Heitor Freire (*)
Minhas mulheres
Devo admitir que sou um cara abençoado. A vida me provou isso. Sou cercado de mulheres por todos os lados. Desde o começo, e para sempre.
Essa circunstância sempre me favoreceu.
Tudo começou lá atrás, com minha abuelita Rita – minha bisavó gaúcha, daquelas bem fortes, que fumava charuto guarani, com um tom de voz marcante –, mãe da minha avó Joaquina. Tenho até hoje um lenço bordado por ela, há mais de 75 anos, com os dizeres: “Para Heitor, de su abuelita Rita. Viva la bandera brasilera”.
É longa a lista de nomes que me traz muito orgulho e nostalgia: Abuelita Pastora, a mãe da minha mãe, tinha uma suavidade no jeito de falar. Mamãe Joaquina, que criou a minha mãe, tinha um bom humor que me marcou: todas as manhãs eu passava para tomar café com ela, que vivia com seu radinho de pilha no ouvido. Eu perguntava: “Vó, o que há de novo?”, e ela, sempre respondia: “De novo, só eu.”
Dorila, minha querida mãe, superou muitas adversidades sem perder a alegria de viver: viu sua família perder tudo, foi tirada do convívio de sua mãe ainda criança, criou sete filhos com muita dedicação (sendo um deles adotado) e passou bons e maus bocados, sempre ao lado de meu pai. Era um poço inesgotável de bom humor e doçura. Quando a Valéria, minha primeira filha, aos 15 anos, pediu para assistir “Os embalos de sábado à noite”, do John Travolta, minha mãe, já septuagenária, topou ir com a neta, que não podia ir desacompanhada. Haja disposição.
Adela, minha madrinha, irmã de mamãe, foi uma mulher que desde mocinha soube conduzir a vida com muita maturidade.
De minhas duas irmãs, Haydée e Dorila, sempre trago ótimas lembranças. Haydée, muito jovem, foi prestar vestibular para química em Ribeirão Preto, e acabou por se tornar uma das poucas mulheres dessa área naquela época. Ela foi valente e mostrou sua competência num campo de estudo historicamente dominado pelos homens. Dorila, muito comunicativa e desde cedo focada em achar um jeito de ganhar uns trocados para garantir sua independência, aos 7 aninhos foi lá bater na casa do Dr. Marcílio, que era candidato a prefeito. Ela disse que poderia sair na vizinhança pedindo votos para ele, mas em troca queria ganhar uma vaca. Ele topou, ela fez a sua parte, mas vaca que é bom, nunca veio.
Minha mulher, Rosaria, é o meu porto seguro de toda uma vida, e do lado dela tive o grande exemplo da minha sogra Armanda, uma trabalhadora incansável, com muito tino para o comércio, comandou por décadas um restaurante muito famoso em Ponta Porã –, educou praticamente sozinha as três filhas, sem nunca pedir dinheiro emprestado a ninguém. Gilda e Isabel, minhas cunhadas, são mulheres fortes que, cada uma a seu modo, influenciaram bastante minhas filhas. Pelo lado da Rosaria, convivi também com a Vovó Isabel, uma paraguaia maravilhosa, que aos 16 anos se casou com vô Ozório. (há uma anedota na família, que conta que, certa vez, depois de muitos anos juntos, ele se virou pra ela, que ele conheceu tão mocinha, e disse: “Isabel, você está ficando velha...” – e ela retrucou, na bucha: “En tus manos, señor!”)
Nessa lista também estão minhas sete filhas amadas, Valéria, Andréa, Raquel, Cynthia, Alessandra, Flávia e Thaís. Todas estudiosas, trabalhadoras, mães comprometidas e profissionais competentes, cada uma em sua área. E minhas netas, Bianca, Isabela, Maria Luiza e Ana, jovens em formação que já dão sinais de que seguirão pelo mesmo caminho das mães.
Todas essas lembranças me vêm à mente a propósito do mês das mulheres, agora em março. Vivo cercado por mulheres neste universo que Deus me proporcionou.
A mulher, sempre misteriosa e dotada de um charme irresistível, merece toda a nossa reverência com amor, alegria e gratidão.
Nesta semana em que todos os olhos se voltam para a mulher, nada mais natural que engrossar o coro, com meu próprio testemunho e gratidão.
Mulher é um tema recorrente em meus artigos, não só pela admiração que tenho por elas, mas principalmente por ser eu mesmo uma prova viva do que elas representam. Vivo mergulhado nesse universo feminino há 60 anos, desde que nasceram minhas primeiras filhas.
Minha admiração por elas é imensa, como também é imenso o meu trabalho em tentar decifrar esse enigma que elas representam. Todo o universo feminino me seduz pelo seu poder magnético, sempre conquistando, alegrando e encantando os homens.
A sedução da mulher está presente num olhar de lado, num sorriso encantador, num meneio de quadris, na graça do seu molejo, num suspiro alongado, numa cruzada de pernas, acompanhada de um levantar de sobrancelha, fazendo-se de desentendida, como quem não quer nada, querendo tudo.
Assim, agora e sempre, cantemos e louvemos a mulher como a criatura mais perfeita que Deus criou.
(*Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)
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Postado por: Heitor Freire (*), 09 Março 2024 às 08:00 - em: Falando Nisso