Notas do subterrâneo Dante Filho (*)

Notas do subterrâneo

Pesquisas recentes indicam que mais de 65% do eleitorado tem interesse restritíssimo pelo processo eleitoral. Cerca de 40% ainda não sabem o nome de todos os candidatos. Apenas 15% se interessam pelo assunto. Passado o carnaval, tem Copa pela frente e só depois, a partir de junho, é que talvez o assunto possa dominar a cena cotidiana.
 
Mesmo assim, há debates intensos no meio político especializado, principalmente entre aquela parte da população que vive e respira militância partidária. Aqui em Mato Grosso do Sul esse publico vive, nos últimos dias, moagens intensas discutindo sobre qual o cenário de ação que partidos e candidatos vão atuar nos diversos planos para as eleições de presidente, governador, senador e deputados.
 
Há ainda uma questão adicional: qual será o comportamento do eleitor nesta nova fase da história brasileira, depois dos surpreendentes acontecimentos das jornadas de junho, do julgamento e condenação da ação penal 470, do mensalão tucano & outros escândalos, das controvérsias no STF, do revertério da economia e de tantos outros elementos que vão com certeza determinar de maneira inédita o comportamento das grandes massas em todo o País.
 
Os políticos e seus especialistas ainda estão meio perdidos. Pesquisas e mais pesquisas tem sido feitas para identificar o perfil psicológico deste novo ser votante que está emergindo nos últimos tempos. Só que ainda não está claro qual deva ser a agenda para atender as demandas extremamente difusas que pulsa neste cipoal de tendências e opiniões extremamente conflitantes.
 
Quem tem acompanhado as recentes articulações no quadro estadual, por exemplo, tem feito mais perguntas do que respondido equações. Dúvidas e mais dúvidas, que só o calendário poderá elucidar por força das regras da legislação eleitoral. Infelizmente, não existe bola de cristal neste caso porque os principais protagonistas deste jogo parecem que estão mais confusos do que seus intérpretes. Todos estão tateando num ambiente repleto de névoa e sombra.
 
Por enquanto, toda cena esta travada pelo seguinte dilema: qual será a decisão do governador Puccinelli acerca de seu futuro político? Se ele permanecer no cargo o cenário a ser desenhado terá contornos curiosos, a ser especulado com determinado viés de curto e médio prazo; se, de outra forma, houver desincompatibilização para ele concorrer ao Senado, ter-se-á outro desenho da realidade, com desdobramentos mais profundos em termos de alianças partidárias. Por enquanto, a classe política do Estado é refém desta decisão.
 
Outro debate intenso de bastidores é sobre qual será o jogo que PT e PSDB farão nas convenções partidárias de junho. No momento, militantes de ambos os lados digerem – com ranger de dentes – sobre a hipótese desta aliança. Os mais emotivos estão desde já tendo dificuldades para aceitar essa estratégia porque significa abdicar de um discurso que se tornou a razão de ser destes setores por duas décadas.
 
Tucanos e petistas sul-mato-grossenses estão vivendo um dos maiores dramas Shakespeareanos de suas existências, pois não imaginam como poderão conviver com adversários históricos, defendendo um projeto de poder em MS e outro completamente diferente no plano nacional. Neste caso, se isso vier a se consolidar, é provável que muitos optem por abdicar de participar do processo, pois não encontrarão razões para conciliar essas contradições dentro de si mesmos.
 
Outros compreenderão que o mundo político exige um pragmatismo especial, mais forte do que o estômago possa suportar, pois na luta pela conquista do poder deve haver concessões acima de vontades circunstanciais. Enfim: toda estratégia eleitoral tem um custo pessoal, muitas vezes acima de crenças, história e ideologia. Essa é a vida.
 
(*Dante Filho é jornalista e escritor - dantefilho@terra.com.br)


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Postado por: Dante Filho (*), 04 Março 2014 às 12:38 - em: Falando Nisso


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