Leonardo Avelino Duarte (*)
Lá se vão esses inacreditáveis idos de março…
A política é um mundo muito mesquinho. Ela substitui os fatos reais pelas versões. Tudo se converte na luta pelo poder. A objetividade dos julgamentos dá azo a paixão da opinião. Onde há o interesse público, enxerga-se um instrumento para o poder. Parece não haver amizades, e sim interesses. Quem não compartilha da sua opinião torna-se seu inimigo.
Entre o juiz que publica notas de agradecimento à sociedade, e se preocupa com a opinião pública e publicada, e a presidente que nomeia amigos para se libertar da prisão, escolho a nenhum dos dois.
Entre o órgão acusador que usa de conduções coercitivas e de delações premiadas de gente presa antes do julgamento, e de diretores de estatais apontados politicamente, encarregados de roubar para abastecer a campanha para partidos políticos, escolho a nenhum dos dois.
Entre a direita arrogante e radical, que nunca bem aceitou operários e socialistas na presidência, e que hostiliza políticos e artistas de linha ideológica contrária nas ruas, restaurantes e aeroportos, e de uma esquerda também arrogante, ultrapassada, incapaz de aceitar seus próprios defeitos, que mentiu deslavadamente para ser reeleita, escolho a nenhum dos dois.
Se tiver que escolher entre um Bolsonaro e um Dirceu, prefiro a nenhum dos dois.
Se tivesse que escolher, eu provavelmente escolheria impichar quase todos os presidentes que tivemos, e certamente essa presidente também. Mas se tivesse que escolher, escolheria um motivo jurídico mais sólido do que derrapadas fiscais.
Sorte que eu não tenho que escolher. Quero mais é que este caos acabe logo, que tudo melhore o mais rápido possível. O país está abandonado aos monstros da inflação, da recessão, do radicalismo e do justicialismo.
Somos todos coxinhas. Somos todos petralhas. Temos que melhorar. Precisamos melhorar. Esse Estado é nosso fiel retrato enquanto sociedade. Foram todos eleitos democraticamente. Todos os partidos tem gente séria e gente não-séria, sendo que o largo manancial da corrupção no Brasil infelizmente abasteceu a todos, provavelmente desde as caravelas. E, mesmo sabendo disso, quero, por apego a civilidade mesmo, que todos tenham direito a defesa antes de serem crucificados pelos jornais, pela TV e pela opinião pública. Afinal, os meios não justificam os fins, e ainda deve haver gente justa por aí. Acima de tudo: quem pensa diferente de mim não é meu inimigo. Pode, inclusive, se tornar um grande amigo.
Entre a política e os ipês, eu prefiro os ipês. Agora em abril eles devem começar a florir.
(*Leonardo Avelino Duarte é advogado e ex-presidente da OAB-MS)
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Postado por: Leonardo Avelino Duarte (*), 31 Março 2016 às 15:00 - em: Falando Nisso