Dante Filho (*)
Mortos e vivos
Nenhum movimento de massa pode ser chamado de inteligente. O indivíduo se dissolve no ente coletivo e tudo se torna imprevisível e enigmático. Por isso, prefiro não fazer previsões sobre o que vai acontecer no Brasil nos próximos meses.
O processo ainda está em curso. Os especialistas estão dando como tempo limite o próximo abril – o mais cruel dos meses – para que as nossas vidas sejam definidas em termos políticos. Na economia, já se sabe: alívio mesmo só a partir de 2018.
Fala-se muito que os partidos de esquerda estão em declínio. Que o PT está morto. Que os novos tempos serão conservadores. Que viveremos uma guinada à direita. Tudo isso é mi-mi-mi. Prefiro por ora tirar de minha conta o impeachment ou renúncia de Dilma e a prisão de Lula. Mesmo porque, nesse caso, ambas as coisas estão imbricadas. Se Dilma for deposta, ato contínuo, Lula será preso. Essa é uma equação dominada.
O que me impressiona é a quantidade de erros que o PT e satélites vem cometendo nos últimos tempos. Eles se tornaram especialistas em tiros no pé. Por mais que a cúpula do partido formule estratégias e táticas não consegue ultrapassar a desconfiança geral. Credibilidade é ativo fundamental. Reconheço que há jogadinhas relativamente inteligentes no campo publicitário, como a criação do slogan “não vai ter golpe”. Só que de tanto repetir a mesma mentira a coisa fica cansativa. Só fanáticos gostam disso.
Nesse ambiente, o PT vai se fragilizar, embora veja o petismo se transmudando nas sombras, longe da percepção do público. Aqui mesmo em Mato Grosso do Sul, os grupos mais moderados estão migrando para outras agremiações. O PSDB é a sigla preferencial porque oferece perspectiva de poder. E o petismo descobriu que o poder tem suas delícias. O Governador Azambuja está, alegremente, abrindo espaço para essa turma porque pensa que ela vai trabalhar para ele no processo sucessório de 2018 contra André Puccinelli.
Azambuja precisa de gente que saiba colocar a faca nos dentes para se manter no poder. Desde já ele acorda cedo e vai dormir tarde só pensando nisso: como se reeleger e se livrar de seu antípoda num jogo em que terá pouco para mostrar. O próprio dono de seu Governo, Sérgio de Paula, que atende pelo cargo de Chefe da Casa Civil, afirmou outro dia numa entrevista ao jornal Estado de Mato Grosso do Sul: “o nosso serviço público está falido”. Mais realismo que isso, impossível.
Só que nessa estufa, o PT não vai morrer. Ele vai sobreviver noutros hospedeiros até enxergar que os eleitores esqueceram o passado e que, enfim, chegara a hora de voltar às origens, navegando no leito original de seu rio ideológico. Tudo isso com o beneplácito da direita boiadeira que não ousa dizer o seu nome.
(*Dante Teixeira de Godoy Filho é jornalista militante em Campo Grande MS - dantefilho@terra.com.br)
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Postado por: Dante Filho (*), 30 Março 2016 às 11:30 - em: Falando Nisso