Lei Solitária Raquel Correia (*)

Lei Solitária

13 de maio e um monte de “blá blá blá”. Porque será que para tantas pessoas isso não significa muita coisa? Fato é que não houve um homem ou mulher boazinha que decidiu que seres humanos nasceram para serem livres... Não, nada disso. Houve uma guerra, um povo que sabia quem era, um povo que sabia o que queria, um povo que lutou por aquilo que acreditava, que apesar das cadeias imposta, a liberdade era discutida amplamente em grupos, e internamente, dentro de cada um, porque a liberdade é algo inerente ao ser humano.
 
A quem queremos enganar?  Dos africanos deportados as Américas, o Brasil recebeu cerca de 40% deles, ou seja, foi o mais beneficiado nesta atrocidade, foi o último a instituir a abolição, e é o que menos reconhece uma divida, diga-se de passagem, impagável.
 
É lamentável ver hoje que parlamentares sem nenhuma informação teçam comentários, e até discursos calorosos contra politicas públicas reparatórias, como a política de cotas, por exemplo, sob o argumento malfadado e cheio de contradição, onde promovem o racismo dizendo que o próprio negro é racista, conversa fiada, conversa de quem não sabe o que falar.
 
Os índices são alarmantes, e falam por si só, a uma grande discrepância entre a renda mensal per capita entre brancos e negros, a população negra tem salários muito mais baixo, e são os que menos têm acesso à educação, ao mercado de trabalho... E o quê estamos fazendo? Apenas discurso, admitamos. 
 
É preciso hoje entender o significado de reparação dentro deste contexto, para que não se cometa erros que no futuro se transformem em injustiças, porém as políticas reparatórias são necessárias, poderíamos aqui refletir o porquê de vitimas e de familiares do período da ditadura serem indenizadas, ora, muito justo, eles foram vitimados pelo próprio governo, através de leis arbitrarias, e eu te pergunto, e a população negra, não foram vítimas deste mesmo governo? Meus caros, a escravidão foi regulamentada por um governo arbitrário, desumano e preguiçoso.
 
Como estão hoje as mulheres e homens, jovens e crianças negras em um país como o nosso que grita  “NO BRASIL TEMOS UMA DEMOCRACIA RACIAL” ? Os índices assustadores relatam como estamos mais de cem anos pós-abolição, não é preciso ser um cientista social para identificar erros grosseiros, que nos coloca na situação atual. 
 
Lei áurea, uma lei solitária, não conseguimos concluir o processo de abolição da escravatura, na verdade não houve nenhum interesse. Naquele momento o que se havia era uma tentativa de embranquecimento, ato que reafirma o pensamento de supremacia racial, e este mesmo pensamento levou uma população rica em conhecimento e trabalho serem marginalizados, o que reflete fortemente ainda hoje e impede a ascensão de um povo, um povo que escreveu uma parte importante da história de crescimento de um país, um povo que contribuiu fortemente para cultura desta nação, um povo que constitui a própria nação, somos hoje 51% da população brasileira. 
 
(*Raquel Correia, de Campo Grande MS, é escritora, bacharel em Direito e pós graduando em Políticas Públicas e Gestão de Pessoas)
 


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Postado por: Raquel Correia (*), 09 Maio 2015 às 16:00 - em: Falando Nisso


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