Pedro Pedrossian Neto (*)
No caminho certo
A política macroeconômica dos dois primeiros anos do governo Dilma tem se concentrado, em grande medida, na consecução de dois objetivos: sustentar um nível elevado de demanda agregada a fim de defender o nível de atividade doméstica contra a recessão externa e realinhar os principais preços da economia, corrigindo distorções que diminuem competitividade das empresas, a rentabilidade dos investimentos e o apetite dos empresários pelo risco.
De fato, o governo mexeu nos principais preços da economia brasileira: reduziu os juros, diminuindo o preço do dinheiro; desvalorizou o câmbio, para assim reduzir o preço das exportações em moeda estrangeira; instituiu proteção adicional ao mercado interno com a taxação das importações; cortou os lucros das concessionárias de energia e impediu repasses maiores nos preços dos combustíveis, reduzindo o preço dos principais insumos industriais; desonerou a folha de pagamento de inúmeros setores, para com isso baratear o custo do trabalho; por fim, lançou um ambicioso plano por meio de novas concessões em ferrovias, rodovias, portos e aeroportos, para diminuir o custo da infraestrutura logística.
Trata-se, é claro, de trabalho ainda inconcluso e que deve ser aprofundado e aperfeiçoado nos próximos dois anos de sua administração, mas que no sentido e no diagnóstico – ainda que reparos possam ser feitos na forma e na intensidade –, está no caminho certo. Esta agenda de política econômica parte do entendimento que o problema de crescimento de longo prazo no Brasil está ligado, de um lado, a obstinação dos governos anteriores com um nível de inflação artificialmente baixo (o que implicava a repressão excessiva do nível de consumo via juros altos) e, de outro, ao desalinhamento dos grandes preços macroeconômicos, que inibem a
competitividade e o investimento.
Vários economistas, entretanto, quando levados a apontar as causas da estagnação dos últimos dois anos, têm professado a tese segundo a qual teria se esgotado o ciclo de crescimento brasileiro verificado no governo Lula, baseado na agenda macroeconômica de impulso a demanda agregada, de redução da capacidade instalada ociosa da indústria, de diminuição do desemprego do fator trabalho e de aumento no endividamento das famílias. Em outras palavras, teria chegado ao fim um modelo de crescimento baseado no estímulo no “lado da demanda”, sendo necessário trabalhar no “lado da oferta” por meio de aumentos da produtividade. Segundo esta visão, portanto, todo o esforço do governo Dilma estaria se concentrando na direção errada, devido a um erro de diagnóstico.
Na pressa da crítica, parece que muitos se esqueceram do mundo em que estamos: os Estados Unidos, que há pouco quase não renovou o teto do endividamento público, vive a beira do abismo fiscal (fiscal Cliff) e, na política monetária, lança mão de desesperada heterodoxia com o quantitative easing; a Europa, submersa na crise das dívidas soberanas, vive a ameaça de um colapso pelo simples rebaixar de notas de uma agencia de rating ou com os problemas de um pequenino Chipre; China, às turras com a necessidade de encontrar demanda doméstica para um setor exportador sem clientes, cresce metade do que crescia outrora; Japão, estagnado há muitos anos, parece ter capacidade limitada de reinventar outro modelo de crescimento.
Bom, até aqui estamos falando de crise em nada menos do que 65% do PIB global. Exceções? Sem dúvida existem, talvez para confirmar a regra, que é a desaceleração e o baixo crescimento. O contágio da crise global afeta a economia brasileira por diversos canais: na queda das exportações devido ao arrefecimento do consumo nos países em crise; no aumento das importações, devido à existência de capacidade ociosa de produção no exterior pressionando a deflação e a queda dos preços de manufaturados importados; no setor financeiro, pelo
aumento da aversão ao risco dos fundos de private equity em investir no exterior (e na escassez de linhas de crédito para empresas de países emergentes); no mercado de capitais, pela volatilidade do preço das ações, que tende a refletir o humor dos demais mercados; e, por último, no canal das expectativas, por injetar pessimismo nos tomadores de decisão quanto ao cenário futuro, fazendo investidores congelar investimentos e famílias adiar o consumo. Todos estes fatores externos têm atingido em cheio o Brasil.
A política econômica brasileira navega por uma conjuntura cheia de incertezas que a impedem de atingir a velocidade de cruzeiro, mas sem a adoção das medidas corajosas levadas adiante pelo governo da Presidenta Dilma, certamente veríamos uma recessão em curso – e não tão somente uma dificuldade em crescer. Provavelmente o crescimento de 2013 chegará ao redor de 3% e, no ano seguinte, em plena corrida eleitoral, a um patamar de 4,5%. Não há dúvida alguma de que é preciso fazer muito mais levando adiante reformas estruturais, mas é imperioso admitir que a política econômica avançou de forma significativa nos dois últimos anos. É um erro, portanto, acreditar que o modelo de crescimento atual se esgotou.
(*Pedro Pedrossian Neto, 31, empresário, é economista, mestre e professor pela PUC-SP)
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Postado por: Pedro Pedrossian Neto (*), 07 Abril 2013 às 17:54 - em: Falando Nisso