Minha gastrite e a nossa democracia Wagner Cordeiro Chagas (*)

Minha gastrite e a nossa democracia

Nasci no dia 23 de agosto de 1984, um ano marcado pelos últimos suspiros da ditadura militar e pelo maior movimento popular da história do Brasil, as Diretas Já, que exigia o retorno das eleições diretas para presidente da República e o fim do autoritarismo que vigorava desde o golpe de Estado de 1964. Dos momentos de efervescência nacional, lembro-me vagamente do impeachment do presidente Fernando Collor de Mello (PRN), em fins de 1992, afastado por graves denúncias de corrupção no governo. Eu assisti, creio que no Fantástico, da Rede Globo, atrás do balcão da lanchonete de meus pais.
 
Recordo-me também do Fora FHC, movimento organizado por partidos de esquerda, entre eles PT, PDT e PCdoB, que pediam a renúncia do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) no início de seu segundo mandato, em 1999, devido, entre outras coisas, à crise da desvalorização do real frente ao dólar e suas medidas neoliberais aplicadas na economia nacional. No entanto, foi somente a partir de 2002 que passei a me interessar, como cidadão, pelos debates do processo político. É preciso se interessar por política. Ela tem uma importância muito grande em nossas vidas, quase tudo ao nosso redor, emprego, alimentação, saúde, educação, transporte, direitos e deveres, entre outras coisas, são influenciados pela política.
 
Na universidade e no curso de História, de 2005 a 2014, por meio de graduação, especialização e mestrado, o gosto pela história política e pela pesquisa evoluiu. Como professor de ensino básico, a militância por ideais de uma sociedade mais justa e igualitária acompanha-me desde 2009, tanto na sala de aula quanto no sindicato. Também sofri decepções com o sistema político, principalmente com as denúncias de corrupção nos governos Lula e Dilma (que depois afetaram outros membros da política nacional e de partidos como o MDB e o PSDB).
 
Sou um cidadão de centro-esquerda, considero-me trabalhista e social democrata, sem radicalismos. Talvez por essa forma de pensar e me expressar eu tenha passado por uma situação de ansiedade nesses últimos dias com a já histórica greve dos caminhoneiros. Mas, não foi a greve desses proletários brasileiros explorados, de fundamental importância para nossas vidas, que me causou a ansiedade e a crise de gastrite. O que me deixou aflito foram as manifestações de alguns oportunistas evocando por uma intervenção militar na República brasileira, algo que já tivemos, entre 1964 e 1985, e que não nos legou bons resultados.
 
Infelizmente, muitas pessoas não sabem o que é uma intervenção militar. Talvez se soubessem, ou melhor, se experimentassem, não falariam tantas coisas sem fundamento. De forma breve, uma intervenção militar, significaria permitir a um grupo de militares das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) tomar as rédeas da administração do poder Executivo federal. Historicamente, a ditadura militar no Brasil, em nome da ordem e da segurança, abusou do poder (o que pode se considerar uma forma de corrupção) e cometeu diversas atrocidades, como torturas e assassinatos de pessoas que militavam em causas como da liberdade de expressão ou de ideias de justiça social, como a reforma agrária. Um exemplo disso foi o que ocorreu com o líder camponês maranhense Epaminondas Gomes de Oliveira, desaparecido político no início da década de 1970, cujos restos mortais foram encontrados durante a realização dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, entre 2012 e 2014, comissão esta autorizada pela presidenta Dilma Rousseff (PT).
 
Por fim, fica aqui a dica muito bem oferecida por estudantes de escolas públicas da cidade de Fátima do Sul (MS), na segunda-feira, 28 de maio, quando participaram de um ato em apoio à greve dos caminhoneiros (ato este organizado por eles mesmos, via redes sociais), implorem por “INTERVENÇÃO LITERÁRIA JÁ”. O Brasil precisa que as pessoas conheçam os erros ocorridos no passado e façam de tudo para não repeti-los no futuro. Precisamos confiar, por mais que esteja difícil, eu sei disso, no caminho da política, da verdadeira política, onde o povo possa participar não somente no dia da eleição, mas, principalmente após a posse dos representantes. DEMOCRACIA SEMPRE!
 
(*Wagner Cordeiro Chagas é mestre em História pela UFGD, professor em Fátima do Sul e autor do livro "As eleições de 1982 em MS" - Life Editora/2016)


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Postado por: Wagner Cordeiro Chagas (*), 04 Junho 2018 às 12:15 - em: Falando Nisso


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