Wagner Cordeiro Chagas (*)
MS 40 Anos: O governo Marcelo Miranda Soares (Arena-PDS 1979-1980)
Como proposto nesta série de artigos, dou continuidade aos breves históricos sobre os governos que administraram Mato Grosso do Sul ao longo desses 40 anos de existência. Neste relato apresento alguns aspectos do governo de Marcelo Miranda Soares, entre 1979 e 1980.
O engenheiro Marcelo Miranda Soares, nascido em Uberaba (MG), no ano de 1938, mudou-se para o então Mato Grosso indiviso para trabalhar na construção da usina hidrelétrica de Jupiá, em Três Lagoas. Atuou como chefe do Departamento de Estradas de Rodagem de Mato Grosso (DERMAT) na gestão Pedro Pedrossian (1966-1970) e, em 1976, foi eleito pela Arena, com forte apoio de seu padrinho político (Pedrossian), prefeito de Campo Grande, quando esta ainda não era capital de estado.
Nas negociações entre o então senador Pedro Pedrossian e o presidente João Figueiredo, no intuito de encontrar um substituto para Harry Amorim Costa, o senador indicou o nome de Marcelo Miranda. Foi assim que o então prefeito renunciou ao cargo, no ano de 1979, para comandar o estado. Marcelo Miranda faria parte de algo histórico no estado, qual seja, o fato de no primeiro ano de funcionamento 3 pessoas ocuparem o cargo de governador.
Sua gestão tinha como slogan: “Conquistamos um Estado. Vamos Construí-lo”, numa alusão de que era necessário agir rápido para fazer jus a o título que Mato Grosso do Sul possuía, o de estado modelo para o Brasil. Por outro lado, em conformidade com o economista Luis Landes Pereira, o governo Marcelo Miranda implantou um modelo de gestão com as características tradicionais das administrações públicas brasileiras, ou seja, um governo que acomodava em diversos cargos várias lideranças políticas. Totalmente o inverso do governo Harry Amorim, que inaugurou uma gestão tecnicista, com secretários que não eram políticos, mas sim especialistas em suas pastas.
Apesar de um curto período, esse governo conseguiu deixar suas marcas. Possivelmente a mais lembrada delas pelos sul-mato-grossenses foi a elevação de 9 distritos à categoria de município, em 1980, foram eles: Bodoquena, Costa Rica, Douradina, Itaquiraí, São Gabriel D’Oeste, Selvíria, Sete Quedas, Tacuru e Taquarussu.
Em relação à estruturação do novo estado, o governo Marcelo Miranda foi o responsável pela criação de órgãos de significativa importância, tais como o Instituto de Previdência (PREVISUL), a Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (IAGRO) e a Imprensa Oficial. Foi nessa época também que ocorreu o processo de enquadramento dos servidores públicos no novo estado, a partir do envio de documentações da antiga capital, Cuiabá, para Campo Grande. O trabalho ficou a cargo da Secretaria de Administração, com auxílio da Comissão Especial da Divisão.
Politicamente, essa administração teve algumas particularidades. Dois meses após assumir o cargo, um processo de impeachment foi apresentado pelo deputado estadual oposicionista Sergio Cruz (PMDB). O parlamentar justificava que o governador, em alguns casos, administrava por meio de Decretos, e não consultando o Legislativo, como determinava a Constituição Estadual. No entanto, a proposta foi recusada na Assembleia Legislativa por 13 votos a 4.
A maior parte do secretariado dessa gestão era indicação do senador Pedro Pedrossian, o que demonstrava uma forte influência dele no governo. Contudo, a partir de maio de 1980, a relação entre Marcelo Miranda e Pedro Pedrossian azedou. O senador rompeu relações com o governador, sob a alegação de que ele buscava gerir o estado de forma mais independente. Foi esse o principal motivo para em poucos meses ser demitido o segundo governador de Mato Grosso do Sul.
Em pouco mais de 1 ano, Marcelo tentou tirar do papel vários projetos, como o da conclusão da pavimentação da rodovia 262, no trecho que liga Campo Grande a Corumbá, e criar um programa de desenvolvimento para o estado (PDI), mas foi tudo em vão. No final de 1980, Pedro Pedrossian conseguiria, enfim, realizar seu sonho: ser nomeado governador.
Marcelo Miranda continuou na política, ingressou no Partido Popular (PP), o qual, em 1981, fundiu-se ao PMDB. Nas eleições de 1982 foi eleito senador. Em 1986 voltou ao governo, eleito pelo povo, desta vez com apoio de outro líder: Wilson Barbosa Martins.
O curioso nisso tudo, tendo como base análises da historiadora Marisa Bittar, é que o estado que havia nascido para ser modelo para o País, seguia os mesmos caminhos da política tradicional do antigo Mato Grosso, e, certamente, de outros estados, caracterizada, entre outras coisas, por rancores e disputas pelo poder.
(*Wagner Cordeiro Chagas é professor-mestre de História em Fátima do Sul - MS e autor do livro As eleições de 1982 em MS - Life Editora 2016)
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Postado por: Wagner Cordeiro Chagas (*), 12 Junho 2017 às 10:15 - em: Falando Nisso