Heitor Freire (*)
Mato Grosso do Sul - 46 anos
Estamos comemorando 46 anos da criação do nosso estado, por força da Lei Complementar nº 31, assinada em 11 de outubro de 1977, pelo presidente Ernesto Geisel, que nesse ato tornou realidade um sonho quase secular da nossa gente. É importante ressaltar que o fato histórico foi a criação de um novo estado e não a divisão do estado de Mato Grosso, como tem sido divulgado, erroneamente.
Quando foi anunciada a notícia, uma explosão de euforia tomou conta de todo o estado.
Mato Grosso do Sul nasceu em consequência do idealismo que inspirou nosso povo, que havia muito tempo ansiava por se livrar da submissão política e econômica da então capital, Cuiabá. A rivalidade entre Campo Grande e Cuiabá só aumentava, no decorrer dos anos.
A conquista da criação de Mato Grosso do Sul só foi possível graças a uma convergência de forças que se manteve unida por muito tempo. Em 1932, Vespasiano Barbosa Martins, prefeito de Campo Grande, ao lado do general Bertoldo Klinger, então comandante da 9ª Região Militar sediada na cidade, aderiram à Revolução Constitucionalista, liderada por São Paulo, e por meio de um decreto, Vespasiano autoproclamou-se governador, transferindo a capital de Cuiabá para Campo Grande, de onde passou a governar o estado. Esse decreto chegou a ser publicado no Diário Oficial – cujos originais estão arquivados no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul –, anunciando a libertação do Sul do estado. Mas esse sonho durou apenas pouco mais de 90 dias.
Naquele mesmo ano de 1932, foi criada no Rio de Janeiro a Liga de Estudantes Pró Divisão do Estado, liderada por jovens mato-grossenses idealistas, que se tornaram, depois de formados, verdadeiros bastiões da divisão. O único presidente dessa Liga foi o então estudante de medicina Ruben Alberto Abbott de Castro Pinto.
Em 1933, foi publicado no Rio de Janeiro o Manifesto da Liga. Em 1935, Oclécio Barbosa Martins, um dos signatários do Manifesto, já advogado, reeditou a Liga em Campo Grande, com o nome de Liga Pró Divisão do Estado, de onde se originou a errônea versão da divisão do estado, que resultaria, quatro décadas depois, na legítima criação do novo estado. Naquele momento, não havia ainda força política suficiente para que o movimento empolgasse a população.
Já na década de 70, o escritor e advogado Paulo Coelho Machado ressuscitou a Liga, dando início, a partir daí, a um movimento crescente que acabou resultando na criação do estado de Mato Grosso do Sul.
Uma vez estabelecido o novo estado, os nossos políticos, até então unidos, começaram uma disputa encarniçada para indicar o primeiro governador. Como não chegavam a um consenso, o presidente Geisel nomeou como nosso primeiro governador o engenheiro Harry Amorim Costa, gaúcho, funcionário público federal de alta estirpe, (na época chefe do Departamento Nacional de Obras e Saneamento).
Harry sonhou e tentou implantar um estado-modelo, por meio de um projeto sistêmico elaborado por Jardel Barcellos de Paula, mas que infelizmente não foi implementado. Seu governo durou apenas seis meses. A oposição dos políticos locais que não se conformavam com um líder de fora como governador do estado foi tão forte, que ele não suportou a pressão e acabou sendo destituído.
O início do novo estado foi muito tumultuado, tanto que no período de apenas três anos tivemos três governadores, de 1979 a 1982: Harry Amorim Costa, Marcelo Miranda Soares e Pedro Pedrossian, todos nomeados pelo governo militar.
A Constituição do Estado foi promulgada em junho de 1979, tendo como governador o presidente da Assembleia Legislativa, Londres Machado, por um breve período. Com a destituição de Harry, o estado não tinha vice-governador, por isso coube a Londres Machado assumir o governo. Essa situação ocorreu novamente quando Marcelo Miranda foi destituído. Assim, foi Londres Machado quem transmitiu o cargo para Pedro Pedrossian. Em 1982 tivemos a primeira eleição direta para governador, quando foi eleito Wilson Barbosa Martins.
Eis, assim, uma pequena resenha histórica sobre a gestação e o nascimento do nosso querido estado. Revendo os esforços de tantos homens inteligentes e empenhados pelo sucesso da nossa terra e da nossa gente, podemos afirmar: o sonho foi realizado.
E Mato Grosso do Sul se destaca no concerto dos integrantes da nossa federação como um estado pujante, grande produtor de grãos, com uma pecuária forte, um parque industrial em plena expansão e um comércio ativo.
A nossa maior riqueza é, sem dúvida, a nossa população, constituída por brasileiros de todos os recantos da pátria e estrangeiros de várias partes do mundo, que aqui contribuem para a grandeza do nosso estado.
(*Heitor Rodrigues Freire – titular da cadeira nº 37 do IHGMS)
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Postado por: Heitor Freire (*), 10 Outubro 2023 às 13:00 - em: Falando Nisso