Maria Angela Coelho Mirault (*)
O aperfeiçoamento da sociedade e o compromisso social da maturidade
O mundo vem envelhecendo de forma rápida e irreversível. Os avanços na área científica da longevidade tem permitido que a expectativa de vida ativa ultrapasse, e, bem, aos 80 anos. O homem de hoje na idade avançada não é mais um desvalido da família, na sociedade. Esse adulto, que alcançou o patamar dos 60 anos, hoje, dirige um país, ocupa uma cadeira no Senado, no Supremo, assume um papado, é líder de banda de rock, ancora programas de tevê, protagoniza novelas em rede nacional. Falo de Dilma, Lula, Sarney, Celso de Melo, Francisco, Mick Jagger, Ana Maria Braga, Antônio Fagundes e Suzana Vieira, ícones dessa parcela da sociedade.
Em nosso país, a cada ano, 650 mil novos robertos-carlos, neis-mato-grosso, chicos-buarques, bibis-ferreira e caetanos são incorporados à sociedade por terem alcançado a rotulada terceira idade. Em 1960, o número de indivíduos idosos no Brasil era de 3 milhões; em 1975, passou para 7 milhões, chegando exponencialmente a 20 milhões, em 2008, o que significa um aumento de quase 700% em menos de 50 anos. Projeções do IBGE (2011) anunciam que, em 2050, seremos a 6ª população do mundo, em número de idosos.
É fato que, desde que chegamos a esse mundo, duas alternativas se abrem em nossas perspectivas de vida, ou se morre cedo, ou se se mantém vivo e sujeito às intempéries e agressões do próprio corpo, no processo do envelhecimento. Não existe saída para esse fenômeno, nem, tampouco, meio termo, ou se morre, ou se vive e, vivendo, se envelhece Na medida em que os anos passam, e permanecemos vivos, nosso corpo se deteriora, favorecendo o assédio da doença e da decrepitude que, ninguém se engane, se instalam, inexoravelmente. Enganar o tempo é impossível, o que se pode é disfarçar, aqui e ali, seu efeito nefasto. Plásticas não resolvem nem melhoram a aparência, e, muito menos, a autoestima, relacionamentos entre pessoas com disparidade de faixa etária não conseguem parar a ampulheta para iludir o tempo, roupas inadequadas não nos fazem parecer mais jovens; às vezes acentuam de forma caricata nosso apego a uma época da vida que já se foi.
E, porque é tão vergonhoso aparentar-se a idade que se tem? Temos vergonha de envelhecer porque a mídia nos anuncia um mundo feito, agradável e palatável para a juventude, a aparência e a aventura que já não temos mais. Autodesignar-se um “velho de cabeça jovem” expressa bem o tamanho do preconceito que aderimos com relação a nossa faixa etária. A expressão “melhor idade” é uma metáfora que, não só, deveríamos nos envergonhar, como, abolir, porque é falsa. Pertencer-se a grupos que lidam com a “melhor idade” só para ocupar o tempo, pode ser apenas uma estratégia de não admitir, não ver e não querer sentir o tempo passar. Ocupar o tempo dedicando-se somente a práticas recreativas é quase como abdicar da vida, que, nessa faixa etária, tanto quando nas outras, também, deve fluir com intensidade e, acima de tudo, influir no aperfeiçoamento da sociedade.
Nós que beiramos, ou, adentramos o patamar dos 60 anos, não somos cidadãos destinados ao descarte social. Se, estamos envelhecendo e vivendo mais, utilizemos os benefícios da ciência para esse novo e rico momento de nossas vidas, mas, não desertemos; temos ainda, e muito, um compromisso com a vida e com a sociedade; temos, acima de tudo, um dever político-social capaz de influenciar e alterar rotas político-sociais e influir decisivamente em assuntos que dizem respeito a toda sociedade. Mas, para isso, já que nos sentimos “tão jovens”, precisamos tomar iniciativas concebíveis, estar em todos os lugares em que se tomem decisões em nosso próprio nome e em nome da coletividade. Mas, que essa presença não seja inconsequente. Para ser respeitada – e aderida – nossas opiniões têm de ter sustentação. Precisamos voltar nossa intenção e atenção aos grupos de estudo, mesmo que já tenhamos nos dedicado, com sucesso, à vida profissional. Mexer com a cabeça, não apenas com o corpo, com o doce deleite do far niente é mais do que necessário. Entender-se a si mesmo, para melhor compreender o outro (em qualquer idade); entender o mundo maluco em que vivemos, e, lançar o olhar mais adiante, é mais do que uma ocupação, é nossa obrigação.
Não esmoreçamos, pois, desertores da vida que pulsa na sociedade, não nos conformemos em apenas ser um ente do passado; continuemos nossa útil jornada na vida que ainda detemos e que se renova a cada manhã. Muito ainda temos a construir, façamo-nos respeitar. Há algo de novo no mundo, e esse algo não é a juventude desarvorada que emerge nesse ciclópico espírito do tempo hodierno, é a presença de adultos de mais idade, mais vivência, experiência e que pode e deve influir para a construção de um mundo que valha a pena ser desfrutado e vivido.
(*Maria Angela Coelho Mirault, professora doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e diretora da Faculdade Aberta da Maturidade de Mato Grosso do Sul FAMA-MS - mariaangela.mirault@gmail.com)
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Postado por: Maria Angela Coelho Mirault (*), 22 Setembro 2013 às 10:49 - em: Falando Nisso