Jovens tardes briguentas de Campo Grande...

Do acervo de Edson Contar para o Marco Eusébio in Blog www.marcoeusebio.com.br
Jovens tardes briguentas de Campo Grande...
Em uma "domingueira" do Rádio Clube de Campo Grande em 1954 na foto acima, da esquerda para a direita sentados Nelson Corrêa, Uriel Raghianti, Julio Nimer (atrás), Abdala Jalad, Benjamim Corrêa da Costa, Alfredo Scaff e Edson C. Contar. Em pé: Nicola, Ivon Moreira do Egito Fº, Salomão Ortiz, Sebastião Jorge Figueiredo e Felix Pedra. Um desses personagens, descendente do fundador da cidade, o jornalista e escritor Edson Contar, adaptou as reminiscências dessa época no artigo abaixo e enviou com a foto acima para deleite dos leitore(a)s da seção Garimpando História do Blog...

...Edson Contar(*)

Guerra & Paz - Nossa Juventude Briguenta (I)

Nos anos cinquenta, ninguém cheirava trigo, nem fumava folha de mandioca pra ficar valente. Rachas eram outra coisa e energéticos eram gemada, emulsão de scott e vinho reconstituinte Silva Araujo. Vai daí que a moçada era sadia e, pra descarregar energia, nada como uma boa briga, fosse por ciúmes, por ofensa às mães ou pelo simples prazer de brigar. Simplesmente, brigar!

Muitas vezes, a coisa começava do nada. Havia os especialistas em promover encrencas, provocando um lado e outro, atiçando (como se dizia à época) só pra ver o circo pegar fogo...

Bastava riscar o chão e dizer para os contendores:

- “Quem for mais homem, pisa aqui!”

Era o bastante para começarem os empurrões e dai pros socos e a platéia fazia uma roda, torcendo pra ver alguém sangrar pelo nariz.

Um dos palcos das grandes brigas, em Campo Grande, era o Rádio Clube...

No meu tempo, lembro-me da célebre briga do Arizinho Coelho de Oliveira com aspirantes Exército que aqui serviam e tomavam nossas namoradas. Ary, contando com o seu protetor, meu irmão Laurindo, enfrentou uma dúzia deles e acabou envolvendo todo mundo num bafafá que foi parar no meio da rua. Alí, Laurindo, enlouquecido com tanto murro que levava, acabou desferindo um direto em meu outro irmão, Eduardo, fantasiado de morcego negro, julgando ser um agressor que chegava pelas suas costas. Eduardo foi a nocaute e o valente Laurindo danou chorar que só...Arizinho subiu num jipe e derrubou o resto.

Outra refrega memorável, aconteceu na quadra de esportes, quando jogávamos contra o XV de novembro  uma partida de basquete. Os amigos Ecycles Ferreira e o brigão Uriel Raghianty se desentenderam e a turma da cizânia aproveitou pra botar lenha na fogueira. Começou ali, a mais longa briga que conheci até os dias de hoje. A luta foi parar na praça que ainda era mato e tinha uma clareira no meio. Brigaram por quase uma hora, sob aplausos dos sádicos torcedores. A certa altura, cansados e arrebentados, resolveram interrromper o combate, marcando para o dia seguinte, no mesmo horário e lugar, a continuação da briga que durou três dias e, ao final, abraços ensanguentados dos dois. Entenda quem puder. O Uri era um "rixoso juramentado" e, ao mesmo tempo, amigão sentimental.

E os irmãos Rondom? Saiam da frente!... João, o mais velho, arrumava encrenca e Lino, o mais novo entrava com tudo, arrasando a arrumação do clube e provocando uma briga generalizada que acabava em filas na Santa Casa, para curativos em geral. Eram muito bons de briga os “leões do Sena”.

Jayme Pimentel e seu irmão e escudeiro Rubens (Rubão) era outra dupla do barulho. Jaynme arrumava as brigas e o Rubão era quem segurava a bronca. Foram muitos os quebra-quebra promovidos pelos meninos no Rádio Clube, mesmo enfrentando a rígida educação imposta pelo pai, o saudoso professor Pimentel.

Fora dali, o mais encrenqueiro que conheci foi o Omar Raslan. Magrelo, pequeno e de pavio curto, encarava tudo e todos pra desespero do professor Nagib e tia Latife . Num verdadeiro ritual masoquista, Omar ia, diáriamente, até a praça (hoje chamada de Ary Coelho) que ficava em frente a sua casa e lá procurava uns engraxates com os quais tinha rixa antiga. Todos os dias, lá ia o Omar, xingar, provocar, até levar uma surra de seis “inimigos” e saia correndo, feliz da vida: - “Apanhei mas bati também!” dizia. Acreditem ou não, ele ainda arrumava tempo para ir ao Circulo Militar e lá arrumar mais uma briguinha, com o Ernani Figueiredo, e outros.

Certa vez, arrumamos rixa com alguns sargentos da Polícia do Exército, a temida PE. Resolvemos ir até a União dos Sargentos levando conosco o super Alfredo Scaff, fortão, enorme e bom de briga. Tudo pelo Omar!Resultado: o Scaff se mandou pra um canto e ficou rindo ao ver a gente levar tanta bolacha. Omar acabou desmaiado sobre uma bicicleta. Eu, Mujiquinha e Clodoaldo descemos ladeira abaixo, em frangalhos. 

Outros brigões célebres foram Walmir Floriano de Araujo, que não levava desaforo pra casa, chegando a enfrentar uma turma liderada por um italianinho que veio afrontá-lo, acompanhado de quatro amigos. Ia ser a maior surra , não fosse a interferência do irmão Waldir S Pereira Jr, que botou ordem no galinheiro e desafiou que apenas um deles enfrentasse o Walmir. Ninguém se habilitou e todos se salvaram. Walmir era outro que não aceitava um simples olhar de alguém... -"Tá olhando o que????"... Pronto, ninguém mais segurava!

O importante é que todos esses brigões acabaram se tornando adultos responsáveis, pais de familia e profissionais de destaque na cidade, calmos, inteiros, corretos e de boa paz!

Depois tem mais...O espaço acabou mas vem mais brigas por aí!

O Ministério da Saudade Adverte!...Brigar faz bem à saúde!

(*Edson C. Contar é jornalista e escritor, em Campo Grande-MS - reportur@yahoo.com.br)

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Postado por: Marco Eusébio, 09 Abril 2011 às 13:07 - em: Garimpando Historia


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