Mundinho Dante Filho (*)

Mundinho

Leio pesquisa Datafolha no último sábado e concluo que a política é um mundinho esquisito. Pelos números extraídos da abordagem feita sobre os escândalos envolvendo diretamente o ex-presidente Lula (apartamento do Guarujá e o sítio de Atibaia), não chega a 30% o percentual da população que se considera “informada” sobre o assunto. 
 
Esse dado não é trivial. Mesmo porque essa pauta vem há mais de três semanas sendo amplamente explorada em toda a mídia. É um bombardeio jamais visto no noticiário, sem contar as redes sociais. Ainda assim, a grande maioria não consegue prestar atenção para que se possa formar massa crítica que coloque em xeque os procedimentos criminosos que circundam o tema nos seus mais variados aspectos. 
 
As razões para que as coisas ocorram dessa maneira tem inúmeras explicações. A explicação fácil funda-se na idéia das imensas desigualdades sociais do País, abrangendo deficiências na educação, saúde, infra-estrutura etc. A outra, mais complexa, indica uma espécie de relaxamento mental que se nega a compreender como coisas díspares e distantes interconectam-se diretamente com o nosso cotidiano, formando uma única narrativa.
 
No meio disso, ainda carecemos de instituições poderosas que façam prevalecer a lei igualmente para todos. Essa realidade está mudando – vide Operação Lava Jato -, embora ainda não saibamos até que ponto isso se concretizará, visto que essa história está longe de chegar ao fim.
 
Claro que pesquisas pontuais não servem como parâmetro para medir a totalidade dos sentimentos que tomam conta do País. Mas servem para apontar para aqueles setores que se julgam mais esclarecidos – imprensa, partidos, empresariado, universidades etc – que não dá para avaliar nossa democracia com arrogância nem com ilusões. 
 
Noutras palavras, o poder dos homens de ação (qualquer um) esbarra nessa imensa alienação da maioria, que limita e impede avanços mais acelerados no processo de desenvolvimento. Daí, é possível concluir que os motivos pelos quais a atual crise que vivemos - uma autofagia que mistura insensatez política com estupidez econômica – só serão passíveis de solução com o impeachment, renúncia ou cassação do mandato de Dilma e Temer via Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 
 
Não é demais reafirmar que o aumento de confusão política com recessão cria uma situação de urgência que galvaniza a opinião pública na direção de soluções rápidas, na base do linchamento público.
 
A presidência – depois da prisão do publicitário João Santana e outros personagens desse escândalo – ingressará na sua pior fase de isolamento político. A economia ultrapassará o fundo do poço. Com isso, a falta de credibilidade do governo nos mercados e no ambiente social levará ao desespero seus agentes, abrindo espaço para propostas e medidas tresloucadas. 
 
A idéia recente do PT de reduzir taxa de juros e voltar a cobrar a CPMF tem a mesma lógica de quem tenciona fazer a galinha voltar para dentro do ovo. O quadro tende a piorar. Diante disso, o PSDB promete que agora vai desencantar. E o PMDB sinaliza que vai trair. 
 
Além disso, não se pode esquecer de que crise é percepção. Ou seja: o elemento psicológico de superação das dificuldades poderá se cristalizar para amplos setores sociais no sentido romper com o atual statos quo. Aumentará na sociedade a necessidade de se virar a página. Se isso acontecer como se imagina, adeus Dilma.
 
(*Dante Teixeira de Godoy Filho é jornalista militante em Campo Grande MS - dantefilho@terra.com.br)
 


Deixe seu comentário


Postado por: Dante Filho (*), 29 Fevereiro 2016 às 15:00 - em: Falando Nisso


MAIS LIDAS