, lá está ele nas capas dos jornais, seguido por uma tropa de advogados pra baixo e pra cima, parecendo artista de cinema.
Quem diria que o João chegaria a esse ponto. Uma celebridade. Lembro quando ele veio morar em Campo Grande, na década de 70, com uma mão na frente e outra atrás. Ninguém dava nada por ele. Naquele tempo ele era magro, com os olhos assustadiços, sempre discreto, tímido de dar dó. Os tempos mudaram, né?
De repente, o homem alumbrou. No começo, virou pequeno empresário, depois descasou e casou de novo, e passou a se tornar amigo de gente poderosa, e, finalmente, junto com os avanços democráticos do País, descobriu que a política era, acima de tudo, um grande negócio.
Na verdade, o João sacou um lance bem interessante, antes mesmo de muito espertinho que anda por aí a falar que conhecia o caminho das pedras: que a democracia brasileira previa eleição a cada dois anos. Melhor: que o marketing moderno criava um modelo de campanha caríssimo. E que o eleitor – semi-analfabetos que acreditavam em tudo aquilo que a TV mostrava– era facilmente manipulável na proporção do aumento dos investimentos em propaganda.
Essa era a chave para abrir portas para outros negócios. João elaborou um raciocínio quase primário para crescer no mundo empresarial: eleição precisa de muito dinheiro, principalmente de caixa 2(ponto), e os novos candidatos que começaram a entrar no mercado eleitoral viam ( vejam só!) a política como um negócio, uma janela de oportunidades para se dar bem na vida (outro ponto).
O segredo era inventar um blá-blá-blá de boas intenções durante a campanha, assumir o poder (mais um ponto), e fazer aquilo que todo e qualquer “empresário” à brasileira gosta de fazer: ganhar muito dinheiro sem grande esforço, fechando currais eleitorais e assinando contratos superfaturados para formar caixinhas, aumentar o patrimônio e viver no fastio dos confortos burgueses (novo ponto).
O segredo é saber unir todos esses pontos e dar um grande nó. Foi assim que o João, em poucos anos, ficou milionário. Junto com ele, uma tropa de abnegados (gente que dizia que acordava às 4 da manhã para começar a trabalhar) amarrou as cordas de uma grande organização para colocar no bolso um naco do orçamento público.
A coisa deu tão certo que todos os partidos (não importava ideologia, situação ou oposição) corriam atrás do João na época da campanha pedindo uma ajuda. O João sempre foi um cara aberto, estava se lixando para esse negócio de sigla partidária, direita, esquerda, centro etc. e tal, e colaborava ecumenicamente. Não importava quem ganhasse ou perdesse: todos eram tributários dos favores do nosso Joãozinho.
O ponto alto dessa trajetória foi quando ele comprou seu primeiro jatinho. Uma gracinha. Uma homenagem do lixo dos negócios ao luxo da política. Toda a turma queria ter um lugar naquele novo brinquedinho. Viajar no avião do João era sinal de prestígio e poder. Para se ter importância real nos meios políticos e empresariais a passagem pelo jato era a senha de que o sujeito tinha subido muitos patamares na escala de comando dos negócios do Estado.
Só que nos últimos tempos o João anda meio acabrunhado. Uns invejosos da Polícia Federal e Ministério Publico não suportaram seu sucesso começaram a pegar no seu pé. Basta que se diga que alguém andou no seu jatinho para que se insinuem a colaboração com as velhas práticas da malandragem pátria. O que uma coisa tem a ver com a outra?
O Joãozinho anda indignado: agora todo mundo nega que tenha voado no seu “teco-teco”, ninguém é mais seu amigo, pessoas jamais foram ajudadas por ele, os contatos por telefone foram “meramente profissionais”; enfim, o nosso simpático e generoso João parece agora carregar na pele uma grave doença contagiosa. Dizem que ele está muito chateado e, vez por outra, sentado, acabrunhado, ele baixa cabeça, balança o pescoço e murmura: “ e eu que pensei que o céu era o limite”. Dá pena!
(*Dante Teixeira de Godoy Filho é jornalista militante em Campo Grande MS - dantefilho@terra.com.br)
Deixe seu comentário
Postado por: Dante Filho (*), 17 Novembro 2015 às 11:15 - em: Falando Nisso