Nem rima nem solução Dante Filho (*)

Nem rima nem solução

E o Bernal? Foi pro pau. E o Olarte? Que não faça arte. E Campo Grande? Que não se engane. E o povo? Que não se faça de bobo. E a vereança? Que não encha a pança. E a vida? Que continue aguerrida. E o mundo? Que não cite o Raimundo...
 
Enfim, não há rima nem solução capaz de saber o que acontecerá com a cidade a partir de agora. Tudo deve ser observado com lupa. A euforia dos vencedores obscurece o senso crítico de quem queria uma trégua para os conflitos políticos dos últimos 13 meses. Torçam para dar certo.
 
Mas o assunto aqui é outro: creio que as razões para a cassação do Dr. Alcides merecem uma investigação histórica profunda. Alô, alô cientistas políticos, historiadores, jornalistas e especuladores de plantão: taí uma pauta para ser investigada, analisada e registrada em todas as suas dimensões.
 
A queda de Bernal abre perspectiva para um grande estudo de caso, não só pelo ineditismo, como também pela vasta matéria gerada do ponto de vista psicossocial, dos humores e clamores do poder e dos poderosos locais.
 
Não fosse o personagem principal uma figura tão tosca, poderia até se imaginar uma tragicomédia shakespeariana, na qual o enredo misturaria Ricardo III, Júlio César com algumas pitadas da Comédia de Erros. Claro, tudo ambientado num cenário que transitaria entre a sede do Paço Municipal, da Câmara de Vereadores e do centro de comando do jogo do bicho.
 
A quantidade de pequenas narrativas paralelas que poderiam entrecortar toda a história da ascensão e queda do homem da voz aveludada, que, por vaidade e arrogância, decidiu comandar sozinho o espetáculo, desenharia um quadro fascinante do mundo político de nosso Estado. No fundo, tudo seria talvez uma paródia de uma crônica da morte anunciada.
 
Qualquer pessoa com mínimo de bom senso – tendo noções rasas da psicologia humana – sabia que essa aventura não daria certo. Desde a campanha eleitoral Bernal mostrou-se errático, embora se escudando numa vitimização deploratória para criar vínculos afetivos com a massa. A sorte dele foi que o Brasil continua sendo um lugar onde nasce um otário por segundo.
 
De vez em quando, o povo, por vingança e ressentimento social, elege um maluco acreditando na conversa fiada de “mudança”. Esse é o problema: quando se vota com a sanha da vingança a possibilidade de errar é praticamente certa.  
 
No final, depois de muita luta de espada e cuspe, reputações destruídas, golpes de pequenas traições, fofocas e baixarias, não restou a Bernal nem o grito incontido dos derrotados: “Até tu, Brutus!”. Fecha o pano.
 
(*Dante Filho é escritor e jornalista - dantefilho@terra.com.br)


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Postado por: Dante Filho (*), 17 Março 2014 às 18:09 - em: Falando Nisso


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