Semy Alves Ferraz (*)
Luiz Gushiken, mártir do ódio elitista
Por certo uma das maiores, senão a maior vítima literal do ódio de classes das elites medievais, alimentado e disseminado por meio de uma cobertura furibunda e histérica da mídia conservadora, foi o ex-deputado Luiz Gushiken, paradigma do novo sindicalismo brasileiro e um dos pilares do Partido dos Trabalhadores. Gushiken faleceu há um mês, depois de resistir corajosamente a um câncer tão virulento quanto a peçonha dos porta-vozes de aluguel das castas oligárquicas que teimam em ver o Brasil como extensão de seu patrimônio mal havido, e o bravo povo brasileiro como seus vassalos, destituídos de inteligência, vontade própria e de direitos.
A maledicência dos penas de aluguel – inconformados com sua competência singular, cordialidade proletária e impassibilidade nipônica – o condenou à pena capital por execração moral sem direito a defesa e sem ter havido sequer qualquer acusação formal contra ele, fosse no exercício de cargos públicos ou de sua estoica e reservadíssima vida privada. Além de sindicalista e parlamentar ético, Gushiken foi membro da direção nacional do Partido dos Trabalhadores, coordenador da lendária campanha presidencial de Lula em 1989 e, depois da eleição do Presidente Lula, seu ministro de Comunicação Social entre 2003 e 2007, quando pediu para ser exonerado por estar no alvo do tiroteio orquestrado pelos inimigos sob o pretexto de elucidar as teias do emaranhado batizado de “mensalão”.
Filho de emigrantes da ilha de Okynawa, uma das regiões mais pobres do Japão, Gushiken concluiu seus estudos na Fundação Getúlio Vargas com a dignidade dos pais feirantes vendedores de pastéis, e por isso dava muito valor ao trabalho e à probidade na gestão pública. Essa, aliás, deva ter sido a principal razão da ira das famílias proprietárias das grandes empresas jornalísticas brasileiras, que, no início do governo do Presidente Lula, o tiveram como interlocutor, acabando com a farra até então reinante da malversação dos recursos públicos destinados para a publicidade. Ao instituir a negociação coletiva para a celebração de contratos de publicidade, Gushiken extinguiu privilégios reinantes do tempo da ditadura, um verdadeiro monopólio das verbas de publicidade que alimentava as benesses de algumas famílias pretensamente donas de feudos na comunicação brasileira.
Na Assembleia Nacional Constituinte de 1988, ao lado do então deputado Lula, Gushiken deu provas cabais de seu tirocínio nas articulações parlamentares e sobretudo de sua lealdade classista, tendo sido responsável por inúmeras vitória consignadas na Constituição Federal de 1988. Embora agisse com desenvoltura diante dos holofotes, preferia atuar com singular maestria nas costuras políticas, até para não tirar o brilho das estrelas maiores do Partido dos Trabalhadores. Sem correr o risco de cometer qualquer injustiça com outros baluartes da esquerda brasileira, Gushiken, se não tivesse optado pelo ostracismo por não prejudicar a reeleição do Presidente Lula durante a virulenta campanha difamatória perpetrada contra ele em 2007, teria sido um potencial candidato presidencial em futuros embates eleitorais. Capacidade, experiência e desenvoltura para tanto ele possuía, tanto que generosamente colaborara em todas as campanhas presidenciais do Partido.
Com a prematura saída de cena de Luiz Gushiken, perde não só a esquerda, mas a nação brasileira um grande brasileiro, um grande cidadão, que generosamente deu o de melhor de si para o resgate da dignidade do povo brasileiro. Sua incansável dedicação, sua sábia conduta e seu generoso intuir farão falta na longa construção da sociedade fraterna pela qual lutou tanto, e cujo digno legado tem atestado, a despeito de tanta execração pública por aqueles que desconhecem a real dimensão da palavra ética. Quantos Gushiken serão necessários para saciar a sanha das elites peçonhentas que saquearam e insistem em saquear o povo brasileiro em pleno século XXI?
(*Semy Ferraz é engenheiro civil e secretário de Infraestrutura, Transporte e Habitação de Campo Grande)
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Postado por: Semy Alves Ferraz (*), 21 Outubro 2013 às 10:30 - em: Falando Nisso