Notas esparsas do apocalipse Dante Filho (*)

Notas esparsas do apocalipse

Na semana passada inventaram que um grande meteorito ia cair na Costa Rica, entre os dias 15 e 18 de setembro. Com isso, o território do México, parte dos Estados Unidos e o norte da América do Sul desapareciam. O Brasil seria afetado drasticamente. Caos e horror. Ou seja, as pautas sobre o impeachment de Dilma, a investigação das mumunhas de Eduardo Cunha, a prisão de Lula e os processos contra Gilmar Olarte e a turma envolvida com a Operação Lama Asfáltica se transformariam em pó. Ninguém se salvaria do apocalipse.
 
Logo em seguida, veio desmentido da Nasa. Muita gente respirou aliviada. Tudo seguirá como dantes.A impunidade mais uma vez continuará a prevalecer. A vida continuará impávida e nervosa. E ninguém terá que se preocupar por causa de uma pedra que diziam que cairia do céu dentro em breve.
 
Por isso, não há como deixar de comentar os assuntos que pipocam na mídia todos os dias, sem a perspectiva de que algo assombroso e cataclísmico possa alterar nossa percepção da realidade.
 
Dilma segue na corda bamba. A aposta no mercado das especulações é sobre quanto tempo útil ela sobreviverá na presidência. Não se sabe. O ex-senador Arthur Virgílio afirmou que é mais provável que Lula seja preso antes dela cair. O impeachment vai demorar um pouco mais, afirmou. Pode ser.
 
Nos interregnos dessa confusão, Eduardo Cunha provavelmente será eleito o maior ator deste País. Ele resistiu à abertura das investigações do Ministério Público com grande altivez. Seu discurso para a turma da Força Sindical, em São Paulo, sob os gritos de “Cunha, guerreiro... do povo brasileiro”, mostrou que ele não treme e seus olhos não se mexem quando afirma que tudo que existe contra ele “são mentiras deslavadas”. Vai faltar óleo de peroba na praça. 
 
No Senado, Renan não se mexe. Ele aguarda com certa ansiedade as revelações do operador Fernando Baiano, que poderá catapultá-lo para uma posição pouco confortável dentro da Operação Lava Jato. Não só ele como os próceres do PMDB.
 
O PT mantém-se atento, pois, como diz aquele deputado, “pior do que está não pode ficar”. Lula deu uma leve submergida e fez uma aparição pífia na TV. Quem vinha falando por ele era um prédio: o famoso instituto comandado por Paulo-doador-universal-okamoto. 
 
A militância petista tenta se agarrar numa bóia precária: a palavra “ódio”. Todas as justificativas, todas as desculpas, todos os erros morais, enfim, a verdadeira lanterna dos afogados, resume-se no mantra do “ódio social” contra os “inocentes” do lulopetismo. 
 
O argumento tem sua graça cínica. Durante quase 20 anos essa foi uma prática recorrente do PT. O PFL, inclusive, precisou mudar o nome para se salvar de uma eficiente campanha do “ódio” petista. Quem sabe essa não seria também a saída para a militância desesperada: trocar o nome da legenda e pedir desculpas pelos “erros cometidos”. 
 
Em Mato Grosso do Sul, a cena é curiosa: o governador Reinaldo Azambuja começou a ser vaiado em eventos públicos. Dou meu conselho: é bom ir se acostumando. Esses são os sinais dos novos tempos. O povo tá com raiva e não pode ver autoridade com microfone na mão que baixa o cacete. Tanto é assim que vários políticos reclamam: “tá difícil, tá complicado, bons tempos eram aqueles da hipocrisia, em que o povo sofria calado e só sabia aplaudir políticos, mesmo com raiva entre os dentes”. Ou seja: a mudança tão prometida chegou!
 
Nesse ínterim, é importante lembrar que o pescoço do prefeito Olarte é o objeto de desejo de 9 entre dez cidadãos campo-grandenses. Prefiro nem entrar em detalhes sobre esse processo porque o emaranhado é pior do que um labirinto borgeano. O fato é que seja lá qual for a saída dessa barafunda a cidade assistirá a ampliação do buraco em que se meteu depois que decidiu, democraticamente, eleger um maluco clínico para prefeito em 2012. 
 
Para que não digam que sou pessimista, dois fatos interessantes ocorreram no fechamento da semana: a desfiliação do PT de Ricardo Ayache e a volta de Nelsinho Trad ao ninho trabalhista. 
 
Mas a vida de ambos não será fácil. O primeiro se verá obrigado a ficar ancorado num modelito ideológico que nunca foi seu. Se confirmar a filiação ao PSB terá que se fiar na deputada federal Tereza Cristina, cuja palavra carrega a mesma insígnia de uma nota de três reais. Ela tem que obedecer a muitos senhores rançosos antes de decidir se pode se mexer. O segundo precisa explicar questões que vão desde o Caso Gisa até sua relação com o empreiteiro João Amorin. Complicado.
 
Tirante isso, o mundo segue seu curso, ainda que volta e meia personagens com cabeça de camarão e mugido de nelore declarem: “não raciocino sobre hipóteses”. Meu Deus! Existe outra maneira de raciocinar? Fecha o pano.
 
(*Dante Teixeira de Godoy Filho é jornalista militante em Campo Grande MS - dantefilho@terra.com.br)
 


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Postado por: Dante Filho (*), 24 Agosto 2015 às 15:20 - em: Falando Nisso


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